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Professores do ensino público dirigindo Cadillacs

Jonathan Cohn nos diz que os funcionários do setor público são as novas rainhas do bem-estar social. E como: sempre que tentamos falar a respeito do apuro fiscal que afeta os governos estaduais e municipais, provocamos estridentes denúncias contra os sindicatos e seus insanos pacotes de remuneração.

Por Paul Krugman (The New York Times)
Atualização:

Mas até que ponto isso é verdade? Em média, os funcionários dos governos estaduais e municipais recebem um salário melhor do que os trabalhadores do setor privado - a diferença é de 13%, de acordo com esta análise de John Schmitt. Mas, como mostra Schmitt, essa é uma comparação entre maçãs e laranjas: os funcionários estaduais e municipais têm formação muito superior e são um pouco mais velhos do que os trabalhadores do setor privado e, uma vez que essa correção é feita, o resultado da comparação parece ser o contrário.

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Acho que a maneira mais fácil de se pensar neste assunto é perceber que metade dos funcionários dos governos estaduais e municipais é composta de professores e administradores acadêmicos - o que significa que são trabalhadores dotados de diploma superior, no mínimo. Pense um pouco: quantos jovens ambiciosos dizem hoje "Meu objetivo na vida é ser professor do ensino médio - isso me garantiria uma vida fácil"?

É verdade que bombeiros e policiais recebem pacotes de remuneração consideravelmente generosos; é verdade também que estes trabalhadores salvam pessoas de prédios em chamas.

E eis aqui uma argumentação que ainda não vi em outros comentários: mesmo se acreditarmos que o resultado dos cálculos corrigidos pela idade e pelo nível de educação esteja errado e que os funcionários públicos sejam mais bem pagos do que "deveriam" ser, qual é o tamanho da diferença que isso faria? Fui atrás dos dados censitários sobre as finanças estaduais e municipais e encontrei o seguinte quadro da composição dos gastos governamentais, excluída a esfera federal:

 Foto: Estadão

Uma diferença de alguns pontos porcentuais a mais ou a menos na remuneração dos trabalhadores não representaria uma grande mudança nos gastos estaduais e municipais. Trata-se de um falso problema.

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E o mesmo pode ser dito, é claro, das rainhas do bem-estar social.

Atualização: Alguns comentários ao texto acima fizeram alusão a grandes obrigações previdenciárias para as quais os recursos são insuficientes. Dois dados: em primeiro lugar, o fato de os governos estaduais e municipais não estarem fazendo contribuições suficientes para os fundos de pensão não nos diz nada a respeito de uma possível remuneração excessiva dos trabalhadores. Devemos levar em consideração que, como destacado por Cohn, muitos funcionários do governo não participam da previdência social. Em segundo lugar, uma "obrigação de um trilhão de dólares" precisa ser devidamente contextualizada: os governos estaduais e municipais gastam US$ 2,8 trilhões por ano. Se compararmos as obrigações do fundo de pensão ao gasto total de um período equivalente, digamos, ao tempo de vida que resta a esses trabalhadores, veremos que existe um problema de verdade, mas nada que não condiga com a minha afirmação de que esses problemas de remuneração foram extremamente exagerados.

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