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A hora é agora

Não há motivo para não promover um corte significativo nos juros

Por Luís Eduardo Assis
Atualização:

Não olhe agora – ele é fugidio e pode escapar. Mas há indícios de que o crescimento econômico está de volta. Torturando as estatísticas, elas acabam confessando que o pior já passou. A produção industrial de março, por exemplo, cresceu 0,2% em relação ao mesmo mês de 2016. É uma merreca. Mas trata-se do primeiro indicador positivo depois de 36 meses consecutivos de queda. Para cada indicador positivo ainda é possível encontrar vários negativos. Mas até recentemente todos eram negativos.

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A recuperação será lenta e difusa. Não há nenhum polo de dinamismo que possa nos tirar rapidamente do buraco. Pelo lado do consumo, as perspectivas são limitadas, por causa da combinação perversa de alto endividamento das famílias e desemprego. Os gastos do governo não podem liderar a recuperação, porque já sabemos que isso não dá certo. As exportações sobem em dólares no acumulado de 12 meses, mas, quando convertidas em reais e deflacionadas, mostram ainda uma queda anual de quase 12%. Investimentos privados caminharão a passo de cágado enquanto a capacidade ociosa for expressiva.

Mas não dá para fazer nada para acelerar a recuperação? Dá, o Banco Central pode reduzir mais as taxas de juros. Há várias razões para isso. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado nos 12 meses até abril caiu para 4,08%. É a taxa mais baixa desde julho de 2007. Os juros reais, por sua vez, alcançaram nesse mesmo período 9,02%, o nível mais alto desde junho de 2007. São juros excessivos, mesmo considerando o padrão histórico brasileiro.

Na média dos últimos dez anos os juros reais ficaram em 4,6%. Custou muito caro jogar a inflação para baixo. A combinação entre juros altos, queda de gastos públicos e contração de crédito é algo que não se via há tempos – antes, o governo tentava compensar a elevação dos juros pelo Banco Central com aumento de gastos e expansão creditícia. O resultado foi a recessão mais profunda de que se tem registro. Não há por que insistir na terapia.

Para os próximos 12 meses, o mercado financeiro estima ligeiro crescimento do IPCA, para 4,7%. Não é preciso levar isso muito a sério. Em abril do ano passado, os mesmos economistas acreditavam que a inflação anual em abril de 2017 seria de 6,2%. Erraram feio.

É possível derrubar os juros mais rapidamente porque a inflação já caiu bastante. Mas é também imperativo derrubar os juros porque essa é a única forma hoje de empurrar a economia para a frente e assegurar algum crescimento em 2018. Isso é crucial.

No Brasil, ao contrário do que ocorre nos EUA, o mandato do Banco Central é apenas cuidar da inflação. Mas isso não o proíbe de considerar que vivemos um ano de transição. Sabemos todos que o nível de emprego, a variável econômica que influencia mais diretamente o humor dos eleitores, só vai se recuperar mais adiante. O Brasil fechou 1,63 milhão de vagas com carteira assinada em 2015 e mais 1,37 milhão no ano passado. No ritmo que vamos, deveremos ainda aumentar o estoque de desempregados em 2017 e recuperar parcialmente o emprego apenas em 2018, ano das eleições presidenciais mais importantes dos últimos tempos. Quanto mais crescermos agora, mais cedo se recuperará o emprego. Quanto mais alto o emprego, menor a probabilidade de sucesso de candidatos aventureiros e populistas que, diante dos efeitos colaterais das reformas estruturais, tentarão convencer o eleitorado de que existem soluções fáceis e indolores.

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O Brasil não merece ser ludibriado por uma nova rodada de ideias esdrúxulas. Não há motivo para não promover um corte significativo nos juros. Chegou a hora.

*Economista, foi diretor de Política Monetária do Banco Central e professor da PUC-SP e da FGV-SP. E-mail: luiseduardoassis@gmail.com

Não olhe agora – ele é fugidio e pode escapar. Mas há indícios de que o crescimento econômico está de volta. Torturando as estatísticas, elas acabam confessando que o pior já passou. A produção industrial de março, por exemplo, cresceu 0,2% em relação ao mesmo mês de 2016. É uma merreca. Mas trata-se do primeiro indicador positivo depois de 36 meses consecutivos de queda. Para cada indicador positivo ainda é possível encontrar vários negativos. Mas até recentemente todos eram negativos.

A recuperação será lenta e difusa. Não há nenhum polo de dinamismo que possa nos tirar rapidamente do buraco. Pelo lado do consumo, as perspectivas são limitadas, por causa da combinação perversa de alto endividamento das famílias e desemprego. Os gastos do governo não podem liderar a recuperação, porque já sabemos que isso não dá certo. As exportações sobem em dólares no acumulado de 12 meses, mas, quando convertidas em reais e deflacionadas, mostram ainda uma queda anual de quase 12%. Investimentos privados caminharão a passo de cágado enquanto a capacidade ociosa for expressiva.

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Mas não dá para fazer nada para acelerar a recuperação? Dá, o Banco Central pode reduzir mais as taxas de juros. Há várias razões para isso. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado nos 12 meses até abril caiu para 4,08%. É a taxa mais baixa desde julho de 2007. Os juros reais, por sua vez, alcançaram nesse mesmo período 9,02%, o nível mais alto desde junho de 2007. São juros excessivos, mesmo considerando o padrão histórico brasileiro.

Na média dos últimos dez anos os juros reais ficaram em 4,6%. Custou muito caro jogar a inflação para baixo. A combinação entre juros altos, queda de gastos públicos e contração de crédito é algo que não se via há tempos – antes, o governo tentava compensar a elevação dos juros pelo Banco Central com aumento de gastos e expansão creditícia. O resultado foi a recessão mais profunda de que se tem registro. Não há por que insistir na terapia.

Para os próximos 12 meses, o mercado financeiro estima ligeiro crescimento do IPCA, para 4,7%. Não é preciso levar isso muito a sério. Em abril do ano passado, os mesmos economistas acreditavam que a inflação anual em abril de 2017 seria de 6,2%. Erraram feio.

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É possível derrubar os juros mais rapidamente porque a inflação já caiu bastante. Mas é também imperativo derrubar os juros porque essa é a única forma hoje de empurrar a economia para a frente e assegurar algum crescimento em 2018. Isso é crucial.

No Brasil, ao contrário do que ocorre nos EUA, o mandato do Banco Central é apenas cuidar da inflação. Mas isso não o proíbe de considerar que vivemos um ano de transição. Sabemos todos que o nível de emprego, a variável econômica que influencia mais diretamente o humor dos eleitores, só vai se recuperar mais adiante. O Brasil fechou 1,63 milhão de vagas com carteira assinada em 2015 e mais 1,37 milhão no ano passado. No ritmo que vamos, deveremos ainda aumentar o estoque de desempregados em 2017 e recuperar parcialmente o emprego apenas em 2018, ano das eleições presidenciais mais importantes dos últimos tempos. Quanto mais crescermos agora, mais cedo se recuperará o emprego. Quanto mais alto o emprego, menor a probabilidade de sucesso de candidatos aventureiros e populistas que, diante dos efeitos colaterais das reformas estruturais, tentarão convencer o eleitorado de que existem soluções fáceis e indolores.

O Brasil não merece ser ludibriado por uma nova rodada de ideias esdrúxulas. Não há motivo para não promover um corte significativo nos juros. Chegou a hora.

*Economista, foi diretor de Política Monetária do Banco Central e professor da PUC-SP e da FGV-SP. E-mail: luiseduardoassis@gmail.com

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