PUBLICIDADE

Ambulantes do DF protestam contra falta de protestos na Esplanada

Com ausência de manifestantes, coube ao contingente de 3 mil homens da polícia minimizar os prejuízos dos ambulantes

Foto do author André Borges
Por André Borges
Atualização:

BRASÍLIA - Na tarde desta sexta-feira, 30, o manifestante mais contrariado de toda a Esplanada dos Ministérios era Reginaldo Souza. Nascido no Distrito Federal e ambulante há 12 anos em Brasília, Souza estava aflito com o silêncio que tomava conta da principal avenida da capital federal.

Souza está entre os ambulantes que madrugaram para vender água, refrigerante, salgadinhos e churrasco durante as manifestações previstas para esta sexta. Mas não vendeu quase nada. "Cadê as pessoas? O povo não está indignado? Nas manifestações de abril, fiz mais de R$ 2 mil num só dia. Hoje só consegui vender R$ 150 de água", disse Souza.

Reginaldo Souza, ambulante em Brasília à espera de manifestantes Foto: André Borges|Estadão

PUBLICIDADE

Coube ao contingente de cerca de 3 mil homens da polícia minimizar os prejuízos dos ambulantes. "Se não fossem os policiais, hoje a gente estava perdido", comentou Souza. "São os únicos que estão aqui hoje, comprando alguma coisa."

Para tentar vender o que tinha trazido para a Esplanada, o ambulante João Paulo reduziu o preço da garrafinha de água. Em vez de R$ 3 a unidade, passou a vender três garrafas por R$ 5. "Saí gritando o preço perto do cordão de isolamento. Os policiais compraram tudo", disse João Paulo.

AO VIVO: Acompanhe os protestos pelo País

Na esperança de que manifestantes dessem as caras na Esplanada, alguns ambulantes diziam que um grupo grande de pessoas estava aglomerado no entorno no estádio Mané Garrincha e que logo desceriam até a frente do Congresso. A reportagem seguiu até o estádio para checar a informação. O que havia no local era um grupo de pessoas que estava pegando ônibus com destino a Goiânia, localizada a 208 quilômetros de Brasília.

Durante todo o dia, o fechamento da Esplanada à espera dos manifestantes serviu apenas para complicar o trânsito na região central da cidade. Nas proximidades da Biblioteca Nacional, tradicional ponto de encontro nos protestos, um grande pato amarelo inflável permanecia isolado, com seis pessoas que se refugiavam na sombra, por conta do sol quente.

Publicidade

  Foto: André Borges|Estadão

As coisas também não estavam fáceis para Wenilson Barbosa, que trouxe seu "carrinho de pastel B&G" para tentar fazer algum dinheiro. "Trouxe 120 pasteis para testar a manifestação, mas só vendi uns 50, e mesmo assim só para a polícia", disse.

Muitos reclamaram da "falta de organização" da manifestação, que acaba se confundindo com a greve. "Se não tem ônibus e nem metrô, como é que as pessoas vão se manifestar? Fica difícil", comentou Barbosa.

Wenilson Barbosa, pasteleiro em Brasília Foto: André Borges|Estadão

Nem mesmo a lotérica "A Esplanada", localizada entre os ministérios, conseguiu atrair algum cliente disposto em fazer uma "fezinha".

Pela manhã, a Secretaria da Segurança Pública do Distrito Federal chegou a estimar que cerca de 5 mil manifestantes deveriam comparecer à Esplanada para os atos de greve. "A verdade é que não veio ninguém", disse um policial militar. "Parece até que a manifestação é da polícia."

Nem mesmo a lotérica conseguiu atrair clientes Foto: André Borges|Estadão
Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.