PUBLICIDADE

Quanta vaidade

Cada um à sua maneira, Jonathan Chait e Robert Waldmann destacam o funcionamento de uma dinâmica crucial presente no debate político americano: o quanto as figuras públicas podem ser castigadas por demonstrarem realmente saber do que estão falando.

Por Paul Krugman (The New York Times)
Atualização:

Funciona assim: a pessoa A diz "o preto é branco" - talvez por pura ignorância, mas, na maioria das vezes, como tentativa deliberada de confundir o interlocutor. A pessoa B diz "não, o preto não é branco - eis os fatos".

PUBLICIDADE

E a pessoa B é considerada a perdedora do debate - por ter transmitido uma impressão de arrogância e superioridade.

Tenho de admitir: eu esperava que a experiência dos americanos com George W. Bush - que só se tornou um candidato sério à Casa Branca precisamente porque Al Gore foi castigado por mostrar que realmente sabia das coisas - tivesse curado nosso discurso desse mal. Parece que não. Por que isso não aconteceu?

Chait se diz perplexo com a insegurança intelectual da direita. Eu não me surpreendo tanto assim. Enxergo as coisas da seguinte maneira: em nossa cultura política atual, o ruído de fundo é marcado por chavões conservadores. As pessoas que têm fortes convicções políticas, mas são intelectualmente indiferentes, apresentam a tendência de repetir esses chavões na crença de que isso as faz parecer inteligentes. (Ezra Klein certa vez descreveu Dick Armey da seguinte maneira: "Ele é como a imagem que uma pessoa burra faz de uma pessoa inteligente.")

Então, inevitavelmente, essas pessoas reagem com raiva quando são desmentidas ou têm seu raciocínio questionado - isso é encarado como um ataque pessoal à sua honra.

Publicidade

Mas o mais triste é que boa parte da mídia reproduz essa dinâmica. Esse é o argumento de Waldmann. Seria realmente de se esperar que a experiência com o presidente Bush levasse os repórteres a fazer uma pausa crítica - que ao menos perguntassem a si mesmos "o meu trabalho não é apurar se um político está certo, em vez de determinar qual a impressão que ele transmite?"

"Mas, nããããããão!", como diria o personagem de John Belushi.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.