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Após apagão, Brasil importou energia da Argentina para garantir abastecimento

Foi a primeira vez desde 2010 que o Brasil teve de recorrer a países vizinhos para atender a demanda nacional

Foto do author André Borges
Por André Borges , Anne Warth e Renée Pereira
Atualização:
Até a publicação da reportagem, o MME não havia se pronunciado a respeito. O ministro do MME, Eduardo Braga, afirmou ontem que não há falta de energia no País. Foto: Reuters

Depois do apagão de segunda-feira, que deixou dez Estados e o Distrito Federal sem luz, o Brasil foi obrigado a recorrer à Argentina para conseguir atender a demanda nacional e não correr o risco de um novo blecaute. Entre terça e quarta-feira, foram importados cerca de 2 mil MW de energia para suportar a escalada do consumo no horário de pico. A última vez que o País havia comprado energia do exterior foi em dezembro de 2010 - a energia serviu para cobrir problemas pontuais de geração, sobretudo na Região Sul.

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Segundo relatório do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), na terça-feira, foram importados, em média, 165 MW durante todo o dia, sendo 998 MW no pico de consumo, às 14h48. Na quarta, o volume de importação foi semelhante ao do dia anterior, afirmou um técnico do governo. Segundo ele, a importação continuará enquanto houver necessidade para garantir o abastecimento sem riscos. A salvação será a frente fria aguardada para quinta-feira, que reduzirá o calor e, consequentemente, o consumo de energia.

Durante coletiva na terça-feira, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, negou que o apagão de segunda-feira tenha sido causado pelo aumento da demanda no horário de pico. Mas, nesse mesmo dia, as distribuidoras foram alertadas, logo pela manhã, para ficarem atentas para possíveis problemas. O Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, apurou que a frequência do sistema elétrico voltou a oscilar na manhã de terça-feira, repetindo a mesma situação que levou ao blecaute do dia anterior, quando a frequência caiu para 59,2 hertz (hz).

Para evitar um novo colapso, o operador fez o pedido de injeção de energia “em tempo real”. “O sistema está no talo e não há um controle de carga. Temos de deixar todos prevenidos”, disse o técnico, que não pode se identificar. Segundo o relatório do ONS, o Brasil pediu ao país vizinho uma oferta entre 500 MW e 1 mil MW. A importação ocorreu pela estação de Garabi, no município de Garruchos (RS), na fronteira com a Argentina. 

O objetivo era atender aos horários de maior consumo: das 10h23 às 12h e das 13h às 17h02. A potência máxima da energia chegou efetivamente a ser utilizada. Na quarta-feira, a carga do País esteve um pouco abaixo de terça-feira, mas ainda assim, durante algum tempo, o consumo do Estado de São Paulo - o maior mercado do País - ficou ligeiramente acima do programado. 

Em nota, o governo informou que “pode haver intercâmbio de energia, quando necessário, sem interferência do Ministério de Minas e Energia”. No governo, avalia-se que não há problemas em contar com a energia de países vizinhos. Mas é uma estratégia arriscada, já que os problemas de abastecimento de energia não são exclusividade do Brasil e, há anos, atingem a Argentina. 

Uruguaiana. A necessidade de geração é tamanha que o Brasil negocia acionar as turbinas da térmica de Uruguaiana, instalada no Rio Grande do Sul, na fronteira do Brasil com a Argentina. É uma medida considerada extrema. Por duas razões: primeiro, pelo desgaste político das negociações com a Argentina, que rompeu o contrato de abastecimento de gás da usina em 2009. Depois, em razão do elevado custo de geração. 

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Com o acionamento de Uruguaiana, o governo poderia adicionar 639 MW de geração ao sistema nacional. “O MME está avaliando a possibilidade de acionar a UTE Uruguaiana”, informou, em nota, o ministério. A AES Brasil, dona da usina, afirmou ao Estado que a planta “está pronta e à disposição para operar”. 

Em março e abril de 2014, a usina chegou a ser acionada, em caráter emergencial. Na época, a Petrobrás teve de importar gás de Trinidad e Tobago, no Caribe, e enviar o insumo por navio até Bahía Blanca, na Argentina, para só então transportar o combustível por gasoduto até a usina.

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