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Laticínio enfrentou crise no setor um mês após ser criado

No mercado desde 1980, fabricante passou por turbulências econômicas e agora se prepara para ‘invasão estrangeira’

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Armazenamento de queijos da Tirolez Foto: Estadão

Engenheiro civil formado pelo Mackenzie com pós-graduação no exterior, Cicero Hegg gosta de contar que a ideia para entrar no ramo de fabricação de queijos surgiu durante uma conversa na praia, em 1979. Ele estava com amigos e um irmão mais velho, Roberto, que era genro de um queijeiro mineiro. "Estávamos lá, tomando caipirinha e ouvindo histórias sobre queijo, que o sogro do meu irmão tinha um avião, tinha alugado uma fábrica e outras coisas. Eu fui ouvindo e pensei que queijo era um bom negócio, e decidi entrar no ramo."

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Para o empreendimento, chamou o irmão mais novo, Carlos, que estava se formando, um ex-estagiário da empresa de engenharia onde trabalhava, a cunhada (casada com Roberto) e abriram o laticínio. Ficou acertado que o sogro do irmão faria a distribuição. "Conversamos com muita gente antes de entrar no negócio, até que apareceu uma oportunidade. Fizemos uma proposta de compra de um laticínio e o dono aceitou. Eu tinha de 27 para 28 anos."

Tratava-se da indústria Franco Ltda, em Tiros (MG), que possuía seis funcionários e era dona da marca Mineirão. Pela proposta, dariam 40% do valor de entrada e os restantes 60% seriam pagos depois de 18 meses. Era um pequeno laticínio com apenas 6 funcionários e capacidade de produzir 70 kg de queijo por dia.

Os 10% de Cícero (os 40% foram divididos entre os quatro sócios) vieram de um sobrado que havia acabado de construir em São Paulo e tinha vendido. "Começamos em quatro. No mesmo ano minha cunhada saiu, e seis anos depois o outro sócio também saiu e ficamos só Carlos e eu."

Na época da compra, o mercado de queijos estava em alta. Eles assumiram a empresa em dia 1º de maio de 1980 e um mês depois, os problemas começaram: o leite era tabelado e o governo subiu o seu preço, foram criados outros tipos de leite, mudando completamente o setor. "O mercado, que estava excelente, ficou péssimo por mais de um ano." O sogro do irmão desistiu de distribuir o queijo.

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"Nós mesmos passamos vendíamos. Dirigindo caminhão, indo a botecos, porta a porta. Valia tudo. Até que arrumamos alguns atacadistas e começamos a vender para eles."

Ainda assim, por causa da crise no setor, foram 13 meses só perdendo dinheiro, de acordo com Hegg. E se aproximava o momento de pagar os 60% restantes. Faziam malabarismos financeiros para conseguir pagar os fornecedores. Nesse período, os sócios pensaram em largar o negócio e voltar para a engenharia. "Mas eu pensava 'eu me empenhei, acreditei, não é possível que esse negócio vá ficar tão ruim por muito mais tempo'. E perseveramos." Quando o mercado virou, eles conseguiram recuperar o dinheiro perdido e pagar o restante da dívida com o vendedor.

Em 1981, mudaram o nome da marca para Tirolez. Segundo Hegg, a empresa sempre investiu na qualidade do produto, mesmo quando buscou mais fornecedores para aumentar a produção. "Meu irmão e eu tivemos uma vida privilegiada. Estudamos em boas escolas, pudemos viajar e conhecer coisas boas, inclusive comida. Então, um dos nossos pilares é fazer um queijo, no início era só prato, que seja bom para nós e nossas famílias. Levávamos para casa. E se nós podemos comer, então podemos vender", afirma. "Esse pilar da nossa empresa é muito importante: procurar fazer o queijo com qualidade, para nós gostarmos."

O empresário diz que a indústria entrou em fase de crescimento, apesar de ter enfrentado os planos Cruzado, Bresser e a era Collor. "1992 foi o pior ano, perdemos dinheiro a dar com pau, e teve o impeachment", conta.

Antes, porém, os irmãos Hegg já tinham decidido dar um novo salto: contratar um queijeiro mais experiente para lançar uma linha de queijos especiais e fazer publicidade para reforçar a marca Tirolez.

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Hoje, a empresa tem 1.564 funcionários em suas seis unidades: Tiros, Carmo do Paranaíba e Arapuá (MG); Monte Aprazível e Lins (SP); e Caxambu do Sul (SC) e um centro de distribuição em São Paulo.

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De acordo com Hegg, a expansão, no início, foi feita "tijolinho por tijolinho". "Aí, pegamos algo no BNDES. Era o Finame, de financiamento de equipamentos. Em 2003, foi um valor maior para fazermos uma expansão. E agora, nos últimos anos, temos pegado dinheiro no Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG)." A empresa também utiliza crédito agrícola. "Foi importante desde o primeiro ano", diz.

O fundador divide a vida da empresa em três fases. A primeira são os dez anos iniciais. "Nesse período, nos consolidamos como uma empresa fabricante de commodities, com praticamente quatro produtos, prato, muçarela, um pouquinho de Minas Frescal e manteiga institucional." A segunda etapa, diz, vai do 11º ano de existência até 2015. "Foi quando crescemos, inovamos, fomos pioneiros em várias categorias, temos reconhecimento de marca, de qualidade", afirma. O pioneirismo veio, por exemplo, da criação do creme de ricota, do primeiro queijo prato light do mercado, entre outros.

"A maturidade adquirida ao longo do tempo deixou a empresa pronta para encarar esse terceiro momento: a entrada de empresas mundiais de queijo no mercado local. Algumas já estão aqui, outras estão chegando. Estamos atuando para continuar crescendo e ter o nosso reconhecimento", conta, prevendo acirramento da concorrência no setor. / C.M.

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