Justin Wolfers
THE NEW YORK TIMES
A estatística é de tirar o fôlego: as 80 pessoas mais ricas do mundo possuem tanta riqueza quanto a metade mais pobre da população do planeta inteiro. Essa é a peça central da mais nova campanha da ONG Oxfam, lançada para coincidir com a chegada de muitos desses bilionários a Davos para o Fórum Econômico Mundial na semana passada.
Mas trata-se também de um excelente ponto para debate, pois dá a impressão que um punhado de felizardos está açambarcando uma enorme fatia dos recursos mundiais.
Mas não devemos nos iludir: a realidade é bem diferente. Um funcionário da Oxfam de capacidades retóricas menos desenvolvidas poderia ter escrito que as 80 pessoas mais ricas do mundo possuem cerca de 0,7% da riqueza global. É muita coisa, mas não parece tão impressionante.
Em vez disso, a chamada da Oxfam reflete o fato de que 3,5 bilhões de pessoas - em sua grande maioria nos países em desenvolvimento - praticamente não possuem riqueza nenhuma. Um bebê recém-nascido possui mais riqueza do que os 10% mais pobres do mundo, que estão todos endividados. E ninguém da metade mais pobre da população possui mais que US$ 3.650 em ativos.
Sim, os ricos vivem numa fartura notável. E, em todo o mundo, a riqueza é extremamente concentrada. Os 35 milhões de milionários do mundo possuem, juntos, 44% da riqueza global. O 1% mais rico da população mundial - incluindo os mais ricos de todos - possui 48% da riqueza global. Mas as 80 pessoas mais ricas do mundo são donas de apenas uma pequena fração desses 48%.
O apelo político de concentrar a raiva do público nos mais ricos de todos é óbvio. E seria ótimo se o problema da pobreza global fosse uma simples questão de convencer um punhado de pessoas a compartilhar. Infelizmente, o mundo em que vivemos não é assim.
* O autor é bolsista-sênior do Instituto Peterson de Economia Internacional e professor de economia e políticas públicas na Universidade de Michigan/Tradução de Augusto Calil
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