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Alta do PIB deve manter desemprego estável em 2011, avaliam especialistas

Especialistas apontam que a tendência é de que o desemprego médio no ano que vem fique próximo à marca de 7%

Por Ricardo Leopoldo e da Agência Estado
Atualização:

A boa perspectiva de avanço do Brasil, que deve crescer 4,5% no próximo ano, de acordo com a pesquisa Focus, leva economistas que estudam o mercado de trabalho a avaliar que o cenário para a geração de empregos no próximo ano é positivo. Embora a economia vá desacelerar de uma alta do PIB de 7,3% neste ano, como é previsto pelo BC, os especialistas apontam que a tendência é de que o desemprego médio no ano que vem fique próximo à marca de 7% estimado pelo Banco Central para 2010. A expansão do mercado interno, com a melhora da renda da população, os investimentos de longo prazo como as obras relacionadas ao pré-sal, à Copa do Mundo de 2014 e à Olimpíada de 2016, mais o incremento da construção de residências, são alguns dos vetores que devem colaborar na continuidade do fluxo de contratações pelas empresas nos próximos 18 meses.

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Os especialistas ressaltam que uma nova onda de recessão mundial, conhecida pela expressão "duplo mergulho", poderia minar tal quadro para o mercado de trabalho em 2011, mas esse não é o cenário mais provável, ressalta o professor da PUC-RJ, José Márcio Camargo. "Com uma projeção de expansão do PIB entre 4,5% e 5%, é provável que o desemprego médio, apurado pela Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, fique estável ou suba levemente no ano que vem", comentou. Para o economista da Tendências Consultoria, Bernardo Wjunicki, e o presidente do Ipea, Márcio Pochmann, tal taxa deve cair um pouco, para 6,5%. O banco Itaú-Unibanco prevê que a taxa média de desemprego deve ficar em 7% no próximo ano.

Wjunicki estima que a taxa média de desemprego deve chegar a 6,5% no próximo ano devido a um aumento do total de pessoas ocupadas medido pelo IBGE de 3%, enquanto a população economicamente ativa deve subir 2%.

O economista da LCA, Fabio Romão, avalia que o desemprego médio no próximo ano deve subir da média de 7,4% neste ano para 7,8% em 2011, o que deve ocorrer levando em consideração um crescimento do PIB de 4,1%. Porém, ele pondera que, caso o País apresente uma expansão de 5% no ano que vem, a taxa de pessoas desocupadas deve ficar estável.

Na avaliação de Bernardo Wjunicki, a estabilidade macroeconômica, a segurança institucional num país democrático, o incremento do mercado interno, com a ascensão nos últimos oito anos de 31 milhões de pessoas à classe média, são fatores que elevaram a confiança dos empresários em relação ao País. "O Brasil dá bom retorno para os investimentos, sejam eles diretos, em companhias, ou na área financeira", comentou, referindo-se ao bom desempenho do mercado de consumo nacional, que vem registrando evolução expressiva em diversos setores, de bens duráveis, semiduráveis e alimentos, até aplicações na bolsa de valores e renda fixa. O juro real está em 6,54%, marca distante das taxas negativas registradas nos EUA, zona do euro, Inglaterra e Japão.

Para os especialistas, os projetos de longo prazo devem manter uma boa base de criação de postos de trabalho no próximo ano. Além disso, eles apontam que o crescimento ao redor de 4,5% em 2011 merece destaque porque deve ocorrer sobre uma economia que deve subir 7,3% neste ano, como estima o Banco Central. Por outro lado, o incremento de 7,3% em 2010 ocorre sobre um parâmetro muito baixo, dado que o PIB caiu 0,2% em 2009. Tais fenômenos estatísticos, de certa forma, explicam por que a taxa média de desemprego no próximo ano deve ficar ao redor da estabilidade.

"Os investimentos que estão ocorrendo nesse novo ciclo de crescimento do Brasil são planejados e não são interrompidos, pois o horizonte de maturação visa o longo prazo", comenta Pochmann. "Contudo, a alta dos juros empreendida pelo Banco Central deveria parar agora. Há uma alta probabilidade de que, se mais elevações da Selic ocorrerem no curto prazo, isso poderá mudar as intenções de empresários de ampliar a Formação Bruta de Capital Fixo de suas companhias", disse.

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Um dos fatores estruturais que levam os especialistas a exibirem uma avaliação benigna sobre o mercado de trabalho é a perspectiva de crescimento do PIB para os próximos quatro anos. A Rosenberg e Associados estima que o País deve apresentar uma expansão média de 5,5% de 2011 a 2014, enquanto a LCA projeta uma alta de 4,4% e a Tendências prevê uma expansão de 4,2%.

Pochmann ressalta que a estabilidade ou leve queda da taxa de desemprego no próximo ano não representa nenhum risco de alta da inflação. Ele destaca que, dos 93 milhões de pessoas que pertencem à população economicamente ativa, 48%, ou 44,6 milhões de brasileiros, estão ocupados em atividades nas quais não atuam com a carteira de trabalho registrada. "Há um universo muito grande de cidadãos que estão na economia informal em condições precárias de trabalho à espera de empregos melhores, com direitos assegurados pela lei", comentou.

Fábio Romão acredita que a geração de empregos formais, apurada pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), deve diminuir no próximo ano, de 2,1 milhões em 2010 para 1,6 milhão. Segundo ele, os empresários deverão continuar a contratar no ano que vem, mas em menor quantidade.

Para o economista, boa parte dos dirigentes de companhias deve realizar neste ano um movimento mais vigoroso de admissões, o que está relacionado com a brusca redução do nível de atividade da do Pais registrado até março de 2009 em função da recessão mundial. "Com a perspectiva de crescimento médio do PIB de 4,4% nos próximos quatro anos e inflação sob controle, a tendência é de o desemprego ficar estável no período, num patamar médio de 7,7%", comentou.

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