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ANÁLISE: Alta da Selic força aumento do juro do crédito e expande percepção de risco

Para a economista-chefe da SPC Brasil, Marcela Kawauti, o aumento do juro cobrado no cartão de crédito e no cheque especial é muito elevado

Foto do author Francisco Carlos de Assis
Por Francisco Carlos de Assis (Broadcast)
Atualização:
Juro cobrado sobre o rotativo do cartão de créditoestá em 372% ao ano Foto: Thiago Teixeira/Estadão

SÃO PAULO - O aumento da Selic eleva não só as taxas incidentes sobre as operações de crédito como também expande a percepção de risco sobre este mercado, afirma a economista-chefe da SPC Brasil, Marcela Kawauti. Por isso, de acordo com ela, é que os dados de crédito divulgados nesta quinta-feira, 30, pelo Banco Central reporta aumento das taxas de juros e do spread bancário na passagem de maio para junho.

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Marcela destaca que o spread bancário nas operações de crédito que em janeiro estava em 27,2 ponto porcentuais, subiu em junho para 30,7%. O spread é a diferença entre os juros que o banco cobra ao emprestar e a taxa que ele mesmo paga ao captar dinheiro.

"A Selic contribui para isso, mas se pensar bem os aumentos da taxa básica de juro elevam as taxas do crédito e também a percepção de risco", disse a economista da SPC Brasil. E isso, de acordo com ela vai se tornando em um processo em que uma coisa puxa a outra.

O discurso da economista é comprovado com números referentes a juros da própria Nota de Crédito. A taxa de juro incidente sobre as operações de crédito para as empresas subiu de 26,9% em maio para 27,5% em junho. "É bom lembrar que começou o ano em 25,2%", destaca Marcela. Para pessoa física, a taxa média de juro bateu em 58,6% no mês passado ante 57,3% em maio, sendo que começou o ano a 52%.

A economista da SPC Brasil chama a atenção para algumas modalidades de crédito, cujas taxas de juros encontram-se em patamares elevados. O juro cobrado sobre o rotativo do cartão de crédito, por exemplo, está em 372% ao ano. O cheque especial está em 241,3%, sendo que começou o ano em 209%. "Em apenas seis meses deu um salto de quase 40 pontos porcentuais. Isso é muita coisa", observou a economista.

Outro ponto para o qual Marcela chama a atenção é a inadimplência acima de 90 dias. Está praticamente estável, de acordo com ela, mas em um cenário em que deveria estar incidindo queda já que os bancos vêm sendo mais restritivos já há muito tempo e o próprio consumidor já está tomando menos crédito. Os atrasos nos contratos de crédito de pessoa física estão em 5,4%, que é a mesma taxa de maio. A da pessoa jurídica, na mesma base de comparação, manteve-se em junho em 3,9%.

E esse quadro, segundo a economista da SPC Brasil, é pintado com base em um cenário de volume estável de crédito na proporção do PIB. "Desde janeiro o volume de crédito está no mesmo patamar. Chegou em 54,5% em junho ante 54,6% em maio e 54,4% em janeiro", observou o Marcela.

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