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O sacrifício que Temer pede

Em áudio vazado, vice prega distensionamento político e acena com a apresentação de reformas em caso de o impeachment passar pela Câmara

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Por Ricardo Brito e Adriana Fernandes
Atualização:

(Michel Temer/André Dusek-Estadão) Foto: Estadão

A despeito das reais motivações e implicações políticas da divulgação de áudio nessa segunda-feira, o vice-presidente Michel Temer apresentou uma série de vacinas contra a pressão que já sofre sobre como governaria o País em caso do plenário da Câmara admitir a abertura do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff no domingo (17). Na gravação, ele diz que serão necessários "sacrifícios" iniciais da população e acenou com a realização de reformas em sua eventual gestão, desde que elas não mudem direitos.

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Num discurso de distensionamento político - ao contrário do que vem sendo alardeado por aliados de Dilma -, Temer usou três palavras de ordem para buscar uma redefinição no tabuleiro político e econômico do País, apelando na retórica para um governo de salvação nacional: diálogo, compreensão e sacrifício.

Por diálogo, o vice pretende buscar todos os partidos (será que o PT na oposição também?), setores produtivos e trabalhadores a fim de buscar a construção de consensos diante de reformas. Sugeriu discussões nas legislações previdenciária e trabalhista (sem detalhá-las) e uma reforma tributária que debata uma anistia ou perdão de parte das dívidas ou dos juros pagos pelas unidades da Federação.

Temer também admite uma revisão da fórmula concebida pelas gestões petistas de uso do Estado brasileiro como indutor exclusivo do crescimento econômico. Ao reconhecer que o Estado "não pode tudo fazer", atendo-se às áreas de saúde, educação e segurança, ele disse que a gestão pública depende, sim, da atuação dos setores produtivos do País.

"É claro que nós vamos incentivar enormemente as parcerias público-privadas na medida que isto pode trazer emprego ao País", disse Temer, adiantando a necessidade de levar adiante as PPPs, ações que têm sido defendidas desde o ano passado pelo hoje presidente em exercício do PMDB, o senador e economista Romero Jucá (RR).

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Num aceno social, o vice defendeu vagamente a restauração da confiança para a retomada da criação de empregos no País e, respondendo a críticas de petistas, foi assertivo ao dizer que programas como o Bolsa Família não serão encerrados em sua eventual gestão.

O vice afirmou ainda não querer criar expectativas falsas de que, numa mudança de governo, em até quatro meses tudo estará resolvido - esse é o discurso que vinha sendo alardeado reservadamente por aliados diretos dele. A intenção de pessoas próximas é encaminhar no período em que Dilma estiver sendo julgada pelo Senado, após o afastamento, saídas para a crise numa espécie de governo de transição.

Horas após a divulgação do áudio, o governo sofreu uma derrota maior do que esperava na votação da comissão do impeachment. Ao mesmo tempo em que há sinais de retirada de apoio de partidos da base de Dilma, o vice e aliados dele têm articulado nos últimos dias para chegar na votação em plenário com 380 votos - 342 é o número mínimo.

Temer ressalvou na gravação que a palavra final é do Senado, Casa presidida pelo peemedebista desafeto histórico dele, Renan Calheiros (AL), e a quem cabe julgar Dilma. Renan, que titubeia entre Dilma e Temer, já disse a interlocutores que, se o pedido chegar ao Senado, não terá como segurar.

As vacinas de Temer para as dificuldades futuras - na economia e na política - estão lançadas. Ele parece atuar para assumir com um mínimo de consenso, embora Dilma e aliados queiram batizar o áudio como a comprovação de que Temer seja um conspirador. Daqui a seis dias se saberá se a cartilha do vice dará o primeiro passo para ser efetivamente implementada.

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