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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|2016, além do sufoco

A sequência de notícias negativas deu a sensação de que estamos na maior crise econômica da história

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Atualização:

O sufoco da crise de 2016 foi ampliado pela “sensação térmica” de um sufoco ainda maior.

O afundamento do PIB (projeção de acúmulo de queda de 7,29% nos últimos 2 anos); o desemprego recorde, que junto com os desalentados (os que nem se dispõem a procurar trabalho) alcançam 14 milhões; a grande desordem das contas públicas; os Estados em estado de calamidade financeira ou à beira disso; a escalada do endividamento das famílias e das empresas; a bagunça na área política; as lambanças do Judiciário; e, ainda, o estrago provocado pelas delações premiadas da Operação Lava Jato passaram a sensação de que esta é a maior crise da economia do Brasil moderno.

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Na verdade, não é. Qualquer uma das crises dos anos 80 foi mais profunda e mais destrutiva do que esta. E agora é preciso evocar Nelson Rodrigues para quem uma verdade dita apenas uma vez permanece rigorosamente inédita. Por isso, convém dizer de outro jeito o que já foi comentado aqui em outras Colunas.

Esta é uma crise profunda que, no entanto, não repetiu três enormes problemas que aconteceram no passado. A inflação, por exemplo, está sob controle e vai convergindo para a meta. Nas crises dos anos 80, aproximou-se dos 100% ao mês, a ponto de ter sido preciso submeter o País a cinco reformas monetárias que cortaram zeros do valor nominal da moeda.

Desta vez, também não há corrida ao dólar, como naqueles tempos. As contas externas, embora não inteiramente equilibradas, não preocupam. E há o colchão de US$ 370 bilhões em reservas externas, o equivalente a 30 meses de importação.

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Também não há bancos à beira do precipício. O sistema financeiro está saudável, ninguém perde o sono, como ao longo da década de 80, com a ameaça de quebra do banco a que tenham sido confiadas as reservas financeiras da família.

Hoje, a área política é o caos que todos presenciam, mas pelo menos a ordem interna não está sendo garantida pelas botas dos militares, como de 1964 a 1985.

Além disso, grande avanço sobre as crises anteriores, o agronegócio vai disparando, o pré-sal depende apenas de leilões de área para deslanchar e está aberta a porta para novas contratações de serviços públicos em infraestrutura, principalmente de rodovias, portos, aeroportos e saneamento.

No entanto, embora não esteja sendo a crise mais braba da história, problemas enormes estão para ser equacionados sem que estejam garantidas bases políticas para isso. 

A bagunça fiscal continuará sendo a mãe de todos os problemas. Ainda não está equacionada a situação dos Estados, a reforma da Previdência vai exigir enorme energia política, ninguém sabe como serão enfrentadas as consequências das delações premiadas, cujo conteúdo deverá ser conhecido nas próximas semanas. O Supremo, do qual se esperava o exercício competente do poder moderador, parece palco armado para performances de atores mais sequiosos por aplausos do que pela defesa do interesse público. 

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E ainda há a levar em conta as incertezas que vêm de 2016 e que tomam conta do cenário externo. Ninguém sabe o que será o governo Trump; o Brexit e os movimentos de rejeição aos imigrantes ameaçam dividir a Europa. Enfim, 2016 semeou incertezas e insegurança. E não só no Brasil.

CONFIRA:

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Nesta segunda-feira o Ministério do Desenvolvimento divulgará o resultado da balança comercial. O mercado financeiro conta com um superávit (exportações menos importações) de US$ 47,1 bilhões, como aponta a Pesquisa Focus do Banco Central (BC). Se confirmado, será recorde histórico. Até aqui, o maior superávit ocorreu em 2006: US$ 46,4 bilhões. Para 2017, o BC, quase sempre conservador demais nas suas projeções, estima um superávit comercial de US$ 44 bilhões, inferior com o qual vai trabalhando o mercado: US$ 46,9 bilhões.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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