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A Tailândia é o próximo Japão

Outrora o mais frenético dos mercados emergentes, a Tailândia hoje vem envelhecendo num ritmo rápido

Por The Economist
Atualização:

Há 20 anos a Tailândia era o mais tórrido dos mercados emergentes. Depois de um período de crescimento superaquecido e enormes déficits em conta corrente, o país esgotou suas reservas em moeda estrangeira e perdeu sua paridade cambial com o dólar. Como resultado, a inflação se aproximou dos 10% e o Banco da Tailândia lutou para devolver a confiança na moeda local, o baht. Em um documento amplamente citado elaborado por Romain Rancière, da Universidade do Sul da Califórnia, e dois coautores, a Tailândia foi usada como exemplo de que dinamismo e perigo, crescimento rápido e crises ocasionais caminham juntos.

Receitas com turismo aumentaram 11,7% no ano passado Foto: Reuters

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Alguns mercados emergentes hoje ainda mantêm esse tipo de avanço acelerado. A Turquia, por exemplo, tem combinado um crescimento vertiginoso com uma inflação de dois dígitos e uma preocupante desvalorização da lira. Mas a Tailândia não é um desses países. O investimento privado expandiu somente 1,7% no ano passado. Os títulos soberanos do país rendem menos do que os dos Estados Unidos. A inflação novamente preocupa, não porque está muito alta, mas pelo contrário, está persistentemente baixa. Os preços ao consumidor aumentaram somente 0,8% em março, segundo dados divulgados na semana passada. A inflação continua abaixo da meta estabelecida, entre 1% a 4% para 13 meses consecutivos. A inflação subjacente, excluindo os alimentos crus e energia, está abaixo de 1% há quase três anos.

“É o Japão”, disse um observador veterano da economia da Tailândia. “O país tem a demografia do Japão de 25 anos atrás e está no mesmo caminho de uma inflação zero, taxas de juro muito baixas e um enorme superávit em conta corrente.” 

Em 2022, a Tailândia será o primeiro país em desenvolvimento a se tornar uma sociedade “envelhecida”, de acordo com o Banco da Tailândia, com mais de 14% da população com idade superior a 65 anos. O número de pessoas idosas aumenta mais rápido na Tailândia do que na China.

Mas um futuro incerto não é desculpa pelo presente sedentário. A situação demográfica deve, pelo contrário, criar um sentido de urgência. O país deveria estar investindo em infraestrutura e maquinário para garantir que uma mão de obra menor no futuro esteja bem equipada para sustentar uma grande população de aposentados.

Passividade. Infelizmente, os dirigentes econômicos do país mostram a mesma passividade macroeconômica que outrora paralisou o Japão. O Banco da Tailândia não reduz os juros desde abril de 2015. Na sua reunião mais recente, um membro chegou até a votar em aumento, por temor de as pessoas se acostumarem demais com financiamentos fáceis.

Esse conservadorismo é profundo. O Banco da Tailândia foi fundado em 1942, logo após uma hiperinflação durante a guerra que deixou uma marca duradoura nos políticos tailandeses. O primeiro presidente do banco gostava de citar a Alemanha de Weimar como exemplo do que pode dar errado se a estabilidade de preços for negligenciada. Para Puey Ungphakorn, presidente do banco que se manteve por mais tempo no cargo, a oferta de dinheiro não deveria, como regra, aumentar mais do que dois a três pontos porcentuais mais rápido do que o Produto Interno Brito (PIB). “Em sua opinião, a estabilidade econômica era preferível ao crescimento rápido”, escreveram Peter Warr e Bhanupong Nidhiprabha, no livro “Thailand’s Macroeconomic Miracle”, publicado em 1996.

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A Tailândia pode estar preocupada com a reação dos Estados Unidos a mais um afrouxamento monetário que ajudaria a reverter a recente força do baht. Os EUA decidirão este mês se rotularão alguns parceiros comerciais de “manipuladores monetários”.

A Tailândia é o único país na Ásia que atende a todos os três critérios para isso (um superávit comercial de US$ 20 bilhões com os Estados Unidos, um enorme superávit em conta corrente e um acúmulo de reserva considerável), sublinha a consultoria Capital Economics. Mas a Tailândia é provavelmente um país pequeno demais para despertar muito interesse, sem falar em ira, de Washington.

Na ausência de um afrouxamento monetário, o país deve depender de uma política fiscal mais expansiva. Infelizmente o investimento público, que encolheu 1,2% no ano passado, tem sido protelado. Somente em dezembro os operários deram início aos trabalhos da construção de uma linha ferroviária de alta velocidade que vai ligar a Tailândia, o Laos e a China.

A Tailândia também está ficando mais próxima do Japão na sua crescente antipatia para com os imigrantes. O governo impôs no ano passado duras penalidades contra imigrantes ilegais, muitos deles originários do Vietnã e de Mianmar, que as pessoas acham que estão roubando empregos e não rejuvenescendo uma mão de obra que vem envelhecendo.

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A Tailândia aprecia mais aqueles que chegam para gastar. As receitas provenientes do turismo aumentaram 11,7% no ano passado, impulsionando o crescimento frente a uma demanda interna fraca. O país é conhecido pelas suas praias, sua vida noturna animada e uma cultura sedutora. Agora, as autoridades do setor de turismo querem que os visitantes descubram suas “novas cores”. No campo econômico, essas novas cores estão um pouco foscas. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

© 2018 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM. 

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