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Abandonar o governo ou o País?

Há muitos parlamentares no Congresso decididos a tocar em frente as reforma

Por José Pastore
Atualização:

Leio na imprensa que grupos políticos aguardam a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para desembarcar da base do governo Temer em vista do desgaste que tomou conta da pessoa do presidente da República. Para eles, as reformas morreram. Isso é mais grave do que a própria crise política.

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Com quase 25% dos brasileiros desempregados ou subempregados, é inadmissível pensar em abandonar as necessárias mudanças.

Tenho participado de várias discussões com deputados e senadores sobre as reformas. A oposição tem sido aguerrida, buscando obstruir os trabalhos. Mas há muitos parlamentares decididos a tocar em frente. Noto neles uma compreensão clara de que é impossível revogar as leis fundamentais da economia. Observo, ainda, um sentido de urgência para fazer o Brasil voltar a crescer, controlando as contas públicas e criando um ambiente favorável para a geração de empregos. Eles sabem que, sem mudanças, a economia brasileira estará severamente comprometida por várias décadas.

São eles que vêm corajosamente defendendo as reformas, aqui exemplificados nos deputados Rogério Marinho (relator da reforma trabalhista) e Arthur Maia (relator da reforma Previdenciária). Com a mesma disposição, cito o senador Ricardo Ferraço, que, a despeito da forte reação de colegas radicais, apresentou seu relatório sobre a reforma trabalhista. A equipe econômica, igualmente, está firme no apoio às reformas.

Por isso, penso que um eventual desembarque de grupos de parlamentares do governo atual não significará o abandono do Brasil. Já é grande o número de parlamentares conscientes e que lutarão para evitar um mergulho do País no caos econômico.

Fala-se muito que os políticos brasileiros só pensam nos próprios interesses. Não descarto essa assertiva. Acrescento, porém, que um de seus mais altos interesses é o de conseguirem se reeleger. Isso demanda devolver a esperança aos eleitores. É impossível conquistar a sua simpatia se eles entrarem em colapso com a Nação.

Não subestimo a força do populismo para o qual o caos faz parte do quanto pior, melhor. Penso, porém, que parcelas crescentes do povo vêm se esclarecendo a respeito da inviabilidade de o Brasil crescer diante de tamanha falta de recursos públicos e privados para investir e gerar empregos. Sinto que um bom número de parlamentares pensa da mesma maneira e vem trabalhando seriamente para tirar o Brasil da atual encruzilhada. No meu entender, eles terão força suficiente para levar as reformas adiante, mesmo depois de eventuais rearranjos político-partidários. Eles não abandonarão o Brasil. Uma coisa é abandonar um governo. Outra coisa, bastante diferente, é abandonar o País.

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Essa hipótese é impensável. Abandonar o País teria graves consequências para quem pretende se reeleger em 2018. Não há como convencer eleitores a votar no meio de tanto desemprego e generalizada desesperança de quem está sendo obrigado a tirar seus filhos da escola privada ou devolver a casa que comprou a duras penas, por incapacidade de pagamento.

Em suma, penso que, após a decisão do TSE, o Congresso Nacional aprovará as reformas. A trabalhista está na reta final no Senado Federal. A previdenciária entrará em novo calendário na Câmara dos Deputados. Os parlamentares conscientes estão mostrando que não darão as costas aos 14 milhões de desempregados e 12 milhões de subocupados que sofrem num país que tem tudo para crescer e oferecer boas condições de trabalho. Eles merecem um crédito de confiança.

*PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, É PRESIDENTE DO CONSELHO DE EMPREGO E RELAÇÕES DO TRABALHO DA FECOMÉRCIO-SP E MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS