Novos negócios mantém mercado aquecido e podem fazer do
Brasil, ainda neste ano, o segundo maior consumidor nesse segmento
Cris Olivette O sonho de empreender de Claudio Alves Porto foi concretizado em junho de 2012, quando inaugurou o Bella Vista Esthetic Center. "Trabalhei 36 anos como enfermeiro e, ao completar 60 anos, realizei este desejo antigo. Estou adorando a vida de empresário, apesar da loucura que virou o meu dia a dia." Porto afirma que investiu R$ 300 mil no negócio levando em conta as boas perspectivas do mercado de beleza. "Identifiquei que a área de estética, até pelo envelhecimento da população, era uma boa opção. Afinal, a estética pode garantir a longevidade com boa autoestima." Sua estratégia é oferecer serviços com foco em nichos como idosos, gestantes e adolescentes. "O retorno do investimento deve ocorrer em três anos, mas hoje a demanda já cobre o custo operacional", diz ele. A avaliação feita pelo empresário sobre o potencial do mercado de beleza no Brasil é confirmada por pesquisas conduzidas por consultorias e associações do setor. De acordo com o presidente da A.T. Kearney, Pietro Gandolfi, estudo realizado pela consultoria aponta que em 2013 o Brasil deve superar o Japão e ocupar o segundo lugar como o maior mercado de beleza e cuidados pessoais, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Gandolfi afirma que pequenos e médios negócios também foram computados no estudo. Segundo ele, a estratégia dos pequenos empreendedores deve ser bem diferente da adotada pelas grandes marcas. "Eles ganham poder de competição quando identificam uma área de nicho no mercado, ou quando oferecem produtos bem diferenciados." Segundo Gandolfi, a área de cuidados pessoais é caracterizada pela contínua evolução e renovação de produtos. "Nossa previsão é de que pelo menos nos próximos cinco anos não haverá tendência de saturação no mercado brasileiro." A atriz Miryan Martin também enxergou no segmento de beleza e bem-estar uma boa opção de investimento e vai inaugurar em março o Espaço MM, instalado em uma área de 1.200 m² na Barra da Tijuca (RJ). O local vai oferecer serviços como drenagem linfática, depilação, corte de cabelo, tintura e manicure. "Os destaques serão o Day SPA para noivas e a massagem relaxante feita em trinta minutos, ideal para quem não tem muito tempo e precisa recompor as energias", ressalta. Miryan afirma que ao decidir criar o negócio passou um ano e meio frequentando salões de beleza de todos os tipos, tanto no Brasil como na Europa e nos Estados Unidos. "Fui anotando as deficiências e os pontos positivos com a intenção de reduzir os riscos e aumentar as chances de oferecer um serviço impecável." Nesse período, diz ela, pôde observar o quanto as pessoas estão preocupadas com beleza e bem-estar, incluindo o público masculino. A empresária conta que ainda não computou o total do investimento, mas estima que o retorno financeiro ocorra dentro de um ano e meio. Levando em conta os dados da Associação Nacional do Comércio de Artigos de Higiene Pessoal e Beleza (Anabel), o Espaço MM irá engrossar o número de salões de beleza abertos no País. Levantamento da Anabel constatou que a quantidade de novos salões de beleza cresceu 78% em cinco anos. Esse número passou de 309 mil, em 2005, para 550 mil, em 2010. Enquanto um estudo da Federação do Comércio Fecomércio SP identificou que o gasto das famílias brasileiras com serviços de cabeleireiros cresceu 44% em seis anos. Os números do setor chamaram a atenção da administradora Daniele Perez. Estimulada pelo cenário promissor do mercado ela criou há dez meses a Estética Naka. Além de oferecer massagens relaxantes, banhos de ofurô, day SPA, drenagem linfática, reflexologia de pés e mãos, coloração, hidratação e depilação, Daniele inovou ao trazer para o Brasil o conceito de coaching de emagrecimento. "Me inspirei no modelo de centros de estética europeu. Nosso programa de emagrecimento inclui aconselhamento nutricional e de atividades físicas, que resulta em um tratamento de 360º." Daniele diz que o programa trata do corpo, da mente e da alma e tem duração média de três meses. "Nosso objetivo é proporcionar recondicionamento do estilo de vida da pessoa, unindo corpo e mente." Outra novidade, segundo ela, é o equipamento de bronzeamento por vaporização, que não mancha a pele e foi importado da Flórida (EUA). A empresária afirma que fez muitas pesquisas e comprou vários equipamentos em leilões. "Investi cerca de R$ 100 mil, mas montei uma estrutura que vale pelo menos R$ 200 mil." O próximo passo, segundo ela, será transformar esse conceito em franquia para expandir a marca. A vida de empresária de Daniele, porém, não se resume ao centro de estética. "Tenho uma empresa de coaching para empreendedorismo, onde 30% da demanda vem de pessoas que estão procurando oportunidades de negócio no mercado de beleza."
