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O blog do Caderno de Oportunidades

O desafio de criar negócios na área de educação

Pesquisa com empreendedores com foco em aprendizado serve para embasar a criação de plataforma que orienta futuras empresas

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Por Cris Olivette
Atualização:

Garoto testa aplicativo que auxilia na alfabetização Foto: Estadão

'Empreendedores de Impacto: as dores e as delícias de inovar em educação', este é o nome da pesquisa realizada pelo Instituto Inspirare com o objetivo de entender quais são os desafios enfrentados por empreendedores no processo de desenvolvimento de soluções voltadas à área de educação.

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Segundo a gestora do projeto iniciativas empreendedoras do Instituto Inspirare, Ana Flávia Castro, o resultado serviu de ponto de partida para a construção da plataforma www.apreender.org.br, que foi criada recentemente para orientar quem quer empreender no campo da aprendizagem.

Ana conta que a pesquisa ouviu 50 empreendedores de sete capitais brasileiras. "Precisávamos entender como eles se veem nessa jornada, quem eles acionam para ter apoio, entre outras questões. Com base nessas informações, inserimos na plataforma uma série de referências, conteúdos e ferramentas para auxiliar na criação negócios de impacto em educação."

Ana Flávia Castro, coordenadora da pesquisa feita pelo Instituto Inspirare Foto: Estadão

Ela afirma que a pesquisa revela que dependendo do perfil, motivação, informações e apoios, a trajetória empreendedora pode ser mais ou menos árdua. "As entrevistas mostram que o empreendedor pode tropeçar menos e avançar mais se conhecer todas as etapas envolvidas no processo, e se souber reconhecer o próprio perfil, compreender potencialidades e riscos, e acessar informações e ferramentas que orientam e fortalecem o negócio", afirma.

Ela conta que o estudo evidenciou que é muito comum o empreendedor esquecer de acionar as ferramentas de negócio. "Ele fica tão envolvido no projeto que se esquece de que é preciso ter um modelo de negócio para dar sustentabilidade à empresa e fazer o projeto vingar."

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Entre os empreendedores que participaram da pesquisa, estão os donos da QMágico, Thiago Feijão e Gabriel Melo, de 26 e 23 anos, respectivamente. Formados em engenharia pelo ITA, eles desenvolveram uma plataforma para auxiliar professores no processo de ensino, proporcionando eficiência de tempo.

"Chamamos o produto de caderno digital inteligente. O professor insere o conteúdo na ferramenta e convida o aluno a estudar e a realizar os exercícios. O diagnóstico de desempenho elaborado por nós é encaminhado aos professores, coordenadores, pais e diretores das escolas", explica Feijão.

Thiago Feijão (à dir.) e Gabriel Melo, criadores da plataforma QMágico Foto: Estadão

O jovem afirma que a análise reflete quais são os pontos de maior dificuldade de cada aluno. "Queremos ajudar o professor a montar a melhor sequência de ensino e garantir que o aluno aprenda mais."

Feijão confessa, no entanto, que ele e o sócio achavam que quando concluíssem o produto, o negócio funcionaria por si só. "Não tínhamos nenhuma ideia de negócio. Só tínhamos experiência em voluntariado, dando aulas para alunos de baixa renda. Só pensamos em criar um produto legal para ajudar os professores", afirma.

Ele conta que a empresa chegou a falir duas vezes. "Começamos com recursos próprios. Usamos o dinheiro de uma viagem de formatura que todos os alunos do ITA fazem para Brotas. Não fomos com a nossa turma e ficamos no alojamento fazendo o projeto."

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Com o tempo, conquistaram apoio financeiro. Ele diz que a mentoria dada pelos investidores foi fundamental para o negócio vingar. "Eles nos ensinaram, por exemplo, a organizar a área financeira e a enxergar como a nossa tecnologia podia contribuir com o mercado. Hoje, a solução é adotada por escolas públicas e privadas do País." Realização. Em 2009, o cofundador da Anhanguera Educacional José Luis Poli deixou a empresa para tocar, com recursos próprios, um projeto de alfabetização por meio de celular.

"Ajudar na alfabetização de adultos era uma vontade antiga. Eu percorria as escolas para incentivar alunos do ensino médio a fazer faculdade. Nessa peregrinação, me deparava com muitos analfabetos e sentia que precisava atuar de alguma forma nessa questão", diz o dono da IES2 - Inovação, Educação e Soluções Tecnológicas, sua nova empresa.

