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A revolução da cashmere

Manifestantes cansados do intervencionismo de Dilma protestam contra a política econômica que consideram 'irresponsável' e que 'levou o Brasil a um beco sem saída de baixo crescimento e alta inflação'

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Por Redação
Atualização:
Manifestação a favor de Aécio Neves em São Paulo descrita pela Economist.com Foto:

Barões dos negócios e financistas não costumam ir às ruas protestar. Mas, no dia 22 de outubro, milhares deles foram ao centro de São Paulo para apoiar Aécio Neves, candidato de centro-direta que desafia a atual presidente e candidata à reeleição, Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores, de centro-esquerda, num apertado segundo turno a ser disputado no dia 26 de outubro. 

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Ao lado dos cônjuges e filhos eles desfilaram pela Avenida Faria Lima, em São Paulo, uma ampla via convenientemente situada perto de muitos dos seus escritórios.

Foi uma cena memorável - talvez algo sem precedentes na história das eleições, e não somente no Brasil. Sujeitos de terno com camisas bem passadas e gravadas com suas iniciais, portando bandeiras de Aécio.

 Socialites bem vestidas, envoltas em elegantes cachecóis para afastar o frio fora de estação, entoando slogans contra o PT. Todos tirando selfies com caros iPhones (a maioria dos comícios no Brasil é fotografada com modelos Samsung, mais baratos). 

A única coisa faltando nessa "revolução da cashmere" eram as taças de champanhe - e o próprio Aécio, que fazia campanha em seu estado natal, Minas Gerais.

"A maior parte do PIB brasileiro está aqui", observou um diretor de firma de private equity com quatro adesivos de Aécio colados na camisa xadrez, pouco depois de ter encontrado um colega que trabalha numa grande empresa americana de tecnologia. 

Nesse sentido, o evento foi exatamente como uma descrição da propaganda do PT, que promove uma campanha incansável para tachar Aécio de fantoche da elite rica. 

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No dia 21 de outubro, Luis Inácio Lula da Silva, o popular antecessor e mentor político de Dilma conhecido por seu estilo descomplicado, chegou a comparar o partido de Aécio, PSDB, aos nazistas por sua aparente intolerância diante dos menos avantajados. (Anteriormente, Aécio tinha comparado os formidáveis marqueteiros de Dilma a Joseph Goebbels.)

Os revolucionários de cashmere parecem não se incomodar. Dizem estar cansados do intervencionismo de Dilma e daquilo que muitos enxergam como políticas macroeconômicas irresponsáveis que teriam levado o Brasil a um beco sem saída de baixo crescimento e alta inflação. 

A maioria anseia por vê-la pelas costas, e esperam que sua demonstração de apoio ajude a fazer a balança pender em favor do candidato mais favorável aos mercados. Na Faria Lima, o diretor local de uma multinacional europeia (vestindo um terno impecável, é claro) admitiu que o comício pode servir como munição para o PT. Mas "Estamos aqui para mostrar o que pensamos", acrescentou ele.

© 2014 The Economist Newspaper Limited. Todos os direitos reservados.

Da Economist.com, traduzido por Augusto Calil, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado no site www.economist.com

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