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Análise: Ajuste no mercado vai se estender por todo o ano

Por Rafael Bacciotti
Atualização:

As diferentes pesquisas convergem para apontar que a crise atingiu o mercado de trabalho. O ajuste sobre o emprego e os rendimentos tem ocorrido de maneira rápida e muito intensa. Na Pesquisa Mensal de Emprego (IBGE), a taxa de desemprego média do primeiro semestre atingiu 6,3% da força de trabalho, voltando ao mesmo patamar de 2011. Em um curto período, regredimos quatro anos no tempo. Ocorre que a combinação de um cenário recessivo de atividade com a falta de perspectivas bem delineadas de recuperação no curto e médio prazos tem desencadeado um processo de demissões em diversos setores da economia. Na indústria de transformação, esse fenômeno não é novo, mas preocupa ao atingir, recentemente, o setor de serviços - que cresceu nos últimos anos absorvendo muita mão de obra. O ajuste sobre o emprego atinge o setor formal da economia, embora a PME mostre, em alguma medida, uma transferência em curso de trabalhadores para o setor informal, que paga salários mais baixos. Esse movimento, junto com a tendência de menores reajustes nominais no setor formal, tem gerado uma pressão de baixa sobre a renda média. No ano, a renda efetiva acumula queda de 2,6%, sendo que grande parte dessa variação (40%, aproximadamente) é explicada pela retração dos rendimentos dos ocupados com carteira assinada no setor privado. Essa constatação reforça o diagnóstico que vem dos dados do Caged, de que os salários de entrada dos celetistas têm diminuído de maneira relevante, ou ainda, de que existe um processo de substituição de pessoas com salários mais elevados por trabalhadores de menor remuneração. A redução dos salários em termos reais (amplificada pela resistência da inflação) tem feito com que as pessoas até pouco tempo ausentes do mercado de trabalho (em boa medida, aquelas que se dedicavam exclusivamente aos estudos) voltem para complementar a renda familiar. Sem a contrapartida de absorção pelas empresas, o resultado tem sido o aumento da taxa de desemprego - tendência que deve se manter ao longo de todo ano, com a expectativa de que o indicador alcance 8,0% em dezembro.* Rafael Bacciotti é economista da Tendências Consultoria

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