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Acordo 'anti-Trump' entra em vigor na OMC nesta 4ª e pode injetar US$ 1 tri no comércio mundial

Para CNI, tratado que prevê uma série de medidas de desburocratização nas exportações é o de maior impacto para Brasil desde criação do Mercosul

Por Jamil Chade
Atualização:
Porto de Santos (SP) Foto: WERTHER SANTANA | ESTADÃO

GENEBRA - No momento em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sinaliza para a aprovação de barreiras às importações e medidas protecionistas, a Organização Mundial do Comércio (OMC) anunciará nesta quarta-feira seu maior acordo de exportação em 20 anos, facilitando o comércio internacional. No Brasil, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima que o tratado é o que terá o maior impacto no comércio internacional do País desde a criação do Mercosul, nos anos 1990. 

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O acordo, assinado ainda em 2013, prevê dezenas de medidas de desburocratização de exportações e importações, permitindo um fluxo de bens pelo mundo e reduzindo custos para a indústria. Para que ele entrasse em vigor, dois terços dos membros da OMC precisavam ratificar o tratado, o que deve ocorrer nesta quarta-feira. 

Ainda que os valores não sejam alvo de um consenso, a OMC estima que, no médio prazo, os ganhos associados ao tratado seriam de US$ 1 trilhão para a economia mundial. 

Mas é também seu peso político que promete chamar a atenção. Ele está entrando em vigor justamente num momento de tensão no comércio internacional e com cenários apontando para a eclosão de disputas de grande porte entre os EUA e seus principais parceiros comerciais. Trump quer adotar sobretaxas a empresas que não produzem nos EUA, quer rever acordos que liberalizaram o comércio e ainda estabelecer novas barreiras. Se isso tudo for adotado, a promessa de diplomatas de diversos países é de que entrarão com queixas formais nos tribunais da OMC.

Para muitos negociadores em Genebra, portanto, um acordo de liberalização neste momento é um "recado forte" ao governo americano de que as demais economias esperam que ele cumpra seus compromissos internacionais. 

Se por vários anos os acordos de facilitação de comércio eram vistos como sendo de interesse principalmente, a indústria brasileira assumiu o tratado como uma de suas prioridades, justamente para forçar uma redução da burocracia no País e mecanismos mais transparentes para poder exportar e importar. 

O Estado apurou que foi depois de uma pressão do setor privado nacional que, a partir de 2013, o governo brasileiro mudou de posição e aceitou fechar o acordo. Para a gerente de Política Comercial da CNI, Constanza Negri, o acordo é o mais importante para a indústria nacional desde a criação do Mercosul. "Esse é um acordo muito importante para nós", disse. 

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Ela, porém, alerta que o Brasil ainda não implementou todos os pontos do tratado. O tratado, segundo a CNI, será usado para continuar a pressionar o governo por reformas no âmbito comercial, de tributação e no que se refere ao peso do estado. Uma recente pesquisa indicou que, para mais de 800 empresas no País, as questões de facilitação de comércio são consideradas como o segundo maior gargalo para as exportações nacionais. O primeiro problema, segundo a pesquisa, seria a logística de transporte.

Um mapeamento realizado pela CNI ainda indicou que um dos pontos ainda não cumpridos pelo Brasil no acordo é o fato de que cobrança e coleta das taxas não são padronizadas. "Há casos em que essas taxas tem função arrecadatória", disse a gerente, alertando que o Código Tributário Brasileiro impede tais comportamentos. 

"Faltaria ainda uma lei geral no Brasil que torne obrigatória a realização de consultas públicas antes da publicação de normas que tenham impactos no comércio exterior", afirma a representante da CNI. "A CNI avalia que os órgãos públicos devem abrir espaço para que o setor privado possa debater novas regulamentações, assim como a apresentar estudos de cenários e de impactos das medidas", aponta.

Outro ponto que a indústria alerta se refere à inexistência de procedimentos que permitam o processamento pré-embarque para todos os meios de transporte. "O país não possui um sistema adequado para receber documentos antecipados para acelerar o trânsito das mercadorias", diz a CNI. "Assim, é impossível apresentar e processar antecipadamente a documentação dos bens em trânsito antes da chegada do produto", completa.