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Anonymous, o rosto do protesto pós-moderno

Guy Fawkes, terrorista católico do século 17, virou história em quadrinhos, filme e inspirou a máscara de V de Vingança presente em manifestações no mundo inteiro

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Por Redação
Atualização:
Guy Fawkes, terrorista católico do século 17, virou símbolo de protestos pós-modernos Foto: Reuters

No dia 5 de novembro os britânicos de toda a ilha acendem fogueiras e disparam fogos de artifício para lembrar a execução de Guy Fawkes, terrorista católico do século 17. Mais recentemente, ativistas se apropriaram do dia, convocando protestos de massa. 

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O grupo de “hacktivistas" Anonymous incentiva a população a protestar contra seus governos. A facção londrina da “marcha de um milhão de máscaras” vai se reunir diante das câmaras do parlamento, e muitas dessas pessoas estarão com a máscara sorridente de Guy Fawkes. Como ele se tornou o rosto do protesto pós-moderno?

Em 1605 Fawkes era parte de um grupo de católicos apostólicos que planejava explodir a câmara dos lordes durante a cerimônia de abertura do parlamento. O “complô da pólvora” tinha como objetivo assassinar o rei James I, protestante, e instalar no trono a filha dele, de 9 anos, como monarca católica. Mas uma carta anônima descrevendo os planos foi enviada ao rei. Fawkes foi flagrado no porão da câmara com 36 barris de pólvora nas imediações. Ele foi torturado e os conspiradores foram condenados por alta traição em janeiro de 1606. 

O governo tratou o grupo com mão particularmente pesada, com a intenção de dissuadir os eventuais responsáveis por atentados terroristas futuros. A tradição de acender fogueiras e queimar efígies de Guy Fawkes começou pouco depois da revelação do complô, e as crianças ainda aprendem na escola o versinho “Remember, remember, the fifth of November” ("Eu me lembro, eu me lembro, do cinco de novembro”).

Nos anos oitenta os quadrinistas Alan Moore e David Lloyd criaram uma graphic novel, V de Vingança, na qual o protagonista é um anarquista de capa que usa uma sorridente máscara de Guy Fawkes enquanto luta contra um estado autoritário fascista. Os autores queriam celebrar Fawkes ao fazer dele um anti-herói da era moderna. 

O quadrinho foi transformado em filme em 2006 e, apesar de uma série de diferenças em relação ao original, a máscara usada por V se manteve fiel ao estilo do HQ. Máscaras de plástico para promover a estreia do filme foram distribuídas aos fãs e ficaram à venda na internet. Dois anos mais tarde, em janeiro de 2008, o Anonymous deu início ao “Project Chanalogy” - um ataque coordenado contra o site da Igreja da Cientologia, acusada por eles de censurar informações. 

A regra 17 do código de conduta do Anonymous, divulgado aos manifestantes antes do “primeiro protesto físico em público” no dia 10 de fevereiro de 2008 diz: “Cubra seu rosto. Isto vai evitar sua identificação em vídeos feitos pelo inimigo”. Para aqueles que optaram por usar máscaras a decisão era simples: (spoiler) inspirando-se na última cena do filme, na qual uma multidão de Guy Fawkes observa a explosão das câmaras do parlamento, a máscara de V de Vingança trouxe justamente o anonimato que o Anonymous buscava.

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Desde então a imagem foi adotada pelo movimento Occupy, e Julian Assange, fundador do WikiLeaks, também vestiu uma máscara de Fawkes. O rosto se tornou presença comum em muitos protestos. Lloyd disse que a máscara é “um cartaz de protesto conveniente para se usar numa manifestação contra a tirania… parece uma situação bastante única, ver um ícone da cultura popular sendo usado dessa maneira”. 

Embora máscaras oficiais do filme ainda estejam disponíveis na rede, a maioria dos manifestantes prefere fazer sua própria versão. E, até hoje, os guardas do palácio, responsáveis pela segurança do monarca inglês desde 1485, ainda vasculham os porões sob o Palácio de Westminster antes de cada cerimônia de abertura do parlamento. Sob muitos aspectos, o espírito de Fawkes continua vivo. 

© 2014 The Economist Newspaper Limited. Todos os direitos reservados.

Da Economist.com, traduzido por Augusto Calil, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado no site www.economist.com

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