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Trabalhar em casa é opção para MEIs

Pesquisa do Sebrae-SP indica que cresceu mais de 20% o número de empreendedores que conciliam o espaço da casa com o negócio

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Janice Correa Farias, fundadora do Ateliê Ipê Amarelo Foto: Estadão

Cris Olivette Pesquisa do Sebrae aponta que entre 2013 e 2015 o número de microempreendedor individual (MEI) trabalhando em casa aumentou mais de 20%.

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"Esse crescimento considerável foi influenciado pelo momento desfavorável da economia que estamos vivendo. As pessoas estão ficando desempregadas e ingressando no empreendedorismo de necessidade", diz o consultor do Sebrae-SP, Fabiano Nagamatsu.

Segundo ele, quem começa a empreender nessas condições deve reduzir os custos ao máximo. "Trabalhar em casa passa a ser uma oportunidade. Mas é preciso se atentar a "n" fatores. As questões principais são planejamento e disciplina."

Proprietária do Ateliê Ipê Amarelo, Janice Correa Farias engrossa esse time de empreendedores. Após trabalhar 12 anos em uma instituição financeira, perdeu o emprego. Durante um ano ela fez do hobby uma experiência de negócio. "Sempre gostei de produzir convites e lembranças para as festas da família. Como todos elogiavam, resolvi apostar nessa iniciativa", conta.

A formalização ocorreu em janeiro de 2016. "Ter o negócio em casa é um pouco complicado, porque a família não respeita muito o espaço. Por outro lado, é bem prático. Quando acabo de tomar o café da manhã já estou no trabalho." Disciplinada, cumpre jornada das 8h às 17h.

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Janice acrescenta outro ponto positivo ao fato de ter criado o negócio em casa. "Tudo começou como um teste. Foi muito bom usar a estrutura da minha casa e economizar com o custo do ponto comercial, assim consegui investir mais na empresa."

Ela diz que quando tiver de mudar para outro local, o que imagina que ocorrerá no início do próximo ano, terá mais segurança, porque já sabe que terá como pagar o aluguel. "Para quem não precisa ter contato direto com o cliente e tem um espaço em casa, é uma ótima forma de começar", recomenda.

Atualmente, sua retirada mensal equivale a metade do salário que ganhava no trabalho anterior. "Mas acredito que até o final do ano vou alcançar o valor total. O negócio vai indo bem", afirma.

No entanto, por ter começado sem planejamento, Janice sentiu necessidade de buscar capacitação. "Fiz um curso na área financeira porque achava que pelo tanto que trabalhava o lucro era baixo. O consultor identificou que investi muito na empresa. Comprei cinco máquinas de recorte digital, três computadores e não contabilizei isso como lucro. O parcelamento desse investimento consome 50% do lucro mensal. Também tenho um bom estoque de material. Nada disso estava sendo computado", conta.

Fabiano Nagamatsu, consultor do Sebrae-SP Foto: Estadão

Nagamatsu afirma que o planejamento envolve também outros aspectos além do capital de giro, marketing e comunicação. "Tem de planejar a parte operacional que envolve diretamente o empreendedor. Mesmo trabalhando em casa tem de estar sempre alinhado porque pode precisar sair para visitar um cliente ou ser surpreendido pela chegada de um fornecedor", diz o consultor.

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A arrumação do ambiente de trabalho é outro item importante. "Tudo isso contribui para que o empreendedor tenha uma padronização da rotina administrativa como ocorre em qualquer empresa. Atitude empreendedora é o grande desafio, tem de entrar nesse clima. A família precisa entender e respeitar o período de trabalho", diz.

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Começar como MEI também foi importante para as donas da marca de bolsas artesanais Detalhes Tão Pequenos, Elena Ferreira e Isabel Ribeiro. "Se tivéssemos de abrir uma empresa e pagar contador não teríamos condições de iniciar o negócio. Começar como MEI facilitou bastante porque pudemos ter uma empresa legalizada e emitir nota fiscal", diz Isabel.

A empresária conta que está fechando o primeiro semestre da empresa com o lançamento da primeira coleção de bolsas. "Já estamos trabalhando na produção da segunda coleção, que será lançada no verão." Elena afirma que o trabalho que realizam segue o conceito slow fashion, ou seja, elas produzem moda sem afetar o meio ambiente.

