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A tecnologia precisa ser necessária

No festival Lions Innovation, antropóloga digital diz que internet das coisas ainda não ganhou escala porque ‘precisa de uma geladeira falante’

Por Economia & Negócios
Atualização:
 Foto: Estadão

Fernando Scheller /ENVIADO ESPECIAL

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Uma geladeira que fala é uma das propostas da internet das coisas, que vem sendo vendida como a "próxima fronteira" do mundo da tecnologia. Na visão da antropóloga digital Amber Case - eleita como uma das mulheres mais influentes do setor pela revista 'Fast Company' -, a proposta de conectar os aparelhos mais mundanos da vida diária pode não decolar. E por um só motivo: o ser humano sabe quando uma banana está estragada e não precisa que a tecnologia faça isso por ele.

Ao participar do Lions Innovation, evento do Cannes Lions - Festival Internacional de Criatividade dedicado à tecnologia, Amber lembrou que muitos dos novos aparelhos que estão sendo desenvolvidos não levam em conta que o usuário está farto de ser interrompido. O Estadão é o representante oficial de Cannes Lions no País.

Ou seja: se a pessoa já recebe alertas de e-mail, WhatsApp e Facebook no telefone celular, para que ela vai querer um relógio supostamente inteligente para repetir todas essas mesmas informações? "É preciso reduzir a quantidade de informação", propõe. "A quantidade ideal de tecnologia na vida de uma pessoa é a mínima necessária."

Uma das propostas de Amber para mudar o quadro e salvar a internet das coisas de seu fracasso é a aplicação do "design calmo" aos produtos que forem lançados nos próximos anos. Entre as inspirações para as novas invenções, ela propõe o exemplo do Roomba, o aspirador de pó esférico, que emite apenas um sinal quando termina de limpar um cômodo.

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Eficiência. Para se comunicar com o ser humano, um produto não precisa falar: ela cita a chaleira que apita quando a água ferve como um exemplo de "design calmo", pois cumpre sua função sem exigir quase nenhuma atenção do usuário. Para provar que a chaleira é um objeto eficiente, ela pôs uma venda em um participante na palestra e pediu para que, sem enxergar, ele dissesse quando seu chá estivesse pronto. Ele ouviu o apito e levantou a mão.

A tecnologia desnecessária também é uma fonte de frustração. Por isso, segundo Amber, a tendência é que as pessoas consigam separar mais rapidamente as inovações reais das descartáveis - que só vão ser fonte de perda de tempo e dinheiro. "Não existe meio termo na tecnologia: ou se usa algo ou não se usa. E a gente se sente culpado por ter gasto US$ 300 em algo inútil."

Marketing. Presidente da agência Hacker, especializada em tecnologia, Haydn Sweterlitsch, diz que o "design calmo" permite que funções sejam adicionadas a um determinado produto sem que o usuário seja desviado de sua atividade principal. "Os painéis de carro são um bom exemplo. Eles permitem que o motorista use outras funções com o mínimo de distração."

Segundo Sweterlitsch e Amber, o Echo, dispositivo residencial da Amazon, é um exemplo de um produto inovador que toma o cuidado de não "assaltar os sentidos" do usuário. Semelhante a uma caixa de som, o aparelho tem inteligência artificial embarcada e se comunica com o dono da residência por voz, ajudando-o a escolher uma playlist de músicas e a fazer listas de tarefas, por exemplo.

O desafio da boa tecnologia, segundo Sweterlitsch, reside em fazer mais com menos. "Quem hoje tem cerca de 40 anos, lembra-se bem da secretária eletrônica. Quando se chegava em casa, apenas uma pequena luz piscando já dizia muita coisa. Se havia recados, era sinal de que não estávamos sozinhos no mundo."

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