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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|A alta dos alimentos

Os alimentos injetaram dúvidas sobre a continuidade do corte de juros em maio

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Os contratos futuros de juros de vencimento mais curto passaram por uma correção na semana passada, quando os investidores começaram a recuar das apostas de que, além do amplamente esperado corte da Selic em 0,25 ponto porcentual para 6,50% hoje, o Banco Central seguiria reduzindo os juros nas reuniões seguintes do Copom, em particular a de maio.

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Parte dessa correção foi reflexo da piora recente nas coletas diárias de preços, apuradas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e monitoradas com bastante atenção pelo mercado. Os preços de alimentos in natura, que até fevereiro estavam em queda, subiram bastante nos primeiros dias de março.

Tal comportamento foi observado nos resultados de dois índices divulgados pela FGV: o IGP-10 de março, que subiu 0,45% ante a alta de 0,23% no mês anterior, e a segunda prévia de março do IGP-M, que avançou 0,59% ante a alta de apenas 0,03% na segunda prévia de fevereiro.

No IGP-10, o culpado foram os preços agrícolas no atacado, os quais saíram de uma queda de 1,0% em fevereiro para uma alta de 2,03% em março. Também no IGP-M, o IPA-Agropecuário passou de deflação de 1,04% em fevereiro para avanço de 2,52% em março.

O comportamento benigno do custo da alimentação nos índices de inflação e a falta de fôlego dos preços de serviços em razão de uma retomada gradual da economia brasileira resultaram na surpresa inflacionária dos últimos meses e abriram espaço para apostas no mercado de que o BC poderia reduzir a Selic para abaixo de 6,50%, com cortes de juros nas reuniões do Copom deste mês e também em maio.

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O temor agora é que a esperada normalização dos preços de alimentos – que estava ocorrendo mais lentamente do que o projetado por analistas após o choque favorável proporcionado por safra agrícola recorde – engate um ritmo mais acelerado daqui em diante e não compense a alta nos custos de outros itens nos índices de preços ao consumidor, especialmente o de energia elétrica.

Nas últimas semanas, os índices de aumento para as distribuidoras que passam por revisão tarifária estão vindo acima do esperado. Exemplos: a Enel, com reajuste médio aprovado de 21,04%, e de alta média de 10,36%, pela Light, além da proposta de elevação média de 25,82% nas tarifas da Cemig.

“Em relação às altas das tarifas de energia, esse é um risco a ser monitorado”, diz Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos. “Acredito que o BC trate desse risco como tratou o choque de alimentos: só reage se os efeitos secundários forem significativos, o que não parece ser o caso em um ano com o hiato tão aberto.”

Quanto à piora dos preços de alimentos in natura na coleta diária da FGV, Solange argumenta que isso não muda em nada a probabilidade do BC cortar 0,25 ponto no Copom hoje nem deve afetar as expectativas de inflação para este ano de forma significativa.

“O cenário de inflação continua extremamente benigno, permitindo ao BC ficar parado com os juros estáveis por um bom período”, diz Solange.

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Na opinião do economista sênior do Haitong Banco de Investimento do Brasil, Flávio Serrano, quem acredita que os juros podem cair abaixo de 6,50% não mudaria essa aposta pela piora recente das coletas de preços, que é derivada do comportamento da alimentação.

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“Quem espera isso considera um quadro em que a inflação vai rodar bastante tempo abaixo da meta, sendo necessário, assim, mais estímulo por parte do Banco Central para fazer a inflação retornar para a meta”, explica Serrano.

Segundo ele, a piora nos preços de alimentos já era amplamente esperada. “Adicionalmente, diversos outros produtos e serviços continuam muito bem comportados”, diz ele.

Na mais recente pesquisa Focus, do BC, a projeção de inflação em 2018 caiu pela 7.ª semana consecutiva, com a mediana apontando alta de 3,63% do IPCA, bem abaixo da meta de 4,5%. Mas, para 2019, a expectativa é de inflação de 4,20%, próxima da meta de 4,25%.

Talvez pela folga pequena entre as expectativas e a meta de inflação para o próximo ano, a piora recente nas coletas diárias de preços de alimentos acabou injetando dúvidas sobre a continuidade do corte de juros em maio, quando a política monetária já estará mirando 2019.

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* COLUNISTA DO BROADCAST

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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