"Queremos trabalhar em cima do consumo consciente. Criamos peças para serem usadas em várias ocasiões e por muito tempo. Acreditamos que consumir menos é importante. Além disso, por ser artesanal a produção é mais lenta."

Elas dizem que as bolsas são feitas em tecido. "Fazemos um trançado manual bem elaborado. A primeira coleção tem seis modelos, cada modelo tem sete peças, com preços variando de R$ 300 a R$ 600", conta Isabel.

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Elena diz que o plano de expansão prevê a formação de mão de obra artesã com o objetivo de geração de renda. "Essa é uma das missões da empresa. Além de serem remuneradas, as artesãs terão participação nas vendas. Queremos valorizar essa mão de obra."

Elena Ferreira (à esq.) e Isabel Ribeiro, donas da marca de bolsas artesanais Detalhes Tão Pequenos Foto: Estadão

As sócias contam que a ideia do negócio surgiu durante faculdade de administração. "Participamos de uma feira de marketing para a qual tivemos de desenvolver um produto. Fizemos uma nécessaire de tecido que fez grande sucesso. Vimos que havia ali uma boa possibilidade de negócio", afirma Isabel.

Aos poucos, a decepção por ter perdido o emprego foi dando lugar à empolgação de virar dona do próprio negócio. Com duas graduações, duas pós-graduações e um MBA, Tânia Rica era responsável pela área de benefícios de uma multinacional. "Cuidava de 24 mil vidas no plano médico. Com a crise, houve corte nos benefícios e fui demitida."

Com o tempo, concluiu que, se era capaz de salvar milhões em recursos para os outros, também seria capaz de fazer algo por ela. "Queria criar um negócio sustentável, que crescesse aos poucos, sem baixos custos fixos e com investimento baixo também, por isso optei por trabalhar em casa."

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Tânia Rica, dona da marca Vestido de Noiva Rica Foto: Estadão

Tânia afirma que começar como MEI foi ótimo. "Não adianta querer começar por cima, tem de ter humildade para aprender tudo sobre o negócio. A sorte ajuda desde que você esteja preparado", diz. Antes porém, buscou capacitação no Sebrae e na Sala do Empreendedor da prefeitura de Santo André.

Também estive na palestra Como Vender em Tempo de Crise, na Fundação Getúlio Vargas, na qual o palestrante disse que o ideal era vender sonhos com foco em mulheres das classes C e D, porque concorrer com marcas voltadas às classes A e B demanda muito investimento."

Ao ouvir a dica, ela lembrou que dois anos antes havia comprado e personalizado um vestido de noiva para uma festa a fantasia. "Depois da festa vendi o vestido em uma semana, pela internet, para uma noiva que se casaria no Amazonas." Nascia assim a marca Vestido de Noiva Rica.

Decidida a apostar na ideia, aprendeu a importar legalmente da China, como pessoa jurídica, a agregar valor ao produto colocando rendas, cristais e pérolas, a fazer controle de qualidade e a tirar fotos de divulgação. "Faço tudo isto em minha casa. Agora posso ficar mais tempo com meu filho e contar com a ajuda dele nas questões tecnológicas."

Ela mantém página no Facebook e Instagram e faz divulgação em sites gratuitos. Para não gastar com telefone, usa o WhatsApp para manter contato e enviar vídeos e fotos dos vestidos às clientes. "Na internet há muita venda de vestido de noiva, mas normalmente as fotos não são reais e nem há pronta entrega. Parcelo o pagamento no cartão de crédito e envio a mercadoria por Sedex para todo o País. Já fui procurada até por uma noiva da Ilha da Madeira. Alguns modelos meus tiveram mais de 20 mil visualizações."

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Tânia diz que os preços variam de R$ 550 a R$ 2 mil. "As minhas noivas chegam a comprar vestido mesmo sem servir. Uma delas comprou com bastante antecedência e emagreceu dez quilos para poder usá-lo. Modelos que elas pagariam R$ 4 mil para alugar compram comigo pela metade do preço. Depois, eu ensino como revender e o vestido acaba saindo praticamente de graça para elas."

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