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Opinião|A queda de braço entre 'pombos' e 'falcões' no Fed

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CENÁRIO

Investidores e analistas terão de levar em conta um importante fator para afinar suas apostas em relação ao "timing" e ao ritmo do ciclo de alta de juros nos Estados Unidos: a nova composição dos membros votantes do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve (Fed) em 2015.

Isso porque, ao contrário deste ano, os "doves" (ou pombos, no jargão financeiro, para caracterizar aqueles menos agressivos em termos de aperto monetário) estarão presentes em número muito maior como membros votantes do Fomc justamente no ano em que o Fed começará a elevar a taxa básica de juros, a qual desde a crise financeira de 2008 é mantida próxima de zero.

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O Fomc é composto de 12 membros, sendo sete representantes do Board of Governors (ou a Diretoria), o presidente do Fed de Nova York e mais quatro outros presidentes dos 11 restantes Fed regionais. São esses presidentes dos 11 Fed regionais que se alternam a cada ano votando no Fomc. Os que não têm direito a voto em determinado ano, isto é, os suplentes, podem apenas participar da reunião do Comitê, ou seja, têm voz, mas não voto.

Em 2014, os membros votantes desse grupo rotativo no Fomc incluem os presidentes regionais do Fed de Dallas, Richard Fisher; o de Filadélfia, Charles Plosser; o de Minneapolis, Narayana Kocherlakota; e o de Cleveland, Loretta Mester. Desses, os mais ferrenhos falcões (ou "hawkish", mais agressivos em termos de aperto monetário) do Fomc são Fisher e Plosser.

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E justamente Fisher e Plosser lideraram as pressões para que a ata do Fomc contivesse uma avaliação melhor da saúde da economia americana e, por tabela, a perspectiva de que o início do ciclo de alta de juros poderia ocorrer antes do esperado.

Em 2015, deixam de ser suplentes e passam a ter direito a voto os presidentes do Fed de Atlanta, Dennis Lockhart; o de San Francisco, John Williams; o de Chicago, Charles Evans; e o de Richmond, Jeffrey Lacker. Desses, Evans é um pombo assumido, enquanto Lockhart e Williams costumam ter posições mais "dovish". Já Lacker está no time dos falcões. Isso, sem contar, obviamente, com os membros votantes permanentes como a presidente do Fed, Janet Yellen, considerada um dos mais influentes "dove" do Fomc de há muito tempo - além de outros pombos com assentos permanentes como Daniel Tarullo e William Dudley.

"Com a primeira alta da taxa de juros esperada em 2015, o foco deverá ser sobre aqueles que votarão no ano que vem e não necessariamente os falcões mais estridentes neste ano", disse em nota a clientes a estrategista de câmbio do Scotiabank, Camilla Sutton. Já o estrategista de juros para Estados Unidos da corretora TD Securities, Gennadyi Goldberg, ressalta que uma composição mais "dovish", com a saída em maior número de falcões como membros votantes do Fomc em 2015, não necessariamente significa que os pombos votem contra aumentos da taxa de juros, mas que eles adotem uma postura mais cautelosa na hora de votar pelo aperto monetário. "A voz dos falcões ainda será ouvida nas reuniões do Fomc, mas certamente o número maior de pombos votando no Fomc resultará em uma postura mais cautelosa", disse Goldberg.

A discussão sobre uma possível antecipação do ciclo de aperto monetário pelo Fed tornou-se mais acalorada ontem, depois do surpreendente tom da ata da última reunião do Fomc, fazendo o dólar se valorizar frente às principais moedas internacionais e o juro dos títulos do Tesouro americano disparar.

* Jornalista da 'Agência Estado'

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Opinião por Fábio Alves

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