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Aos 30 anos, com empresa na Bolsa

Após comprarem companhia listada por R$ 5 milhões, os irmãos Joaquim e Carolina Paifer querem criar ‘mesa de traders’

Por Naiana Oscar
Atualização:

Além de querer ser rico, Joaquim Paifer tinha uma vontade inexplicável de ser dono de uma empresa de capital aberto. A primeira meta será uma obsessão para a vida inteira. A segunda, ele conseguiu realizar no início do ano, ao comprar, por R$ 5 milhões, uma companhia em recuperação judicial com ações listadas na Bolsa.

Filho de um fazendeiro de Porto Feliz, cidade de 50 mil habitantes a 40 km de Sorocaba, Paifer completou 30 anos no início do mês. Começou no mercado financeiro aos 19 anos, estagiando numa corretora de valores e, agora, ao lado da irmã Carolina Paifer, de 27 anos, é um especulador.

Joaquim Paifer, de 30 anos, e a irmã, Carolina, criaram empresa para especular Foto: EPITACIO PESSOA/ESTADAO

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Paifer é dono da Tuchê Asset Management, uma empresa com sede em Sorocaba que faz gestão de recursos de terceiros: segundo ele, são R$ 300 milhões aplicados basicamente em renda fixa para satisfazer clientes ricos e bem conservadores – alguns deles, amigos da família. Em paralelo, ele e a irmã criaram uma outra empresa para fazer com o próprio dinheiro o que os clientes não queriam que eles fizessem com suas reservas: especular no mercado de capitais. Eles começaram sozinhos, fazendo operações de “day trade” (comprando ações, dólar, taxas, para vender no mesmo dia). “Dessa forma, aproveitamos ao máximo a volatilidade do mercado com o mínimo de exposição”, explica.

Inspirados em negócios que já existem lá fora, os irmãos recrutaram outros profissionais e criaram uma “proprietary trading”. O dinheiro em jogo é o deles e os operadores ganham uma porcentagem do lucro que conseguirem. Hoje, são oito profissionais. Mas os irmãos começaram uma campanha nas redes sociais para chamar mais gente, com o discurso de que o “trader” pode ganhar muito dinheiro, trabalhando de casa e fazendo o próprio horário – traders veteranos, no entanto, dizem que a rotina não é tão fácil.

Os números da empresa ainda não são públicos e não é possível comprovar todas as cifras que esse jovem especulador alega movimentar. Ele diz ter colocado, em 2013, R$ 1 milhão na empresa, batizada de WHPH. Esse montante teria sido multiplicado por dez em 20 meses. “É muito divertido ganhar dinheiro assim”, diz. “Chegamos a movimentar 20 milhões de ações da OGX num único dia. O mercado achou que fosse o Eike Batista”, lembra, achando graça.

Padrinhos. O fascínio pelo mercado financeiro começou na faculdade, quando um professor do curso de Administração da Unicamp disse que ele levava jeito para a coisa e o apresentou para um conhecido de uma das mais tradicionais corretoras do País, a Gradual. Foi lá que Paifer conheceu um de seus primeiros tutores, o cofundador da empresa Agostinho Renoldi Junior, já falecido. Com o aval do “padrinho”, ele virou agente autônomo, convenceu a irmã a fazer o mesmo, e começou a caçar clientes no interior de São Paulo para investir em ações, no auge da Bolsa brasileira.

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Quando Agostinho Renoldi começou a trabalhar no escritório da corretora espanhola CM Capital, em São Paulo, levou os afilhados. “São dois jovens muito arrojados, inteligentes e muito bem criados”, disse Everaldo Oliveira, presidente da CM no Brasil. Eles chegaram na corretora com a missão de atrair pessoas físicas para o mercado de capitais. Conseguiam isso dando palestras sobre a Bolsa nas cidades do interior. Como esse projeto da CM não foi para frente, Paifer e Carolina tiveram de empreender sozinhos.

“Já que eu não tinha dinheiro para ter um banco, que era meu sonho, comecei a pensar em alternativas”, diz Paifer. Quando decidiu que teria uma proprietary trading de capital aberto partiu para cima de uma empresa que estava inativa no mercado e cujos donos ele conhecia desde 2008. O Grupo Inepar (dono da Iesa, empresa fornecedora da Petrobrás e investigada na Operação Lava Jato, da Polícia Federal) pediu recuperação judicial no fim do ano passado. Entre os ativos do grupo, estava a Inepar Telecom, listada na Bovespa de 1996.

Os irmãos fizeram uma oferta de R$ 5 milhões – quase R$ 0,03 por ação – e ficaram com a companhia. Nos últimos meses, mudaram a razão social, o estatuto, a sede e o nome da empresa, que passou a se chamar Atom, em uma referência ao filme Gigantes de Aço.

“Tinha tudo a ver com a gente”, diz Carolina. A trama se passa em 2020, quando as lutas de boxe são protagonizadas por robôs. Atom é uma máquina menor, aparentemente mais fraca que as outras, mas que acaba se destacando por receber comandos de voz de humanos.

No mercado financeiro, a equipe de especuladores de Paifer também terá de concorrer com robôs, que ganham na velocidade das operações, mas segundo ele, perdem em estratégia. 

A compra da Inepar foi concretizada em dezembro de 2014, mas só no fim de setembro deste ano todas as mudanças foram aprovadas pelos acionistas em assembleia. Agora, a Atom aguarda o aval da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para estender a oferta de R$ 0,03 aos minoritários, como manda a Lei das SAs. Hoje, 25% das ações da companhia são negociadas em Bolsa e valem R$ 0,15.

“Para o investidor, comprar ações dessa empresa será como ter cotas de um fundo. Ela não vai produzir nada, vai tentar produzir dinheiro”, ressalta Alexandre Cabral, sócio da NeoValue Investimentos. “É um modelo novo no Brasil e interessante, mas que vai precisar de um rigoroso controle de risco para dar certo.” 

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Os irmãos garantem que estão tomando esse cuidado. Entre as medidas, citam a contratação de uma desenvolvedora de soluções para o mercado financeiro, a Nelogica, responsável pelo software usado pelos traders e que vai monitorar o limite de perdas de cada um deles.

Os riscos de iniciar um negócio desse tipo no País, os Paifers vão assumir. “Como quase tudo no mercado financeiro, as chances de dar errado são de 70%”, diz Everaldo Oliveira da CM Capital. “Mas se der certo eles podem ganhar muito dinheiro. É do jogo.”

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