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A vez dos apps para caminhoneiros

A exemplo dos aplicativos de táxi, serviços conectam donos de carga a motoristas autônomos; capacidade ociosa traz custos ao setor

Por Marina Gazzoni
Atualização:

O ex-taxista Nelson Aguiar mudou de ramo há um ano, quando comprou um caminhão-baú e virou caminhoneiro. Sem clientes ou contatos em transportadoras, Aguiar conseguia uma carga ou outra a cada 15 dias nos primeiros meses. Mas ficava a maior parte do tempo parado. Foi quando teve a ideia de pesquisar se existiam para caminhões aplicativos iguais aos que usava quando era taxista. Encontrou apps como Sontra Cargo e Truckpad, que conectam os donos da carga aos caminhoneiros autônomos. Hoje faz, em média, três corridas por semana, 80% delas fechadas pelos aplicativos. Os aplicativos de caminhão nasceram espelhados nos de carros, como o americano Uber e os brasileiros Easy Taxi e 99 Táxis. O público-alvo são os cerca de 1 milhão de caminhoneiros autônomos do Brasil, volume que representa um terço dos motoristas, e quem precisa de transporte de carga. Sem o aplicativo, os caminhoneiros tradicionalmente seguem para postos de combustível ou terminais de carga, como o Terminal de Cargas Fernão Dias, em São Paulo, e aguardam por um chamado. A oferta, geralmente, vem de um agente de carga, que cobra comissão de até 15% pelo negócio. O problema é que eles perdem tempo parados aguardando os pedidos e, quando conseguem fechar os contratos, muitas vezes não encontram nada para trazer de volta e retornam com a caçamba vazia.

 Foto: Sergio Castro/Estadao

Estimativas do setor apontam que 20% dos caminhões rodando no Brasil estão vazios e cerca de 40% deles não conseguem a chamada carga de retorno. “Isso é uma ineficiência que custa caro. As viagens com carga vão ter de cobrir as que estão vazias”, diz Neuto Gonçalves dos Reis, diretor técnico da NTC&Logística, associação de transporte de cargas.  Enquanto os caminhoneiros reclamam de dificuldades de encontrar carga para levar, as transportadoras dizem que não conseguem contratar caminhoneiros. “Cansei de recrutar 10 pessoas para distribuir panfletos no farol oferecendo serviço”, diz o diretor-presidente da transportadora Maranathalog, Robson Rosa. Ele foi procurado pelos donos de aplicativos e passou a usar alguns deles na transportadora. Hoje cerca de metade das contratações é fechada no aplicativo – ele carrega cerca de 300 caminhões por dia, 80% deles com motoristas autônomos. “Facilitou a minha vida. Eu coloco minhas ofertas nos aplicativos e aguardo o contato dos caminhoneiros.”  Para Reis, da NTC&Logística, os aplicativos podem facilitar o encontro entre carga e caminhoneiros, mas não podem acabar com um problema de fluxo no País. “Falta carga de retorno na rota do Sudeste para o Nordeste. O Brasil teria que produzir mais produtos lá para mandar para o Sul.” Negócios Nenhum dos aplicativos de caminhão cobra taxas dos usuários. Neste momento, eles estão no meio de uma corrida para trazer caminhoneiros e donos de carga para sua base e só depois vão pensar em como ganhar dinheiro. Os caminhos podem ser a cobrança de taxas pelas transações, venda de espaço publicitário, pagamento móvel ou até mesmo consultoria para o setor de transportes. “A crise está nos ajudando. O aplicativo foi criado para trazer eficiência ao transporte rodoviário”, diz Federico Vegas, presidente do Sontra. “Quando digo para uma transportadora que temos uma solução para reduzir custo ninguém bate o telefone na nossa cara.” O Sontra Cargo tem 500 mil caminhoneiros cadastrados e processa contratos estimados em R$ 100 milhões mensalmente.  O fundador do Truckpad, Carlos Mira, vendeu sua participação na transportadora da família para lançar o aplicativo. “Eu era presidente da empresa. Não saí para brincar ou me aposentar. Saí porque acho que posso criar uma empresa que valha ao menos US$ 1 bilhão nos próximos três anos.”

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