Salões de estética lideram ranking em São Paulo
Na cidade de São Paulo, são lançados mais salões de beleza do que bares e lanchonetes, de acordo com dados da Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp). Entre janeiro e junho de 2012 foram abertas 2.445 empresas de serviços relacionados à beleza, uma alta de 85% em relação ao número de registros no mesmo período do ano anterior. Dados da Associação Brasileira de Indústrias de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec) também mostram que o setor de beleza vem crescendo, em média, 10,4% ao ano. Cuidados com os cabelos representam 22,1% do faturamento. Já um estudo realizado pelo Instituto Euromonitor aponta que o setor brasileiro de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos (HPPC) faturou mais de US$ 43 bilhões em 2011. O total é 18,9% maior do que o faturamento de 2010, quando a indústria movimentou US$ 36,187 bilhões. Nesse período, o Brasil registrou o maior crescimento porcentual entre os top 10 mercados do setor. O segundo maior aumento porcentual foi da Rússia, com 14,7% de expansão no comparativo entre 2011 e 2010. Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), João Carlos Basilio, o Brasil é um dos países com mais espaço para novas tendências e lançamentos, especialmente pela miscigenação, o que faz com que se encontrem aqui pessoas com variados tipos de cabelo e pele. "Especialmente pela importância dada pela mulher brasileira aos cabelos, há grande demanda para produtos deste segmento, o que explica nossa liderança mundial no mercado de tinturas para cabelos." Outra característica do País, segundo ele, é a paixão pela sensação de limpeza e de se sentir perfumado, o que faz dos brasileiros os maiores consumidores de fragrâncias do planeta. "Os nordestinos são os campeões de consumo de perfumes, com 95 de penetração, sendo que a média brasileira é 89." O presidente da Abihpec lembra que ainda há espaço para pequenas empresas. "Elas precisam ser criativas e detectar novos hábitos e novas tendências, nichos de mercado ainda não tomados pelas médias e grandes companhias. Mas é preciso ser ágil nas mudanças, buscando novidades constantes. Na opinião do diretor da consultoria A.T. Kearney, Pietro Galdolfi, um ponto que deve ser destacado nesse cenário e para o qual os pequenos e médios empresários devem ficar atentos é a possibilidade de o Brasil virar uma área de conquista para grandes players internacionais. "Hoje, o mercado brasileiro é muito atrativo para as empresas que ainda não operam aqui, e essa poderá ser a próxima fronteira de evolução do mercado", diz. Segundo Gandolfi, empresas internacionais podem adquirir pequenas e médias empresas nacionais para entrar no mercado. "Pelo radar da A.T. Kearney, sabemos que algumas empresas estão olhando com muito interesse para o Brasil, que é um dos poucos mercados do mundo que vai continuar crescendo." O diretor da A.T. Kearney salienta também que o mercado do nordeste ainda é muito inexplorado, onde há um grande potencial a ser desenvolvido. "Isso talvez permita que esse ciclo de expansão possa ser ainda mais longo no Brasil."
