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Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião|A Apple e a indústria

Resultados trimestrais da empresa mostram que, apesar dos smartphones cada vez maiores e conectados, as pessoas ainda gostam de notebooks

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Os resultados trimestrais divulgados pela Apple esta semana traçam um bom panorama de como anda a indústria do hardware: o que vende e o que não. O ano de 2015 foi ruim para a empresa fundada por Steve Jobs, o que fez muita gente cogitar a possibilidade de que o contínuo crescimento pudesse estar batendo no teto. Bem, 2016 sugere o contrário. Houve crescimento forte e o principal responsável, principalmente nos últimos três meses do ano, é o iPhone 7. Naquilo que o modelo 6S desapontou, o 7 compensou.

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Não há surpresa nas boas vendas do smartphone da Apple. Tem sido o mais comum. A surpresa está noutro ponto, a afirmação, pelo CEO Tim Cook, de que o Apple Watch teve seu melhor resultado desde o lançamento. Nunca vendeu como agora, tampouco jamais rendeu tanto dinheiro à companhia.

No lançamento, há dois anos, a expectativa para o relógio inteligente era grande. Já havia outros no mercado, mas a Apple tem esse jeito de pegar produtos existentes, reimaginá-los e convencer muita gente de que não dá para viver sem aquilo. Com o smartwatch, não aconteceu.

Na verdade, o contrário ocorreu: enquanto a turma da maçã apostou na integração com o celular, nos aplicativos e as muitas modalidades de troca de mensagens, o público queria outra coisa. Um aparelho inteligente para monitorar atividade esportiva. A corrida, a natação, a bicicleta, até mesmo as caminhadas do dia a dia. Empresas novas como a FitBit, que se concentraram neste nicho em vez do público geral, tinham produtos melhores. Certamente não tão bonitos. Porém com mais sensores e maior capacidade de avaliar o condicionamento do usuário.

A segunda versão do Apple Watch, lançada no ano passado, foi um reposicionamento na direção da atividade esportiva. Sem declarar, mostrava o óbvio: avaliou errado. Ainda assim, capaz de gerar imenso volume de vendas, a empresa teve o que celebrar. Só uma marca gerou maior faturamento com relógios no mundo: a suíça Rolex.

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Este aumento das vendas do smartwatch que vem agora é compatível com a análise feita pela consultoria Juniper, que prevê um crescimento de 13% ao ano nas vendas de relógios inteligentes até 2021. Eles estimam um mercado anual que deve gerar US$ 21,5 bilhões. Ainda assim, lembram os jornalistas do ZDNet, só neste último trimestre o iPhone rendeu sozinho US$ 54 bilhões. O mercado pode até estar crescendo, mas não deve sair do nicho.

O iPad continua em ritmo de queda. No primeiro trimestre de 2014, 18,6 milhões tablets da Apple foram vendidos. Neste último, 10,6 milhões. Em termos de faturamento, rendeu agora a metade do que valeu no segundo trimestre de 2013. Já o Mac, tradicional computador da Apple, reverteu as quedas que vinha tendo e aumentou em vendas.

Tablets em queda, computadores em alta, isso diz muito não apenas a respeito da Apple, mas sobre toda a indústria. Convencionou-se dizer, nos últimos anos, que estamos entrando na era do pós-PC. Conforme a vida digital vai se espalhando por gadgets mil, ligados à TV, às luzes da casa, ao pulso, todos ancorados no celular, iríamos lentamente abandonar o computador pessoal. Ele próprio se tornaria uma ferramenta de nicho, voltada para trabalho, não mais um aparelho doméstico.

O elemento que falta para esse futuro se realizar é algo maior do que o smartphone. Por mais que estejamos nos acostumando a bater mensagens mais longas nas telas, que aumentam a cada ano, dos celulares, ele tem limites. Na lógica da era pós-PC, é o tablet que ocupa este lugar. É ele que permite navegar na web com mais espaço de tela ou o digitar mais lenta e atentamente um e-mail importante.

Por enquanto, ao que parece, os consumidores seguem preferindo seus notebooks.

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