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Economista e sócio da MB Associados

Opinião|15 fracassos do governo Dilma na área econômica

Escrevo este artigo junto com o economista Mansueto Almeida. Assistimos nos últimos quatro anos a uma lenta, segura e gradual piora do cenário econômico. O conjunto impressiona muito e é por isso que decidimos fazer uma lista das piores coisas que estão a ocorrer na área econômica. São estes os maiores fiascos do atual governo:

Atualização:

1) A inflação média está acima de 6% ao ano e muito próxima do teto da meta que, como se sabe, é de 6,5%. Tudo isso ocorre apesar do franco atraso no reajuste de preços administrados e do baixo crescimento. O indicador mais eloquente da pressão inflacionária é aquele dado pelos preços livres, que refletem, de fato, o que ocorre na economia. Estes subiram, em média, 7% ao ano. No governo Dilma, a inflação será seguramente maior que nos anos anteriores, cada vez mais distante da meta, de 4,5%.

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2) O crescimento do PIB teve forte desaceleração. Em 2014 o Brasil crescerá apenas 0,2% e 1,6% ao ano, na média do governo Dilma. Este é o terceiro pior desempenho da história republicana e muito abaixo tanto da média internacional (3,5%) quanto da latino-americana (3,8%) dos últimos quatro anos. Definitivamente, o que segura o crescimento do Brasil não é a crise externa, mas sim causas domésticas.

3) A situação fiscal passou de um superávit primário de 3% do PIB em 2011 para zero ou negativo neste ano, quando se descontam os truques do lado da receita e do lado da despesa. Até agosto, a economia que o governo central fez para pagar juros da dívida foi de apenas 0,05 % do PIB, ou R$ 1,5 bilhão, o pior resultado desde 1991. O déficit nominal também vem piorando e já atingiu 4% do PIB.

4) Forte crescimento do endividamento público, de sete pontos porcentuais do PIB. Em 2010, a dívida bruta do setor público no Brasil era de 53,3% do PIB. Este ano, até agosto, a mesma alcançou 60,1% e a dívida líquida já cresceu mais de dois pontos porcentuais do PIB.

5) Desapareceu o saldo comercial, vindo de US$ 30 bilhões, em 2011, para perto de zero nos dois últimos anos. Existe grande déficit na conta petróleo e na conta de manufaturados.

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6) Este resultado também reflete o fracasso crescente do Mercosul e a incapacidade de nossa política comercial externa em alavancar o comércio. Como consequência, aumentou o desequilíbrio externo: o déficit em conta corrente cresceu mais de 50% em três anos, para 3,5% do PIB, apesar da queda na taxa de investimento da economia brasileira. Mesmo tendo reservas, a história mostra que é uma temeridade mantermos déficits em conta corrente da ordem de US$ 80 bilhões anuais.

7) As taxas de juros voltaram a subir e superam os valores do início do governo Dilma. A Selic hoje é de 11% ao ano, maior que os 10,75% daquele momento.

8) Existe uma forte perda de confiança dos empresários. De acordo com a FGV, o nível de confiança dos setores da indústria, comércio, serviços e construção é hoje semelhante ao que era no auge da crise financeira em 2009. Quando o empresário não confia no governo e está pessimista, não existem investimentos.

9) Queda da taxa de investimento da economia brasileira, de 18,9% do PIB, no último trimestre de 2010, para 16,5% do PIB, no segundo trimestre de 2014.

10) A produtividade da economia brasileira está estagnada. De 2003 a 2010, ela cresceu 1,6% ao ano, devido às reformas da década de 1990 e do primeiro governo Lula. Depois das mudanças da política econômica em 2009, e com os excessos da intervenção do governo na economia, o crescimento da produtividade total dos fatores, os últimos três anos, foi zero.

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11) Houve uma forte intensificação no processo de desindustrialização. Nos últimos três anos, a indústria perdeu participação no PIB (um ponto porcentual a cada ano), o déficit externo de manufaturas cresceu US$ 34 bilhões, a produção física na indústria ainda é menor do que era em 2008/2010 e a participação na exportação de manufaturados na pauta voltou aos valores da década de 1970. Entre outubro de 2013 e setembro de 2014, foram dispensados 120 mil trabalhadores formais.

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12) A persistente elevação de custos de energia, logística, tributos e mão de obra, associada à estagnação da produtividade, implicou numa perda generalizada de competitividade da nossa produção industrial.

13) Existe, hoje, uma enorme desorganização no setor elétrico, decorrente antes de tudo da redução populista nas tarifas, tal como expressa na MP 579 e das resoluções posteriores, como na CNPE 003/2013. Esta mudança de regime (que pode ser vista, por exemplo, nos documentos do Instituto Acende Brasil) implicou na criação de enormes perdas no sistema como um todo, a serem cobertos pelo Tesouro e/ou consumidores. Estas perdas estão enfraquecendo a estrutura econômica e financeira das companhias. Dezenas de ações judiciais complicam o cenário, estressado ademais pela violenta seca que vem afetando a maior parte do País.

14) A recente queda na classificação de risco da Petrobrás prenuncia dias mais difíceis para a companhia que, excessivamente alavancada, depende muito da tomada de crédito. Em junho, a relação dívida/Ebitda foi de quase quatro vezes, muito elevada. A meta de produção (2,076 milhões de b/d) não será atingida de novo, o preço do petróleo caiu, há atrasos nas entregas de equipamentos e na construção de refinarias e as investigações referentes a delação premiada estão a paralisar a companhia, como mostrou recentemente O Globo (sem falar na investigação da SEC). Muitos fornecedores da empresa estão enfrentando grandes dificuldades.

15) O setor sucroalcooleiro está sendo lentamente asfixiado pela política de preços de combustíveis. Segundo a Unica, 66 usinas já pediram recuperação judicial, muitas das quais pararam de operar. A dívida do setor já é maior que o faturamento e ainda temos muitos grupos com grande passivo e baixas margens de operação. A recente queda no preço do petróleo não altera esta situação.

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Houve época em que o governo, modestamente, achava que tinha inventado um novo modelo de crescimento e uma nova macroeconomia, chamada de “matriz”. Hoje, está claro que apenas passamos por um período mal aproveitado de ganhos de termos de troca, que nos legou um surto de consumo, estagnação e desarranjo macroeconômico.

Opinião por José Roberto Mendonça de Barros
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