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O chocolate vai acabar, alerta o maior fabricante do mundo

Consumo mundial não para de crescer e os produtores de cacau não conseguem aumentar a oferta no mesmo ritmo

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Atualização:

Roberto A. FerdmanBLOMBERG

Gigantes do setor alertam: vai faltar chocolate Foto: Estadão

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WASHINGTON - Não há maneira fácil de dar essa notícia: vocês estão comendo chocolate demais, todos vocês. E a coisa está ficando tão fora de controle que o mundo pode estar se encaminhando para um panorama potencialmente desastroso se a tendência não for detida.

Em linhas gerais, foi esse o recado de duas gigantes do ramo dos chocolates, Mars, Inc. e Barry Callebaut. E os dados parecem reforçar o alerta delas.

Os déficits de chocolate, situação na qual os agricultores produzem menos cacau do que o mundo consome, estão se tornando a regra. Já estamos no meio daquela que pode ser a maior sequência de déficits de chocolate consecutivos em mais de 50 anos.

Parece também que os déficits não estão apenas se acumulando ano a ano - a expectativa da indústria é que estes aumentem. No ano passado, o mundo consumiu cerca de 70 mil toneladas métricas de cacau além do volume produzido. As duas gigantes do ramo dizem que já em 2020 esse déficit pode chegar a 2 milhões de toneladas métricas.

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O problema passa pela oferta de cacau. O clima seco na África Ocidental (especialmente na Costa do Marfim e em Gana, onde são produzidos mais de 70% do cacau de todo o mundo) reduziu muito a produção na região.

Uma praga decorrente de um fungo chamado Moniliophthora roreri não ajudou a situação. A Organização Internacional do Cacau estima que a praga tenha eliminado de 30% a 40% da produção global de cacau. Por causa de tudo isso, o cultivo do cacau se mostrou um ramo desafiador e, como resultado, muitos agricultores passaram para gêneros mais rentáveis, como o milho.

E há também o insaciável apetite mundial pelo chocolate. É particularmente preocupante o apreço cada vez maior dos chineses pelo doce. A cada ano, a China compra mais e mais chocolate. Ainda assim, o consumo deles per capita ainda equivale a apenas 5% daquilo que um europeu ocidental consome.

O chocolate amargo também se mostra cada vez mais popular, e essa variedade contém muito mais cacau por volume do que as barras de chocolate tradicionais (a barra de chocolate média contém apenas 10% de cacau, enquanto as barras de chocolate amargo costumam conter mais de 70%).

Por essas razões, o preço do cacau teve alta de mais de 60% desde 2012, quando as pessoas começaram a consumir mais chocolate do que o mundo era capaz de produzir. Com isso, os fabricantes de chocolate tiveram que ajustar o preço dos seus produtos, encarecendo as barras. A Hershey's foi a primeira, mas as demais logo seguiram o mesmo rumo.

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As tentativas para deter o crescente desequilíbrio entre a quantidade de chocolate desejada pelo mundo e a quantidade que os agricultores são capazes de produzir inspirou algumas inovações muito necessárias.

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Mais especificamente, um grupo de pesquisa agronômica da África Central está desenvolvendo árvores capazes de produzir até sete vezes mais cacau do que as plantas tradicionais. Mas o aumento na eficiência pode prejudicar o sabor, diz Mark Schatzker, da Bloomberg. Ele compara a situação à de outras commodities produzidas em massa.

Há tentativas em andamento para tornar o chocolate barato e abundante - e, nesse processo, o doce acaba ficando tão sem sabor quanto os tomates comprados nas lojas de hoje, outro alimento que sacrificou o sabor em nome da abundância, como o frango e os morangos.

Ainda não se sabe se o consumidor vai se queixar do sabor mais fraco se isso mantiver os preços baixos. E a indústria não vai se importar com isso, desde que o risco de uma escassez monstruosa seja afastado./Tradução de Augusto Calil

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