Para comemorar 17 anos de atividade, os responsáveis pelo Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec) resolveram rever o formato do processo de seleção de empresas que se candidatam a uma vaga na incubadora.
"Viajo a cada dois anos para observar o que está acontecendo no movimento de incubadoras e parques tecnológicos de vários países. Há algum tempo notávamos que nosso processo seletivo estava fora do compasso mundial, por ser muito rigoroso e detalhista", diz o diretor executivo, Sergio Risola.
Para simplificar, a partir de agora, o empreendedor têm de agendar uma reunião com a coordenação do Cietec e fazer uma breve apresentação oral. "O projeto deve ser de um produto, serviço ou processo que tenha um viés de inovação. Além disso, ele terá de demonstrar interesse em complementar o seu conhecimento com aquilo que a USP e os seus institutos oferecem. Queremos que ele venha buscar complementaridade", diz.
Se o candidato for aprovado na primeira etapa, terá de preparar um resumo por escrito com o âmago do negócio, além de um breve relato com os seus dados pessoais, incluindo formação e experiência profissional.
"São três páginas no máximo, que serão avaliadas por uma equipe do Cietec. Não vamos mais reunir um comitê com membros de entidades como Finep, Sebrae e IPT para escolher os novos incubados." Risola diz que o novo processo dura, no máximo, 25 dias e os selecionados ficam até seis meses na incubadora. Nesse período, terão acesso a atividades como oficinas, cursos e palestras.
Cada selecionado passa a ocupar espaço físico equipado com linha telefônica e internet. Além disso, todos têm a oportunidade de interagir e fazer networking com as outras 119 startups incubadas no local.
Depois da experiência inicial, o empreendedor deverá apresentar um plano de negócio contendo o que desenvolveu nesse período. "Para continuar na incubadora por mais três anos, deverá ter cronograma de ação contendo meta de investimento e de crescimento", diz.
Segundo o diretor, nestes 17 anos de atividade, 600 empresas passaram pela incubadora, selecionadas entre 1,3 mil concorrentes. "Das 600, foram graduadas 141. O que significa que elas passaram por todas as fases, foram diplomadas e saíram para o mercado prontas para decolar sozinhas.
Levantamento que fizemos em dezembro de 2014 aponta que das 141 graduadas, 121 estão vivas e bem. A taxa de sucesso de aproximadamente 26% é um número impressionante", afirma Risola.
Incubado. Um dos beneficiados pelo processo ágil de seleção foi o dono da EficiEnergy, Mauro Fernando Vitorazzo. "Fui almoçar com um amigo na USP, que me convidou para tomar um café no Cietec. Quando conheci o local, me senti em casa. Voltei num segundo dia para uma apresentação e vi que era o lugar onde eu queria estar. A oferta de suporte para o desenvolvimento tecnológico é muito importante para o meu projeto. Nesse dia, soube que a seleção tinha acabado de ser simplificada. Me candidatei e aqui estou" conta.
Vitorazzo diz que desenvolveu um sistema que ajuda empresas e grandes empreendimentos a economizar energia. "Durante uma viagem de pesquisa de mercado pelo Canadá, conheci um equipamento que casava perfeitamente com a minha plataforma. Falei sobre o meu sistema com o fabricante e fechamos parceria."
Segundo ele, trata-se de um medidor de energia que pode ser conectado a 24 pontos de consumo. "As informações captadas são enviadas via internet para a plataforma, junto com vários detalhes técnicos. Além de energia elétrica, também mede o consumo de água e gás."
Ele conta que, com essas informações, realiza uma análise de eficiência energética da empresa e elabora um projeto com práticas para otimizar o consumo, para que o trabalho passe a render mais gastando menos energia. "Em paralelo, faço o cálculo de mitigação de emissão de gases de efeito estufa", diz.
Vitorazzo conta que o equipamento já está em fase de testes. "Espero começar a comercializá-lo dentro de alguns meses, principalmente entre redes de varejo e edifícios comerciais. Quando completar os meus seis meses de Cietec, já terei os resultados dos medidores que estão instalados em alguns clientes e poderei demonstrar a sua eficiência com dados reais."
Projetos de startups ganham mais fôlego com o apoio
A ETS Brasil, de Giuliano Hirata Favilli, João Thiago Sampa e Abílio Santos, conquistou uma vaga no Cietec para aprimorar o negócio de prestação de serviço para tratamento de efluente (líquido impregnado com resíduos químicos ou orgânicos que contaminam os corpos d'água), e de tratamento de ar ambiente com desodorização, por exemplo, de sala de cinema, carro, avião, quarto de hotel, duto de ar condicionado etc.
Segundo Favilli, o tratamento é feito com geradores de ozônio que eliminam bactérias, vírus, ácaros e odores. "A tecnologia já existe e está chegando ao País. Queremos viabilizar o seu uso entre negócios de pequeno porte. No futuro, esperamos levar o tratamento de efluentes para lugares remotos. Nosso plano é instalar o equipamento para tratar o esgoto de comunidades. Iremos treinar o pessoal local para fazer a manutenção do equipamento. Assim, estaremos gerando trabalho e melhoria na qualidade de vida."
Ele conta que a experiência na incubadora é bem interessante. "Temos contato com empresas que mexem com todos os tipos de atividades e acesso ao departamento jurídico, auxílio para criar patentes, assessoria de marketing etc. Eles nos fornecem uma base muito boa, além de facilitar o contato com fundos de investimento."
Já o químico Eduardo Peixoto, do Instituto Brasileiro de Referência Ambiental (Ibra), buscou o apoio do Cietec para agilizar o projeto de criação de um banco de padrões analíticos de agrotóxicos, também chamados de pesticidas. Ele trabalha neste projeto há três anos.
"O Ibra é uma instituição sem grandes recursos financeiros e trabalha com a firme ideia de aplicar a química aos interesses sociais do País. Agora, pelo fato de estarmos no Cietec, conseguimos fazer em três meses muito mais do que realizamos nos últimos dois anos."
Peixoto afirma que é fundamental que o Brasil tenha um acervo de padrões, necessários para o controle de atividades do agronegócio, bem como para proteger o ambiente e o consumidor de resíduos de pesticidas. "O Brasil, mesmo sendo o segundo maior produtor agrícola e um dos maiores consumidores de agrotóxicos, não tem proteção tecnológica própria, e usa padrões importados. Para um País que quer crescer isso é inadmissível", diz.
Em breve, Peixoto vai assinar convênio com o Instituto de Energia e Ambiente (IEE), e espera obter apoio do governo e de empresas. "Nos próximos dois ou três anos teremos uma variedade de padrões de pesticidas para atender de 80% a 90% dos produtos usados atualmente no Brasil. Vamos oferecê-los para órgãos de governo, indústria e laboratórios de pesquisa."