José Luis Poli, fundador da IES2 - Inovação, Educação e Soluções Tecnológicas Foto: Estadão

 

Quando percebeu que esse público usava celular o tempo todo, teve a ideia de criar o programa de ensino de português via celular. "Fizemos vários protótipos, sempre testando a receptividade das pessoas."

Segundo ele, seu objetivo nunca foi o de criar um método alternativo ou substitutivo de alfabetização. "O aplicativo complementa o que o professor ensina. É uma ferramenta adicional com 4,3 mil atividades."

Ele fez o produto pensando em ter o poder público como cliente. "Já fiz várias propostas e aguardo a burocracia do governo. Desde agosto, o aplicativo está à venda na Google Play por R$ 40. Agora, temos um produto voltado para adultos e outro para crianças."

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Poli, que também participou do estudo do Inspirare, diz que pensou em um modelo de negócio escalável. "O celular está nas mãos de todos. Lógico que se o poder público comprasse seria mais fácil. Mas a operadora Vivo gostou do modelo e está oferecendo o programa como um serviço agregado de telefonia. Compactei o conteúdo em 25 aulas, cada uma com cinco atividades. A Vivo comercializa a R$ 3,99 por semana."

A ferramenta também está sendo usada para alfabetizar operários de uma obra em João Pessoa (PB), numa parceria da Universidade Federal com um programa da Unesco.

Investidores estão em busca de modelos disruptivos

Um dos problemas detectados pela pesquisa do Instituto Inspirare, que ouviu 50 empreendedores de impacto na área de educação, é a falta de clareza sobre os atores e seus respectivos papéis, demonstrada por alguns entrevistados. "Isso torna mais difícil empreender e entrar no radar de fundos de investimento, institutos e fundações", diz a gestora de iniciativas empreendedoras do Instituto Inspirare, Ana Flávia Castro.

A boa notícia é que há no mercado investidores interessados em apoiar projetos com modelo de ensino disruptivo. "Temos ouvido de muitos investidores, tanto sociais quanto tradicionais, que eles estão dispostos a investir, por exemplo, em escola privada de baixo custo para alunos de ensino fundamental e médio. No Brasil, ainda não temos nada nesse sentido", diz a diretora executiva da Artemisia (organização que dissemina negócios de impacto social), Maure Pessanha.

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Maure Pessanha, diretora executiva da Artemisia Foto: Estadão

Ana Flávia acrescenta que mesmo tendo perfis distintos, os empreendedores têm em comum o fato de serem desbravadores de um ecossistema novo. "Eles entram de cabeça na jornada e sofrem as dores e as delícias de serem pioneiros", diz.

Dona da empresa Mentes Brilhantes Brinquedos Inteligentes, Djali Valois conta que criou o negócio em 2009 com o objetivo de tornar o brincar extremamente significativo, contribuindo na formação da personalidade das crianças. "Me apaixonei por brinquedos inteligentes quando morei na Espanha. Criei a empresa depois de me tornar mãe."

A empresária de Florianópolis, que também foi ouvida pela pesquisa do Instituo Inspirare, diz que buscou capacitação para tocar a empresa participando de programas da Endeavor, Artemisia e Sebrae. "Recebi bastante mentoria e participei de muitas rodas de aprendizado e de interação com outros empreendedores", conta.

Segundo ela, os produtos que comercializa estimulam o desenvolvimento de competências e habilidades em ciências, matemática, tecnologia, arte e motricidade. "Entre os campeões de vendas temos, na área de ciências, o gerador eólico que custa R$ 230."

Djali Valois, dona da Mentes Brilhantes Brinquedos Inteligentes Foto: Estadão

Ela conta que o brinquedo realmente gera energia em quantidade suficiente para fazer outros brinquedos funcionarem, além de ser capaz de recarregar pilhas recarregáveis. "Já na linha psicomotricidade, os brinquedos têm nomes bem poéticos. O mais vendido é o Pedras do Rio Arco Íris, que custa cerca de R$ 580." Djali diz que a empresa também desenvolve games interativos com temática educacional.

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"Já criamos 11 games, mas também trabalhamos com jogos físicos 'mão na massa' na linha de ciências. Eles são comercializados em caixas por meio de assinatura mensal." Ela diz que agora busca uma forma de educar as crianças para que cresçam com o pensamento de que o caminho futuro é o do compartilhamento em rede e cocriação.

"Tenho como desafio transformar esse linguajar para trabalhar o assunto com as crianças." Segundo ela, entre seus clientes estão instituições como Apae, Sesc e Sesi.

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