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ANÁLISES: Parte do mercado vê decisão do BC como sinal de alta do juro no ano que vem

Fato de votos dos participantes do Copom não terem sido unânimes pode indicar para alta do juro nos próximos encontros

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Por Redação
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O próximo encontro do Copomsó ocorrerá em 2016, nos dias 19 e 20 de janeiro Foto: André Dusek/Estadão

SÃO PAULO - O mercado já esperava a manutenção da taxa Selic em 14,25% ao ano, mas viu com surpresa o fato de a decisão não ter sido unânime, já que dois participantes da reunião votaram pela alta de 0,5 ponto porcentual. O fato foi visto como um indicativo de que o Banco Central pode subir o juro em suas próximas reuniões. O próximo encontro só ocorrerá em 2016, nos dias 19 e 20 de janeiro. Outra avaliação é de que o BC está de mãos atadas à espera de uma política fiscal mais eficiente.

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O fato eleva a probabilidade de um aumento da taxa básica de juros já no primeiro trimestre do ano que vem, sustenta o economista-chefe da Garde Asset Manegement, Daniel Weeks. "Mas se eu tivesse que apostar entre janeiro ou março, eu diria março, porque os outros diretores vão querer esperar para ver como a inflação vai se comportar até lá", afirmou.

"O BC achava que a manutenção da taxa em 14,25% por um período prolongado seria adequado, mas dois diretores já acham que não. E discordâncias como essa geralmente são uma prévia de que o Banco Central poderá mudar a sua postura", avaliou o economista. Com a piora das expectativas de inflação, Weeks espera que os diretores coloquem a recessão da economia em segundo plano e passem a focar no controle da alta dos preços. Dos oito diretores do comitê de política monetária, seis votaram a favor da manutenção da taxa e dois votaram pela alta. 

Política fiscal. A decisão do Banco Central de manter a taxa Selic em 14,25% e a falta de sinalização no comunicado mostram que a autoridade monetária está de mãos atadas no que se refere à tentativa de conter o avanço da inflação e, ao mesmo tempo, à espera da política fiscal para voltar a agir, avaliou José Júlio Senna, chefe de estudos monetários do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), ligado à Fundação Getúlio Vargas (FGV).

A restrição percebida por Senna se deve a uma combinação de três fatores: o quadro já recessivo da economia, a instabilidade política e o medo de uma alta dos juros ter o efeito contrário, em razão do desequilíbrio fiscal (a chamada dominância fiscal). "Para subir os juros, é preciso ter o momento adequado. E as condições de hoje não comportam esta percepção", afirmou.

Diante dessa falta de ação do BC, Senna acredita que a tarefa de conter o avanço da inflação foi transferida para os poderes Executivo e Legislativo, que o fariam por meio da política fiscal. "Enquanto não houver avanços muito significativos na questão fiscal, o Banco Central continuará de mãos atadas, sob o risco de as expectativa de inflação continuarem se deteriorando", afirmou. 

O voto a favor da elevação de 0,5 ponto porcentual da Selic dado pelo diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC), Tony Volpon, é um sinal claro de que ele considera totalmente infundados os temores sobre dominância fiscal. Dentro do BC, Volpon tem sido o participante do Copom que reagiu de forma mais veemente contra o que considera um grande erro de análise por parte de alguns especialistas do mercado financeiro - a possibilidade de que o Brasil esteja próximo ou já tenha ingressado numa situação de dominância fiscal.

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'Enquanto não houver avanços muito significativos na questão fiscal, o Banco Central continuará de mãos atadas, sob o risco de as expectativa de inflação continuarem se deteriorando' - chefe de estudos monetários do Ibre/FGV, José Júlio Senna

Na visão do diretor, a dominância fiscal é uma situação binária - ou se está nela ou não se está - e, caso surgisse, haveria efeitos muito mais fortes na estrutura de juros, já que o mercado tenderia a rejeitar qualquer nível de remuneração dos títulos do governo. Volpon, em conversas recentes com participantes do mercado, reiterou que não vê nenhum sinal de uma situação daquele tipo. 

Assim, ao votar pela alta da Selic diante da piora das expectativas de inflação, o diretor reafirma que a política monetária continua a agir em situação de normalidade. Sidnei Corrêa Marques, diretor de Organização do Sistema Financeiro do BC, acompanhou Volpon no voto pela alta da Selic.

Redução. Ainda que dois membros do Comitê de Política Monetária do Banco Central tenham votado a favor da alta dos juros, o diretor de pesquisa econômica da GO Associados, Fabio Silveira, acredita que vai haver espaço para redução da Selic em 2016. "Com um certo alívio no câmbio e nos preços internacionais das commodities, além de uma recessão e o aumento do desemprego, a inflação vai começar a ceder no segundo trimestre de 2016, abrindo espaço para baixa dos juros no segundo semestre", disse.

Para o economista, caso esse entendimento prevaleça, a taxa Selic pode chegar ao nível de 13% no final do ano que vem. O economista criticou ainda a possibilidade de alta dos juros e disse que a insistência nessa política monetária pode sepultar a chance de crescimento da economia em 2017. "O método de alta dos juros que está sendo aplicado há muito tempo não está mostrando efeito", afirmou. (Colaboraram André Ítalo Rocha, Fernando Dantas e Mateus Fagundes)

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