Em abril, o dólar ocupou a liderança de rendimento do mercado, com valorização acima de 6%, e bateu a marca de R$ 3,50 na última sexta-feira. Ao que tudo indica, a moeda pode contar com mais gás para se manter firme no mês que começa
Ao lado de preocupações, no cenário internacional, com a alta dos juros americanos, por aqui as incertezas políticas também devem atuar na sustentação das cotações. Os investidores estão de olho nos potenciais candidatos à sucessão do presidente Michel Temer com mais chances de vitória em outubro para avaliar as propostas para a economia defendidas e tentar traçar o que seria a política econômica do novo presidente.
A influência mais direta das expectativas eleitorais sobre o mercado financeiro deve ficar para o segundo semestre, mas o fortalecimento, antes, de uma candidatura alinhada com as reformas econômicas, sobretudo da Previdência Social, tenderia a provocar uma resposta positiva dos mercados - com valorização da bolsa de valores e recuo do dólar. Um discurso que aponte um caminho contrário a esse e medidas populistas levaria a uma reação inversa, com queda nos preços das ações e alta do dólar.
No front externo, a expectativa crescente é que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) aumente o juro além do previsto. Isso para neutralizar eventuais focos de alta de inflação nos EUA, em um cenário de crescimento econômico mais vigoroso e desemprego em baixa. O temor com essa possibilidade já provocou uma elevação dos juros dos títulos do Tesouro americano de longo prazo, principal referência de taxas de juro nos EUA e no mercado internacional.
Juros americanos em alta fortalecem o dólar pelo mundo, como já ocorreu em abril, e tendem a atrair os capitais que circulam nos demais mercados para aplicação em títulos de renda fixa nos EUA. Se é assim, o dinheiro aplicado no mercado interno também tende a migrar para esses papeis, e a conversão dos reais para dólares para a saída dos recursos acaba por aumentar a procura, pressionando para cima as cotações da moeda americana.
A perspectiva de elevação dos juros americanos e as preocupações com o cenário eleitoral por aqui podem continuar dando gás ao dólar, que já mudou claramente de patamar e teria fôlego para avançar além de R$ 3,50. A menos que ocorra uma ação mais forte do Banco Central (BC) no mercado, com operações que consistem na oferta de contratos que equivalem à venda futura de dólar (swap cambial) com proteção contra variações cambiais.
Renda fixa
Um segmento que ainda permanece relativamente à margem das tensões políticas é o de renda fixa. O dólar em alta poderia pressionar a inflação e, por tabela, os juros, mas o otimismo do mercado com o comportamento dos preços está mantido, para este e o próximo ano.
A inflação oficial projetada para 2018, de acordo com o último boletim Focus, está em 3,49% e para 2019, em 4,03%. Previsões que encorajam uma previsão da taxa básica de juros, Selic, de 6,25% no fim deste ano e de 8% em dezembro de 2019.
Estimativas otimistas com a inflação levam analistas e economistas do mercado a apostar em novo corte da taxa Selic, em maio. A previsão é que ela caia do nível atual de 6,50% para 6,25% ao ano.
A reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) que definirá o rumo da taxa básica está marcada para os dias 15 e 16 de maio. Com uma Selic de 6,25%, a caderneta passa a render 4,38% ao ano ou 0,36 % ao mês.
Em abril
Quem apostou na valorização do dólar se deu bem em abril, já que a moeda americana liderou a lista das aplicações mais rentáveis do mês. Na segunda posição apareceu o ouro, com valorização de 4,2%. A Bolsa de Valores de São Paulo ficou em quarto lugar, com alta de 0,88%.
Na renda fixa, o risco de perda para a inflação parece ter crescido. O IGP-M de abril, embora não seja a medida da inflação oficial, ficou em 0,57%. A régua da inflação oficial, o IPCA, está com estimativa mais baixa, em torno de 0,28%. O resultado será conhecido na próxima semana.
Seja como for, se a referência for o IGP-M, comparado a ele o rendimento de fundos de renda fixa, de CDBs e caderneta terá sido negativo, quer dizer, não repôs ao patrimônio aquilo que foi corroído pela inflação.
Confira o desempenho das aplicações no mês passado de acordo com os cálculos do administrador de investimentos Fabio Colombo.
Ranking de abril
1 - Dólar - 6,03%
2 - Ouro - 4,21%
3 - Euro - 4,08%
4 - Bovespa - 0,88%
5 - Título Tesouro/IPCA - 0,52% a 0,62%*
6 - IGP-M - 0,57%
7 - Fundos DI - 0,45% a 0,55%*
8 - Fundos Renda Fixa - 0,45% a 0,55%*
9 - CDB - 0,40% a 0,50%*
10 - Poupança - 0,37% - líquido
11 - IPCA - 0,28% (estimado)
* Rendimento bruto