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A partir do 10º ano, presidente poderá propor mudança no teto de gastos

Nos nove primeiros anos, de um total de 20, o limite das despesas públicas será o gasto do ano anterior corrigido pela inflação; Meirelles diz que é preciso 'ter qualidade no gasto'

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Por Redação
Atualização:

BRASÍLIA - O Ministério da Fazenda oficializou nesta quarta-feira, 15, que o teto dos gastos públicos terá validade de 20 anos, com possibilidade de revisão da regra a partir do 10º ano. A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) foi apresentada nesta manhã aos parlamentares, em reunião com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e com o presidente em exercício, Michel Temer. O Estado já havia antecipado o texto do projeto na edição desta terça-feira. O início da vigência da PEC será em 2017, quando o limite dos gastos totais equivalerá à despesa paga no ano anterior corrigida pela inflação, medida pelo índice oficial (IPCA).

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Meirelles disse que o prazo de vinte anos é maior do que as estimativas dos analistas de mercado. "É um regime de longa duração. Vinte anos de duração total é muito maior do que a grande maioria ou a totalidade dos analistas estava prevendo", disse. Ele citou que alguns economistas apontavam sete ou oito anos como prazo suficiente para diminuir a relação da dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB).

Ele confirmou que, a partir do 10º ano, o presidente da República poderá propor ao Congresso uma mudança na metodologia de cálculo do limite anual dos gastos, que, se aprovada pelos parlamentares, vigorará pelo restante dos anos. O ministro destacou que o crescimento real das despesas de um ano para o outro, a partir de 2017, caso a PEC seja aprovada, valerá para todos os três Poderes.

Meirelles destacou que o Brasil precisa adotar uma série de medidas para alcançar um alto padrão de emprego e renda e que isso só é possível com controle de seu Orçamento. "Aqueles países que controlam seu orçamento não só gastam apenas aquilo que podem, como gastam bem", disse. "É preciso ter qualidade do gasto."

Temer e Meirelles participaram de reunião com parlamentares para discutir as medidas Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

O texto da PEC incluirá também os gastos com Saúde e Educação, atualmente limitados a um porcentual da arrecadação. A partir de 2017, com a PEC aprovada, as despesas dessas duas áreas serão limitadas ao que foi gasto no ano anterior, com a correção da inflação.

"Nada impede que o Congresso decida alocar mais despesas às duas áreas caso julgue que são mais importantes que outras despesas do Orçamento", explicou Meirelles. Ou seja, é possível mais do que o aumento real para essas duas áreas, desde que haja corte em outras despesas. No total, os gastos públicos não poderão aumentar mais do que a inflação do ano anterior. "Tem que ser definido pela sociedade, através dos seus representantes no Congresso", afirmou.

Em 2016, o gasto previsto para a Saúde será equivalente a 13,2% das receitas líquidas. Esse valor segue uma regra que entrou em vigor neste ano. Antes, o piso era estabelecido de acordo com outra lógica, o desembolsado no ano anterior, corrigido com a variação do PIB. Na Educação, a União é obrigada a gastar 18% da arrecadação dos impostos federais.

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O governo deixou de fora do teto dos gastos públicos as transferências constitucionais a Estados, municípios e Distrito Federal e os créditos extraordinários, além de complementações ao Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e despesas com as eleições. A capitalização de estatais também será exceção à regra. 

O ministro da Fazenda voltou a repetir que as despesas públicas no Brasil cresceram de maneira insustentável. Segundo ele, de 1997 a 2015, a expansão foi, em média anual, de 6% acima da inflação. Nos últimos anos, o ritmo se acentuou. De 2008 a 2015, as despesas totais cresceram 50% acima da inflação, enquanto as receitas cresceram 17%.

Tramitação. O recurso que o presidente afastado da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), vai apresentar na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) contra a decisão do Conselho de Ética deve atrasar a tramitação da PEC. A partir do momento em que Cunha protocolar seu recurso, o pedido trancará a pauta da CCJ, pois o processo dele já ultrapassou o prazo limite de 90 dias para duração de um processo disciplinar no Conselho de Ética. O parecer pela cassação do peemedebista foi votado ontem no conselho após 225 dias de tramitação do processo.

A CCJ é o primeiro estágio de análise da PEC na Câmara. Na comissão, deputados analisarão a constitucionalidade da proposta. Somente após a comissão aprovar a admissibilidade, ela poderá seguir para comissão especial que analisará o mérito da matéria. Aprovada nesse colegiado, a matéria poderá seguir para o plenário.

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A comissão especial terá até 40 sessões para concluir os trabalhos e votar a matéria. Esse prazo, contudo, depende de fatores políticos. A PEC que prorroga a Desvinculação de Receitas da União (DRU), por exemplo, passou mais de seis meses parada em uma comissão especial da Câmara. 

Mesmo com a possibilidade de atrasos, a expectativa do líder do governo na Câmara, deputado André Moura (PSC-SE), é votar a PEC que limita os gastos públicos no plenário até o final de julho, antes do início da campanha eleitoral municipal, quando as atividades na Casa diminuem de ritmo. 

Retomada. Meirelles também afirmou nesta quarta-feira que, além das medidas previstas na PEC dos gastos públicos, o governo continuará trabalhando para reequilibrar as contas e fazer o País voltar a crescer. "Outras medidas virão visando exatamente que se possa acelerar a retomada da atividade econômica", disse. "São medidas de aumento de produtividade, seja na área de infraestrutura ou em diversas outras", completou.

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Meirelles afirmou ainda que "esse trabalho não termina hoje". "Hoje se apresenta a parte mais relevante", disse. "Evidentemente que existem trabalhos que continuam, há um força tarefa importante", afirmou.

O ministro citou ainda as negociações em torno da Reforma da Previdência, disse que o tema não foi tratado hoje. "Isso é uma outra conversa especifica. Existe uma série de outras discussões que deverão existir e que certamente farão parte do processo do controle, da evolução, controle de despesas públicas", disse.  

(Com informações de Murilo Rodrigues Alves, Adriana Fernandes, Idiana Tomazelli, Carla Araújo e Igor Gadelha)