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O blog do Caderno de Oportunidades

Empresas ganham mercado com a burocracia

Startups simplificam processos e ajudam a desburocratizar outras organizações

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Rodrigo Scotti, fundador da startup Nama. Foto: Amanda Perobelli / Estadão

Paula Pauli / Especial para o Estado No final de 2016 foi divulgado o relatório "Doing Business 2017", um documento do Banco Mundial que traz o ranking dos países onde é mais fácil empreender. No topo da lista, Nova Zelândia e Cingapura. Já no Brasil, a burocracia imposta aos empreendedores fez com que o País figurasse em 123º - em uma lista de 190 nações. O tempo que as companhias brasileiras gastam em média preenchendo papelada e lidando com impostos é de 2.600 horas por ano, segundo relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

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Para alívio dos empreendedores brasileiros, algumas startups trabalham para mitigar esses contratempos. Elas sobrevivem simplificando, desburocratizando e agilizando os processos de outras empresas em áreas como gestão, organização, marketing e atendimento.

Uma dessas startups é a Arquivei. A empresa fornece uma plataforma de armazenamento, organização e consulta de informações de notas fiscais, e surgiu para suprir a necessidade de uma gestão mais eficiente dos dados fiscais das empresas. Feito o cadastro de determinada companhia na plataforma, o Arquivei se conecta à Secretaria da Fazenda e Prefeituras, permitindo o monitoramento e download das notas fiscais referentes àquele CNPJ.

O sócio-fundador da empresa, Christian De Cico, já trabalhou na administração de uma construtora e sentiu na pele os desagrados que o impulsionaram a elaborar a solução. "Sempre tínhamos que pedir as notas fiscais aos fornecedores diversas vezes. Eles esqueciam, ou e-mail com o documento não chegava, ou estava pesado demais. A própria construtora estava criando uma cultura de rigidez, com cada vez mais obstáculos, apenas para obter o comprovante", diz ele. "Percebi que seria menos caro e menos trabalhoso criar uma solução para o problema do que repetir sempre todo aquele procedimento."

Além de dar acesso a um arquivo com todas as notas fiscais, a startup também permite que a empresa analise cada dado do documento e possibilita ao usuário fazer pesquisas com critérios diversos. Assim, ajuda setores das companhias como o de compras, que pode conferir se os produtos entregues estão de acordo com os descritos na nota.

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De Cico saiu da construtora em que trabalhava para ver seu negócio sair do papel, e afirma que é gratificante acompanhar as empresas que o Arquivei atende fazendo a transição de uma cultura burocrática para mais praticidade. E sonha alto. "Queremos abranger absolutamente todas as empresas brasileiras", revela ele.

A ambição da Nama é semelhante. A empresa, fundada em 2014, desenvolveu um sistema próprio de inteligência artificial e criou uma ferramenta que automatiza as conversas das companhias com seus consumidores. São os chamados chatbots, espécie de robôs que se relacionam e interagem com os clientes da empresa de forma inteligente e natural. Eles compreendem a fala coloquial e regionalismos, e automatizam serviços como realizar agendamentos e tirar dúvidas, além de tarefas transacionais. Para facilitar, os chatbots se comunicam por canais diversos, entre eles o chat do Facebook, Telegram, o chat do portal da empresa etc. "Muitas empresas, mesmo as aparentemente mais rígidas, estão abertas a esse tipo de inovação, e o próprio processo de implementação do sistema da Nama faz com que a companhia reveja alguns de seus processos", afirma o CEO da startup, Rodrigo Scotti.

"Utilizar a Nama é, por si só, uma quebra de paradigma por parte da empresa, porque ela automaticamente elimina a necessidade de roteiros duros de atendimento - que muitos funcionários já têm decorado na cabeça. A máquina prescinde de tudo isso e vai direto ao ponto, solucionando exatamente aquilo que o usuário quer."

A redução dos custos com atendimento ao cliente que a Nama proporciona é de 40% a 90%, segundo Scotti. A startup atende a grandes empresas, como Bradesco e Accenture e, no momento, está desenvolvendo uma plataforma que interage virtualmente com os usuários do Poupatempo. Para o CEO da Nama, todos têm a ganhar. "A partir do momento que uma empresa adota essa automação, ela acaba se desburocratizando de dentro para fora. Isso é transmitido aos consumidores, que passam a enxergá-la como uma empresa mais moderna e acessível."

O aplicativo PiniOn mudou a forma como as empresas recebem feedback sobre seus produtos e serviços. Se antes elas tinham que recorrer a pesquisas caras e demoradas, o aplicativo, fundado em 2013, quebra esse paradigma. A plataforma tem mais de 260 mil usuários cadastrados - os chamados Opiners - que são remunerados a cada missão que completam, ou seja, a cada tarefa solicitada pelo PiniOn que executam corretamente.

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São dois tipos de missão. As virtuais são questionários sobre determinada marca ou produto, que podem ser respondidos em qualquer lugar. Já as presenciais são feitas de acordo com a localização de cada Opiner, e ocorrem quando é necessário avaliar algo específico, como conferir se o preço de determinado produto ou sua disposição numa gôndola de um supermercado estão corretos. Para participar dessas missões, o usuário tem de ir até o local - só assim o teste é liberado. A fim de constatar se o consumidor está realmente no estabelecimento, o aplicativo utiliza o sistema de geolocalização do smartphone.

"Fazer pesquisas do modo convencional demanda muitas etapas e muito dinheiro", diz Theo Hamaoui, co-fundador do PiniOn. "Isso leva dias ou até meses. Com o PiniOn, mandamos uma notificação para os Opiners e, e em questão de horas, recebemos as respostas."

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