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'Concreto' de cannabis tenta ganhar mercado

Ex-analista de Wall Street cria empresa de construção que usa material à base de cânhamo

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FOTO: Alembic Studio / The New York Times Foto: Estadão

DO NEW YORK TIMES No furacão Katrina, as casas inundadas em Nova Orleans deterioraram-se por causa do mofo, e muitas delas são inabitáveis até hoje. Em seguida, com o terremoto do Haiti, milhares de pessoas morreram esmagados debaixo de sua próprias casas. James Savage, que na época trabalhava como analista em Wall Street e morava no Central Park West, ficou abalado com a destruição mostrada pela televisão e pelos jornais. "Deve haver algo que possamos fazer melhor do que isso que está aí", comenta, sentado à mesa da cozinha de sua nova casa, construída sobre um penhasco de onde se descortina o Rio Hudson, a 200 quilômetros ao norte da cidade de Nova York. A solução que lhe ocorreu não é um polímero da era espacial nem um composto reciclado, mas um material usado há milênios, embora nos EUA seja frequentemente demonizado. "Quem sabia que o cânhamo seria a resposta ao que estávamos procurando?", disse Savage, fundador de uma empresa de material de construção derivado da Cannabis sativa, a planta da maconha (hemp, em inglês). Agora que a planta proibida está sendo aceita pela opinião comum, Savage espera poder utilizá-la para fabricar vigas próprias para a construção civil. E materiais à base de cânhamo podem transformar também a agricultura e a construção em geral. A cannabis tem longa história como fibra utilizada na produção de cordas, velas e produtos de papel, mas Savage pertence ao número ainda limitado de empreendedores que optaram por uma nova aplicação conhecida nos EUA como hempcrete, concreto à base de cânhamo. Este concreto utiliza a parte interna do caule da planta, parecido com madeira balsa (a fibra usada na produção de tecidos está na sua parte externa) que é misturada com cal e água. Embora não tenha a estabilidade estrutural que seu nome pode sugerir, este concreto proporciona um isolamento natural totalmente hermético, no entanto respirável e flexível. Isento de toxinas, não é atacado pelo mofo nem por pragas, sendo praticamente refratário ao fogo. Na Inglaterra, algumas seguradoras oferecem atualmente desconto para a utilização do concreto de cânhamo em razão de sua durabilidade. Entretanto, é preciso lembrar que o cânhamo usado na construção não é uma droga. "Você pode fumar a quantidade que quiser do nosso produto e não ficará chapado", afirma Ken Anderson, cuja empresa, a Original Green Distribution, de Minneapolis, fabrica um concreto de cânhamo comercializado como Hempstone. A cepa cultivada para a produção do concreto contém apenas 0,3% do THC, o ingrediente ativo da maconha, enquanto as variedades alucinógenas e medicinais contêm de 5% a 10%. Savage tomou conhecimento do concreto de cânhamo numa simples pesquisa na internet. O material foi desenvolvido nos anos 1980 na França, mas suas origens remontam a vários séculos na Antiguidade, quando já era utilizado na construção de casas, como acontece no Japão, e de pontes merovíngias, na antiga Gália. Desde então, se espalhou por toda a Europa, onde o seu cultivo nunca foi considerado crime. Agora, é usado em centenas de construções, inclusive num edifício de escritórios de sete andares na França, numa loja de departamentos na Grã-Bretanha e até mesmo numa casa construída pelo príncipe Charles. Entretanto, as autoridades reguladoras federais continuam céticas, e a produção doméstica de cânhamo é praticamente inexistente. Seu emprego é legal, mas em geral não o cultivo. No momento, toda a matéria-prima deve ser importada; no ano passado, somente o Canadá vendeu cânhamo por US$ 600 milhões a empresas americanas. A maior dificuldade talvez seja a obtenção da aprovação de casas revestidas de cânhamo pelos órgãos fiscalizadores da construção. O concreto de cânhamo, porém, apresenta problemas peculiares, particularmente a necessidade de isolamento mais espesso do que os materiais tradicionais. Savage nunca conseguiu levar seu produto ao Haiti - ele acredita que os haitianos têm medo de possíveis problemas com a polícia americana - e uma iniciativa no Mali fracassou por causa de um golpe em 2012. Naquele mesmo ano, ele criou a sua empresa Green Bui, que dirige de seu escritório em casa, revestido de fibra de cannabis, e agora trabalha para a produção de painéis. Semelhantes a placas de drywall, sua comercialização e instalação seria mais fácil do que o concreto. Até o momento, seu único projeto foi a transformação de sua casa de fazenda de tijolos vermelhos em um laboratório de hemcrete, onde várias paredes foram isoladas com o produto, eliminando a necessidade de um sistema de ar condicionado. Savage afirma que até os quartos revestidos com o material tem odor diferente, embora não o cheiro que a maioria das pessoas esperaria. "É o cheiro de frescor", afirma. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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