Jornais enfrentam desafio multimídia

Algumas questões essenciais sobre o futuro das empresas jornalísticas, que precisam ser revistas com urgência, envolvem as pessoas e a percepção desse negócio, que não se alterou em quase 400 anos de existência. Embora as discussões, no momento, se concentrem em descobrir maneiras de "cobrar" pela versão online dos jornais, o que deveria também atrair os esforços dos executivos do meio é a mudança de mentalidade de quem faz o produto

PUBLICIDADE

Por Marili Ribeiro
Atualização:

Em síntese, essa é uma das principais mensagens da apresentação de Earl Wilkinson, diretor-executivo e CEO da International Newsmedia Marketing Association (INMA), na abertura do seminário internacional de jornais. O evento da INMA reúne, desde ontem em São Paulo, executivos de empresas da América Latina para mais uma edição de debates sobre as transformações que vive o setor a partir da entrada em cartaz da era digital.

PUBLICIDADE

A maior preocupação dos executivos do setor tem sido achar soluções que recuperem a rentabilidade perdida desde que os jornais começaram a assistir à migração de seus leitores para canais online de notícias. As versões impressas perdem assinantes e anúncios. Um ambiente que compromete a manutenção de equipes de cobertura.

Nos últimos meses, o assunto que domina as conversas do meio vem sendo o modelo adotado pelo diário americano The New York Times, que oferece conteúdo gratuito (20 matérias por mês) e cobra para que os leitores tenham acesso a todo o conteúdo do jornal.

Wilkinson lembra que poucos jornais se equiparam ao diário americano em termos de tradição e leitores fiéis de longa data. "Os que não têm um jornalismo pelo qual os leitores se dispõem a pagar não conseguem ter um número suficiente de assinantes online", explica ele. "Parece que estamos vivendo uma nova 'civil war' (a guerra que dividiu o povo americano ao meio), há os que acham certo e os que acham errado o sistema do paywall (muro de cobrança adotado pelo Times). Devemos mudar o debate. A chave desse negócio está em difundirmos a percepção de que o jornal é mais que um simples produto, é uma inspiração. "

Catedral

Publicidade

Para Wilkinson, o que chama de clima de "catedral do pensamento", que marcou gerações de jornalistas, acabou e deve mudar. Os jornais são agora empresas multimídia que têm uma cultura diferente do ambiente das antigas redações. Uma boa história apurada pela equipe de jornalistas deve entrar primeiro no smartphones, depois no portal online, para chegar com outra versão à edição do tablet e, só então, receber um tratamento para a versão impressa.

"Precisamos reconstruir a maneira de trabalhar nesse negócio dentro das redações, onde ainda há muita resistência por parte dos antigos jornalistas do impresso", enfatiza ele. "A Procter & Gamble não vende xampu, mas um produto capaz de dar brilho aos cabelos e tornar as pessoas mais atraentes. Nós não produzimos simplesmente notícias - até porque isso virou commodity no mundo online -, nós produzimos conteúdo que difundem ideias e inspiram a vida das pessoas. Por isso, os leitores se dispõem a pagar."

O que traz valor para essa indústria é o que deveria permear a atitude do meio. Olhar mais para o marketing da empresa e promover eventos e seminários com a marca do jornal estão entre as alternativas complementares que ele vê para o futuro do negócio. "É preciso avaliar se a empresa tem outros ativos que possam ser mais lucrativos do que simplesmente implementar a cobrança online", recomenda Wilkinson.

O encontro do INMA segue hoje no Hotel Renaissance com mais uma rodada de discussões.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.