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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|A inflação de Dilma ou de Temer

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O IPCA – índice oficial de inflação – vem desacelerando numa velocidade surpreendentemente maior do que as projeções dos analistas para esse indicador ao fim de 2016. Amanhã, será divulgado o IPCA de março e a expectativa é de que, pela primeira vez desde outubro do ano passado, a inflação fechada para o mês fique abaixo de 10% na taxa acumulada em 12 meses. O índice mensal esperado é ao redor de 0,46%, numa desaceleração substancial comparada com a alta de 1,27% registrada em janeiro, quando a taxa em 12 meses bateu em 10,71%.

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No pico de pessimismo em relação à variação da inflação em 2016, os analistas ouvidos na pesquisa semanal Focus, do Banco Central, chegaram a prever, em meados de fevereiro, uma alta de 7,62%. A estimativa mais recente desses analistas para a inflação de 2016 também teve queda, porém bem mais tímida do que a dos preços correntes: 7,28%. Isso apesar da forte desvalorização do dólar que, somente em março, perdeu 10% do seu valor frente ao real.

Se a recessão, o recuo de alguns preços controlados pelo governo e o dólar mais fraco vêm segurando a inflação, por que os analistas ainda resistem a reduzir com mais força suas projeções?

A resposta deve-se, em grande parte, ao elevado grau de incerteza do ambiente político. Mais precisamente se a inflação, no segundo semestre deste ano, será a da presidente Dilma Rousseff, a de um eventual governo Michel Temer ou até uma terceira via. Ou seja, se vai ou não haver o impeachment da presidente.

Disso dependerá a cotação do dólar, variável fundamental para os preços de muitos produtos. O recuo da moeda americana foi alimentado nas últimas semanas pela expectativa do afastamento da presidente Dilma, com uma troca de governo e, por tabela, dos rumos da economia brasileira.

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O BC estima uma inflação de 6,6% em 2016, levando em conta uma cotação do dólar a R$ 3,70 e uma taxa básica de juros em 14,25%. O objetivo do BC é baixar a inflação, ao fim do ano, para o teto da sua meta, que é de 6,5%. Para o IPCA recuar a um patamar próximo desse teto neste ano é imperativo, portanto, manter o dólar abaixo de R$ 4.

Com o câmbio inferior a esse patamar, a desaceleração da inflação pode surpreender ainda mais por outros fatores. Vários analistas embutem nas suas projeções para a variação do IPCA uma elevação da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre os combustíveis. Isso está ficando cada vez menos provável.

Por outro lado, muitas estimativas não levam em conta uma eventual redução no preço da gasolina e do diesel, como se especula nos últimos dias. Só a gasolina tem um peso de 4% no IPCA. Quase ninguém esperava no início do ano a mudança na bandeira tarifária de energia elétrica, de amarela para verde, com redução nas contas de eletricidade.

Com o aumento no desemprego e perda na renda dos trabalhadores, o preço de serviços – outrora vilão da inflação – pode ceder com mais força. Mas o dólar permanecerá abaixo de R$ 4 no segundo semestre se a presidente Dilma vencer a batalha do impeachment e permanecer no cargo?

Não, principalmente porque os investidores não creem numa melhora da política fiscal e, consequentemente, da trajetória da dívida pública se a condução da economia estiver sob o comando de Dilma. Se houver uma reversão da expectativa em relação ao impeachment, o dólar deve voltar a superar R$ 4. Nesse cenário, é difícil esperar queda nas projeções de inflação. E, enquanto houver dúvida sobre quem estará na presidência no segundo semestre, a velocidade na queda dos preços correntes terá um impacto limitado nessas estimativas.

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Para o IPCA chegar próximo ao patamar de 6,5% este ano, o dólar deve ficar abaixo de R$ 4

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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