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Açaí gera renda e protege florestas na Amazônia

Fruta é vital para a economia de vários estados, especialmente Pará e Amazonas, onde a atividade sustenta populações costeiras como alternativa de uso sustentável de áreas verdes

Por blogs
Atualização:

EFE

Açaí na Amazônia: alternativa de renda ( Foto: Fernando Bizerra Jr.Efe)

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BELÉM - Uma pequena fruta de cor roxa escura, menor do que uma bola de gude e dona de infinitas possibilidades. Assim é o açaí, a fruta que alimenta centenas de comunidades vivendo no meio da Amazônia, algumas sem telefone, outras sem eletricidade, mas com recursos naturais para abastecer metade do mundo.

A associação Jauari, de Moju, a três horas de Belém do Pará, é uma das comunidades extrativistas que sobrevivem graças a este fruto, base de sua dieta e matéria prima com a qual empresas fabricam desde sabão e cosméticos até vinho e chocolate.

"As crianças se alimentam mais de açaí do que de leite", disse Creuza Maria Ferreira Lima, ao apontar o smoothie roxo que preparou. Na comunidade, Dona Creuza, como é conhecida, é uma autoridade no assunto, já que além de preparar este alimento para toda a aldeia, também faz artesanato com ramos secos do fruto.

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Colheita de açaí na Amazônia: geração de renda ( Foto: Efe)

Com 57 anos e dezesseis filhos, esta paraense sabe do que fala: "As crianças estão viciadas, por mais que tentemos dar outra coisa, elas só querem açaí", ri ela.

O alimento é rico em fibras, proteínas e antioxidantes, cresce em zonas úmidas e seu uso remonta à época pré-colombiana, embora o consumo tenha se difundido a partir dos anos 1990, quando a preservação da Amazônia voltou à pauta.

Ao lado de Dona Creuza, Cândida Ferreira Pereira, uma de suas filhas, enumera a infinidade de receitas locais que levam açaí nas quais a comunidade se tornou especialista, uma lista que tem smoothies, cremes, doces, sorvetes e até molhos de acompanhamento.

"Nós o usamos até ao comer carne", ele descreve. No resto do Brasil, a fruta da Amazônia é conhecida principalmente como um doce tomado geralmente na forma de sorvete ou sorbet.

No entanto, no meio da floresta essa fruta é vital para a economia de vários estados, especialmente Pará e Amazonas, onde a atividade sustenta populações costeiras, promovendo o aumento da competitividade e protegendo o meio ambiente do desmatamento.

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Como ocorre em muitas comunidades da região, o açaí é a espinha dorsal da economia das 35 famílias e cerca de 200 pessoas que moram atualmente nas margens do Rio Moju, pois todas elas se dedicam à sua extração.

Colheita de açaí na floresta: geração de renda ( Foto: Efe)

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Das sete às onze da manhã, evitando a umidade e o calor que assolam a região durante todo o ano, as famílias colhem açaí e levam a fruta para a margem do rio, onde a vendem aos comerciantes em barcos. Com sorte, cada família ganha cerca de R$ 800 mensais (cerca de US$ 3,13), mas, se o açaí cresce em abundância, o preço de cada lata, de cerca de 14 kg, cairá de R$ 50 para R$ 10 (de US$ 20 para US$ 4).

"Às vezes rende mais, às vezes menos, mas nunca falta o mínimo", diz o atual presidente da associação, Francisco José Ferreira Pereira, também filho de Dona Creuza.

Ferreira explica que a economia e a mentalidade dessa comunidade mudaram muito nos sete anos mais recentes, desde quando a empresa brasileira de cosméticos Natura propôs a eles comprar as frutas colhidas, como murumuru ou andiroba.

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Oficina de processamento: emprego na floresta ( Foto: Efe)

"Estamos aprendendo a pensar em termos de negócios", diz o jovem de 23 anos enquanto seu bebê de dois anos cambaleia entre suas pernas em meio ao aroma da fruta que se impõe no lugar.

"Antes, nossos pais venderam um tronco inteiro por R$ 7 (cerca de US$ 3). Aprendemos que, ao vender a fruta, a árvore continua de pé, e podemos da natureza e obter nosso lucro", diz. A próxima meta é "vender açaí a outras empresas, em vez de aos 'atravessadores' (nome dado aos comerciantes ribeirinhos)".

Enquanto os filhos falam, Dona Creuza observa atentamente a pensa e confessa que, antigamente, tinha que preparar tudo à mão: "era preciso deixar os grãos na água por horas até que amolecessem para que os pudéssemos moer"./Tradução de Augusto Calil

 

Alimento tradicional entre os moradores da floresta ( Foto: Efe)
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