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A reconstrução da Samsung

Proposta de fundir duas empresas do grupo agita mercado

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Por Redação
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Para muitos consumidores sul-coreanos, os chaebols, conglomerados de empresas controladas por famílias que estão em tudo, da eletrônica aos parques de diversão, são uma fonte de orgulho. Para investidores, eles podem ser uma dor de cabeça. Os acionistas foram lembrados disso em maio, quando a Samsung propôs fundir duas de suas filiais: Cheil Industries, a holding do grupo, e a Samsung C&T, a maior empresa de construção do país (que ergueu o edifício mais alto do mundo, o Burj Khalifa, em Dubai). Quando o acordo foi anunciado, o preço das ações da Cheil estava perto do seu ponto mais alto desde seu IPO (oferta inicial de ações) em dezembro, e o das ações da C&T estava perto de um ponto mais baixo em cinco anos. A corretora de valores CLSA disse que o negócio daria as operações centrais da C&T “praticamente de graça” à Cheil, depois de subtrair o valor de suas participações em companhias de outro grupo. Isso conviria a Lee Jae-yong, o filho único do chairman da Samsung, Lee Kun-hee. O Lee pai está hospitalizado há mais de um ano desde um ataque cardíaco; seu filho está se preparando para pagar cerca de US$ 5 bilhões de impostos sobre transmissão de herança enquanto mantém o controle familiar do grupo mediante pequenas participações num emaranhado de participações acionárias cruzadas. A fusão permite que Lee consolide essa estrutura, e ganhe mais de US$ 12 bilhões em participações em outras companhias da Samsung, incluindo uma participação extra de 4,1% na Samsung Electronics, a principal empresa do grupo. Vamos com calma, disse o Elliott Management. O fundo hedge americano (amplamente conhecido como fundo “abutre” por seus investimentos em dívidas arriscadas) aumentou sua participação na C&T após a fusão ser anunciada, tornando-se seu terceiro maior investidor, e protocolou uma ação judicial para bloquear o negócio. O Elliott argumenta que a fusão é injusta para acionistas da C&T, que ele diz que perderão US$ 7 bilhões pela enorme disparidade nas valorizações das duas empresas: quando a fusão foi anunciada, as ações da Cheil estavam sendo negociadas a 130 vezes os lucros projetados, enquanto a relação da C&T havia caído para aproximadamente 20. (As empresas no índice KOSPI da Coreia do Sul têm uma relação média de preço/lucro em torno de 11). Um tribunal em Seul rejeitou duas injunções protocoladas pelo Elliott para tentar sustar o negócio; a corte decidiu que a relação pela qual as ações da C&T serão trocadas por ações da Cheil não indicou nenhuma manipulação de preço. A legislação sul-coreana diz que a relação deve se basear nos preços médios das ações no mês anterior, uma fórmula que a Samsung empregou. A Samsung diz que o negócio “em última análise aumentará o valor acionário” ao fundir a rede global de seu braço de construção com os negócios de alimentos e moda da Cheil, embora seja vaga sobre como a junção de empresas de setores tão distintos economizará muito dinheiro. O conflito atingirá a um momento crucial em 17 de julho, quando acionistas da C&T votarão sobre o acordo. Duas influentes empresas de aconselhamento de investidores, a ISS e a Glass Lewis, recomendaram que seus clientes rejeitassem o negócio, e cada lado está fazendo lobby sobre os acionistas, formados por investidores estrangeiros (que detêm cerca de um terço das ações da C&T), investidores privados domésticos (que detêm pouco mais de um terço) e o Serviço Nacional de Pensão (NPS) da Coreia do Sul, que detém quase 12% e pode ser o fiel da balança. Em novembro, uma tentativa de fundir duas outras companhias, a Samsung Heavy Industries e a (deficitária) Samsung Engineering, foi bloqueada pelo NPS, que ameaçou exercer uma opção para vender suas ações de ambas as empresas em vez de ficar com uma participação na entidade resultante da fusão. Shin Jang-sup, um economista da Universidade Nacional de Cingapura, diz que o Elliott já se beneficiou generosamente com seu investimento na C&T, com ganhos que ele calcula em mais de 100 bilhões de won (US$ 100 milhões). Na visão de Shin, a Coreia do Sul tem regulamentos de trading rígidos e um imposto pesado sobre direitos de gestão herdados: é por estarem submetidos a regulamentos tão rígidos, diz ele, que os chaebols procuraram maneiras de contorná-los. As reformas radicais após a crise financeira asiática de 1997-98 fortaleceram os direitos de acionistas e requereram que grandes companhias de capital aberto contratassem mais diretores de fora do grupo, o que, durante algum tempo, colocou a Coreia do Sul à frente do Japão na força de sua legislação sobre governança corporativa. Mas o lobby feito pelos chaebol depois disso desfez boa parte das benfeitorias, diz Kim Woo-chan, um economista da Universidade da Coreia em Seul. Somente um grande chaebol, LG, trocou as participações acionárias cruzadas por uma estrutura de companhia holding transparente. A Coreia do Sul hoje figura no fundo das tabelas de governança corporativa asiática, ao lado de Indonésia e Filipinas. A baixa valorização de empresas sul-coreanas em relação a suas congêneres de países desenvolvidos, conhecida como “desconto da Coreia”, é atribuída a preocupações com sua governança corporativa. No ano passado, a Hyundai Motors preocupou investidores quando comprou terra em Seul por 10,6 trilhões de won, o triplo de seu valor avaliado, para uma nova sede luxuosa. Na década passada, os chefes de quatro chaebols - Samsung, Hanwha, Hyundai Motors e SK Telecom - foram condenados por crimes. O governo começou a pressionar empresas para redistribuírem suas imensas pilhas de dinheiro em salários e dividendos mais altos. A presidente do país, Park Geun-hye, capitaneou inicialmente a “democratização econômica” - com a aprovação de uma lei para conferir maiores poderes à Comissão de Livre Comércio do país para multar transações ilegais que beneficiem membros de famílias chaebol, e outra impedindo novas participações acionárias cruzadas. Depois disso, porém, ela se concentrou em reanimar uma economia apática e dependente do chaebol: no ano passado, dois de seus ministros sugeriram que os magnatas condenados fossem perdoados se pudessem contribuir para melhorar o crescimento econômico. Bruce Lee, chefe da Zebra Investiments, um dos novos fundos da Coreia do Sul focados em governança corporativa, diz que mesmo que a iniciativa do Elliott fracasse, ela é apenas “o começo de problemas crescentes”: seu questionamento surge num momento em que questões de sucessão assomam em outro chaebol - e em que os sul-coreanos estão ficando cada vez mais frustrados com o sentimento de direito das famílias. Numa rara demonstração de solidariedade, um grupo de pequenos acionistas da C&T delegaram seus direitos votantes ao Elliott. Alguns chegaram até a comprar suas primeiras ações da C&T só para votar contra a fusão. 

© 2015 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. TRADUZIDO POR CELSO PACIORNIK. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM.

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