EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Jornalista e comentarista de economia

Opinião|A inflação ainda não cede

Não se repetiu em abril a inflação mais fraca de março, quando o IPCA havia avançado 0,43% e parecia definir um novo padrão para os preços no varejo

PUBLICIDADE

Foto do author Celso Ming
Atualização:

A inflação de abril ficou mais alta do que o esperado. Ficou em 0,61%, o que surpreendeu os analistas que trabalhavam com a expectativa de uma alta restrita à faixa do 0,48% a 0,55%. Ninguém contava com o reajuste de 4,0% nas tarifas dos celulares e houve, também, as correções dos serviços de saúde.

Assim, não se repetiu em abril a inflação mais fraca de março, quando o IPCA havia avançado 0,43% e parecia definir um novo padrão para os preços no varejo.

IPCA Foto: Infográficos|Estadão

PUBLICIDADE

No entanto, medida em 12 meses, a inflação caiu mais alguma coisa, de 9,39% em março para 9,28% em abril. Desta vez, está menos espalhada. Há menos itens da cesta de consumo que acusaram alta de preços, ou 67,7% deles, em abril. Em março o índice de difusão foi de 70,1%.

A aposta predominante no mercado financeiro é a de que a inflação deste ano ficará abaixo dos 7%, no entanto, ainda acima do teto da meta (6,5%). Mas há certas razões para contar com que esse número acabe sendo mais baixo. Como é altamente provável que a presidente Dilma seja afastada, é de supor que a inflação seja influenciada pelas mudanças que virão com a política econômica do novo governo.

O provável futuro ministro da Fazenda do governo Temer, o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, não mais esconde que deverá atacar o problema de base, ou seja, deverá atacar a desordem das contas públicas, com metas realistas e muita disciplina. Se for assim, poderá ser recuperada boa parte da confiança que foi por água abaixo ao longo da administração perdulária e escamoteadora do governo Dilma. E isso já será um bom caminho andado, não só para conter o avanço da dívida pública, mas também para melhorar o controle da inflação, como o Banco Central deixou claro na última Ata do Copom divulgada.

Publicidade

Na quinta-feira, a agência de classificação de risco Fitch voltou a rebaixar a qualidade dos títulos de dívida do Brasil, de BB+ para BB e, ainda, a manteve em perspectiva negativa (tendência a novo rebaixamento). A explicação para esse passo é a inconsistência da política econômica do governo no combate ao rombo de maneira a abrir caminho para a volta do crescimento. A inflação alta demais também faz parte desse quadro, que, espera-se, seja revertido pelo próximo governo.   Isto posto, o que esperar da política monetária (política de juros) nos próximos meses? O Banco Central mandou seu recado por meio da última ata: ainda não estão dadas condições técnicas para puxar os juros para baixo.

É uma afirmação que tem de levar o desconto de que a mudança de orientação da política econômica deve alcançar também o Banco Central, no sentido de que uma política fiscal mais consistente terá tudo para criar condições para que, mais adiante, os juros possam cair mais rapidamente.

Mas, no que ficou avançado aqui na Coluna da última terça-feira, ninguém deve esperar por pressões do novo governo para que o Banco Central se apresse a derrubar os juros sem que haja contrapartida de ordenamento das contas públicas. 

CONFIRA:

Evolução dos preços Foto: Infográficos|Estadão

No gráfico, a evolução dos preços livres e administrados.

Publicidade

Continua pesando As estatísticas de abril levantaram dúvidas sobre a duração do processo de realinhamento dos preços administrados, ou seja, das tarifas e preços determinados por lei ou vontade de quem manda. E nessa lista estão a conta de luz, os preços dos combustíveis, da telefonia e as tarifas da condução urbana. Quando se imaginava que a maior parte do ajuste estava feita, eis que, em abril, os preços administrados subiram bem mais do que os preços livres: 10,69% ante 8,85%.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.