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‘A grande mudança só vem em 2018’

Para executivo, mesmo assim, novo governo tem a chance de retomar a confiança, com corte de gastos e sem elevar taxas

Por Marina Gazzoni
Atualização:
Indústria voltou aos níveis de 2005, diz Brega Foto: Sérgio Castro|Estadão

Otimista, mas com pés no chão. É assim que João Carlos Brega, presidente da Whirlpool na América Latina, classifica a provável mudança de governo no Brasil. Para ele, um governo de Michel Temer traz “esperanças renovadas” de restabelecer a previsibilidade política no País e de acabar com a recessão.

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À frente da líder no mercado de eletrodomésticos, dona das marcas Consul e Brastemp, Brega defende o corte de gastos públicos e uma presença menor do Estado na economia. Ele refuta veementemente a possibilidade de alta de impostos e defende até a redução da carga tributária brasileira. Leia a seguir a entrevista de Brega ao Estado.

O Senado está prestes a votar o afastamento da presidente Dilma. Qual sua perspectiva?

Esse resultado já está dado. A presidente será afastada. O Brasil, nos últimos dois anos, vinha descendo uma ladeira. Agora, seja do ponto de vista de insatisfação da população com o governo ou da atividade econômica, chegamos em um platô. O governo Temer tem a oportunidade de parar com a recessão e isso dará uma sensação de alívio ao País. Então, existe uma oportunidade de colocar em discussão medidas necessárias. No último um ano e meio, não tocamos em vários assuntos importantes, como o nível de emprego, inflação e reformas necessárias. As pessoas viveram para Brasília e não para o Brasil. Temos um País para administrar e agora vejo uma oportunidade de retomar discussões mais construtivas.

Temer tem condições de aproveitar essa oportunidade?

Tem. Primeiro, o documento “Uma Ponte para o Futuro” realmente tem questões bem alinhadas às necessidades do País. Segundo, o funcionalismo público tem pessoas muito competentes tecnicamente. O ponto é deixar essas pessoas participarem e não fazer loteamento de cargos públicos. Os primeiros sinais apontados por um governo Temer nos deixam com esperanças renovadas. Um deles é a redução de ministérios. Outro é a possível indicação de nomes relevantes como o de Henrique Meirelles para a Fazenda.

Então, o sr. está otimista?

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Otimista, porém, com os pés no chão. Existe muita coisa por fazer. Mas estávamos em um túnel escuro. Paramos e vimos uma luz no fim do túnel. Então, se a gente conseguir chegar lá, maravilha. O novo governo cria novas expectativas e possibilidades. Essa reversão de expectativas vai fazer com que o Brasil continue nesse platô e não desça mais a ladeira. Mas a grande mudança que nós esperamos para o País virá apenas com um presidente eleito em 2018.

É uma boa solução antecipar as eleições presidenciais?

Não. Temos de respeitar a Constituição. Essa é a regra do jogo. Não vamos resolver a crise política mudando a regra no casuísmo, para cá ou para lá. E a primeira coisa que temos de resgatar é previsibilidade política. Não dá para acordar de manhã e um presidente interino da Câmara querer mudar um ato juridicamente perfeito. Isso é instabilidade. Da mesma forma que não dá para alguém, com a melhor intenção que tenha, antecipar as eleições que estão previstas para 2018. Não... Vamos esperar e vamos administrar o País com o que temos. É assim que vamos retomar a previsibilidade política e fazer o País voltar a crescer.

O que deve ser feito para restabelecer a confiança?

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Primeiro, identificar onde estamos com clareza e mostrar aonde queremos chegar em 2018. Depois, definir o que temos de fazer nessa transição. Tudo isso entendendo o que pode ser feito e o que não pode, e que o horizonte de atuação é de dois anos e não de 20.

Quais as principais medidas?

Precisamos direcionar os recursos públicos para onde o Estado tem de estar, que é na saúde, educação e segurança. E deixar as outras áreas sendo reguladas, sim, mas geridas pelo capital privado. Mas, em nome do que quer que seja, não existe nenhum espaço para aumentar impostos. Então, a solução para conter o déficit das contas públicas, é atacar fortemente a eficácia do gasto público.

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Mas o aumento da carga tributária é um dos caminhos para fazer o ajuste fiscal.

O melhor é fazer o ajuste pela despesa. Temos de tornar o gasto público mais eficiente.

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Alguns críticos dizem que medidas como a redução do IPI para a linha branca provocaram um déficit nas contas públicas e ajudaram a colocar o Brasil na crise atual. O sr. concorda?

Imputar o déficit à desoneração da indústria é uma falácia muito grande. Vamos contextualizar. O eletrodoméstico é caracterizado como um bem essencial e hoje ele é o segundo produto mais tributado no Brasil, depois do tabaco. A desoneração de qualquer setor gera empregos. Nunca se gerou tanto emprego na indústria do que durante a chamada desoneração. Não foi isso que levou ao déficit das contas públicas. O que aconteceu foi que se deixou de ter uma receita fiscal e se continuou gastando e gastando mal. Temos de repensar a saída de recursos.

Mais desonerações são necessárias para voltarmos a crescer?

Eu defendo a desoneração como conceito. É inaceitável ter uma carga tributária de 40%. Então, sem dúvida, a desoneração tem de ocorrer. Cabe ao Executivo, junto com o Congresso, discutir com a sociedade como se dará essa desoneração e qual será a contrapartida na redução do gasto público.

Qual sua perspectiva para a economia este ano?

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Infelizmente, neste ano, as vendas de eletrodomésticos devem cair 10%. Em 2017, vai andar de lado. E prevemos uma modesta recuperação em 2018.

Como o sr. explica o cenário brasileiro para seus superiores na matriz da empresa, nos EUA?

A grande dificuldade é entender o que está acontecendo. Todos nós, e eu também, crescemos falando que o Brasil é o País do futuro. Tive uma pequena ilusão por um ou dois anos de que esse futuro tinha chegado. Mas será para minhas filhas ou netos. Na nossa indústria, voltamos ao nível de 2005 em unidades vendidas. Mas isso agora é uma oportunidade. Existe uma capacidade ociosa muito grande na indústria que nos permitirá crescer rapidamente quando o mercado voltar. O povo brasileiro aceita sacrifícios, mas gosta de aproveitar a vida. Há uma demanda dormente por várias coisas, como carros e eletrodomésticos. Assim que tivermos estabilidade, o mercado será retomado.

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