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A invasão dos robôs

Por Renato Cruz
Atualização:

O tempo dos robôs burros das linhas de montagem está ficando para trás. Uma nova geração de máquinas - versáteis, com sensores, que aprendem com a própria experiência - começa a chegar ao mercado e a assumir trabalhos que até então pareciam exclusivos de seres humanos. Na edição mais recente da revista Wired, o jornalista Kevin Kelly escreve sobre como as máquinas vão tomar o lugar das pessoas no trabalho, e sobre como isso é uma coisa boa. Você pode considerar Kevin Kelly - autor do livro Para Onde Nos Leva a Tecnologia (Editora Bookman) - um otimista. Ele lembra que, nos últimos dois séculos, as máquinas substituíram 99% dos trabalhadores que viviam no campo nos Estados Unidos, e que esse movimento acabou criando novas profissões. Em seu livro, que em inglês se chama What Technology Wants (O que a tecnologia quer), Kelly argumenta que o avanço tecnológico leva à criação de ferramentas cada vez mais diversificadas, para aumentar a possibilidade de escolha das pessoas. O velho Marshall McLuhan já havia dito, no século passado, que a tecnologia é uma extensão do homem: a televisão é uma extensão dos nossos olhos, o carro, das nossas pernas, o fogão, dos nossos estômagos. Com pouca tecnologia, a atividade humana fica restrita a satisfazer necessidades básicas, como alimentação e abrigo. O avanço tecnológico cria uma ampla gama de atividades que podemos escolher. Na revista, Kevin Kelly escreve que, no limite, por mais que as máquinas evoluam, sempre sobrará um trabalho para as pessoas: encontrar novas aplicações para os robôs.Em 2011, a Foxconn anunciou sua intenção de equipar suas linhas de montagem com 1 milhão de robôs em três anos. Maior fabricante de eletrônicos do mundo, a empresa taiwanesa monta produtos de grandes marcas ocidentais, como a Apple, principalmente na China. Ao fazer o anúncio, a Foxconn se disse preocupada com o aumento dos custos da mão de obra. No ano passado, a Amazon comprou, por US$ 775 milhões, a Kiva Systems, fabricante de robôs para automatizar grandes centros de distribuição.Muitas vezes discutimos os ganhos de produtividade trazidos pela tecnologia como se fossem algo abstrato. Na prática, são o resultado do que acontece quando um profissional consegue fazer o trabalho de vários, com o auxílio de ferramentas tecnológicas. O aumento dos custos de mão de obra na China e a queda no preço da automação têm feito com que várias empresas americanas levem de volta para o seu país linhas de produção que estavam no exterior. Um exemplo é a GE, que começou a levar, em 2012, a fabricação de eletrodomésticos de volta para o Appliance Park, em Louisville, Kentucky. Na década de 1960, o complexo industrial produzia 250 mil unidades por mês. Segundo a revista The Atlantic, a produção atual de equipamentos como aquecedores de água e geladeiras de alto padrão já está próxima desse volume, exigindo somente cerca de um terço da força de trabalho que existia há 50 anos. A Apple foi outra empresa que anunciou a volta para os EUA, com a produção de computadores Macintosh este ano.Mas onde estão os robôs de uso geral, como a Rosie, do desenho dos Jetsons? A difusão de sensores - de que tratei numa reportagem publicada na semana passada neste jornal ("As máquinas que preveem o que você quer", 1/1/2013) - aproxima esse conceito da realidade. Baxter, um robô produzido pela RethinkRobotics, tem dois grandes braços e uma tela no lugar do rosto. Diferentemente dos robôs industriais convencionais, o Baxter usa seus sensores para evitar colisões com pessoas. Um par de olhos desenhados na tela mostra para onde sua atenção está voltada. Além disso, ele não precisa ser programado. É possível ensinar tarefas para ele simplesmente movimentando seus braços. Para Kevin Kelly, Baxter está para outros robôs como os primeiros PCs estavam para os computadores de grande porte. Apesar de ter menos recursos (como força e precisão), é fácil de usar e custa menos: US$ 22 mil, comparados a US$ 500 mil de seus antecessores. Fundada pelo pioneiro da robótica Rodney Brooks (inventor do robô aspirador de pó Roomba), a RethinkRobotics fabrica o Baxter em Boston, nos EUA.

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