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Pesquisa aplicada no dia a dia (FGV-EESP)

Opinião|Trump e a economia mundial

O mundo lamenta a miopia oportunista de Trump, e torce que outros países não reajam na mesma direção

Atualização:
Trump assume presidência dos EUA com proposta nacionalista 

Vladimir K. Teles

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Donald Trump vai assumir o cargo de presidente dos EUA nesta semana com uma proposta bem clara: proteger o emprego e aumentar o salário do trabalhador americano de escolaridade mais baixa. Para tanto, diversas políticas são sugeridas, incluindo combate à imigração, aumento do protecionismo, e combate ao offshoring, que consiste em punir com mais tributos empresas americanas que produzem em outros países.

Tais políticas foram apresentadas como proposta de Trump para reerguer o cinturão da ferrugem, que inclui os estados americanos que sofreram com a decadência industrial americana no final do século passado, e com isso venceu as eleições. A reforma tributária por ele sugerida implica em aumentar os impostos sobre importação e sobre o offshoring. As questões que surgem são: Tais políticas serão bem-sucedidas? Quais os impactos sobre a economia mundial, e logo, sobre o Brasil?

Para avaliar se a política será bem-sucedida deve-se avaliar qual o seu objetivo e o prazo previsto para sua avaliação¹. No curto prazo, a tendência é aumentar os salários dos menos qualificados à medida que a competição pela mão de obra aumenta. Com a provável queda de importações, empresas menos produtivas tendem a se estabelecer, aumentando a demanda pelos trabalhadores menos produtivos.

Ao mesmo tempo, a desigualdade tende a diminuir no curto prazo por uma razão perversa: Os mais produtivos em geral são melhor remunerados em uma economia mais aberta. Quando uma economia passa por um processo de abertura, há uma mudança no preço relativo dos produtos da economia, favorecendo os produtos em que o país tem vantagens comparativas. Assim, os trabalhadores devem se adaptar para se reposicionar na nova estrutura de mercado. Os trabalhadores mais habilidosos se adaptam mais facilmente e tendem a receber maiores salários. No caso de uma economia se fechar, tais ganhos são perdidos, e a desigualdade de salários diminui.

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Por outro lado, no longo prazo tais políticas cobram seu custo em termos de eficiência e perda de produtividade. A queda da competição reduz o incentivo em investir em novas tecnologias e a produtividade passa a crescer mais devagar. Outrossim, as empresas americanas que são forçadas a evitar o offshoring passam a contratar menos trabalhadores não-qualificados ao terem de se manter nos EUA, e consequentemente a inovação passa a ser mais direcionada a trabalhadores mais qualificados, aumentando a desigualdade no longo-prazo.

A economia americana tende a sofrer uma queda no seu crescimento de longo-prazo e um aumento de desigualdade. Assim, tais políticas podem apresentar sinais de algum sucesso no curto prazo, mas são resultados com data de validade.

E a economia mundial? Com tais políticas, há uma redução da eficiência na alocação dos recursos na produção mundial, reduzindo a produtividade global. A China, especialmente, por ser a maior receptora do offshoring americano, pode sofrer mais. Ao mesmo tempo a China é uma grande fonte de demanda por commodities. Assim, um impacto negativo na economia chinesa repercute negativamente nos países emergentes, ao sofrerem um baque nos termos de troca.

O mundo lamenta a miopia oportunista de Trump, e torce que outros países não reajam na mesma direção.

*Vice-diretor da FGV/EESP e pós doutor em economia pela Harvard University

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¹A discussão a seguir baseia-se nas evidências empíricas obtidas e nas considerações teóricas sobre a relação entre comércio internacional e desigualdade apresentadas em:

Acemoglu, D, G Gancia, and F Zilibotti (2014), "Offshoring and Directed Technical Change", American Economic Journal: Macroeconomics.

Grossman, G. M., Helpman, E., & Kircher, P. (2017). Matching, Sorting, and the Distributional Effects of International Trade. Journal of Political Economy.

Helpman, E., Itskhoki, O., Muendler, M. A., & Redding, S. (2016)Trade and Inequality: From Theory to Estimation. Review of Economic Studies

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