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Após briga, JBS desfaz sociedade com a Cremonini e vai recomeçar na Europa

Alegando acesso restrito a informações financeiras, grupo rompe joint venture na Itália, recebendo de volta - sem correção - os 219 milhões investidos há três anos 

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Por Fernando Scheller
Atualização:

A parceria entre o brasileiro JBS e a italiana Cremonini foi encerrada ontem, após meses de disputa entre os sócios. O grupo nacional, que se queixava da falta de acesso a dados financeiros da joint venture, saiu do negócio recebendo de volta - sem correção - os 219 milhões que investiu para formar a Inalca JBS, há cerca de três anos. Fonte ligada à empresa disse que a decisão foi uma forma de evitar "prejuízos maiores".

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Paralelamente à dissolução do acordo com a Cremonini, o JBS pagou 50 milhões para se tornar proprietário de 100% da marca Rigamonti - o grupo já detinha 70% do negócio, herança da compra do frigorífico Bertin, em 2009. Com o fracasso da parceria com a Cremonini, o JBS terá de recomeçar sua estratégia na Europa praticamente da estaca zero. Para se ter uma ideia de escala, o faturamento da Rigamonti equivale a cerca de 2% da receita da Inalca JBS.

Entretanto, o Estado apurou que, apesar do tempo perdido e da dor de cabeça na disputa com o sócio italiano - que envolveu a expulsão dos membros que representavam o JBS do conselho de administração da Inalca e acusações que estamparam as páginas de jornais italianos -, a sensação dentro da empresa é de alívio. "Ninguém no JBS tem noção da situação real dos números da Inalca. A gente sabe que, no balanço, todo mundo escreve o que quer. Por isso, queríamos acesso às contas da empresa em si", diz um executivo, que preferiu não ser identificado.

Com a sociedade na Inalca. que reportou faturamento de 3 bilhões no ano passado, o grupo brasileiro tinha uma plataforma de grande porte na Europa e também conseguia esticar sua área de influência para a Rússia, onde a joint venture mantinha uma fábrica de hambúrgueres. A Inalca JBS também distribuía carnes para alguns mercados africanos, como Angola e Argélia.

Com o fim da parceria, o JBS terá de desenvolver uma nova linha de produtos para a Rigamonti. Apesar de a marca ser conhecida na Itália, trata-se de uma companhia de um produto só - no caso, uma especialidade italiana feita a partir de carne bovina seca e curada, a bresaola. Aproveitando o reconhecimento que a marca já tem entre os consumidores, o JBS vai ampliar a linha da Rigamonti, que passará a ser a "cara" da empresa para os mercados italiano e europeu.

Apesar da experiência avaliada como negativa e de ter saído do negócio com prejuízo, o JBS diz que seu interesse no mercado italiano permanece intacto. A empresa atua também no setor de couros no país, e diz que seus investimentos em território italiano devem somar 100 milhões em 2011, valor no qual os 50 milhões pagos pelos 30% restantes da Rigamonti já estão incluídos. "Continuamos interessados na Itália; só tivemos azar nessa primeira tentativa. Só saímos do negócio (com a Cremonini) porque não tinha como continuar a sociedade, não havia mais uma relação de confiança", disse a fonte.

Acusações. Essa falta de entendimento ganhou contornos de disputa pública no segundo semestre de 2010, quando os dois sócios passaram a trocar acusações na mídia e nos tribunais. O JBS acusou a Cremonini de "maquiar" a origem da carne, vendendo produto francês como italiano para obter vantagens comerciais. A empresa italiana, por seu turno, acusou a contraparte brasileira de tentar acessar dados sigilosos da Inalca JBS burlando o sistema de informática da companhia.

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Além da falta de acesso aos dados, o JBS também se queixava de uma evolução anômala nos resultados da companhia. Segundo o grupo brasileiro, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) dobrou de um ano para outro. Isso seria positivo, não fosse o fato de o contrato da joint venture prever remuneração especial à sócia italiana por resultados.

Depois de lavar a roupa suja em público, a despedida entre JBS e Cremonini foi sóbria - pelo menos no teor dos comunicados divulgados por ambas as companhias. Enquanto a brasileira informou apenas a dissolução do contrato e o recebimento dos 219 milhões, a italiana aproveitou para lembrar que suas contas estão em dia e são auditadas pela Ernst & Young. A Cremonini explicou ainda que formou uma nova empresa para recomprar a parte da brasileira.

Apesar da cordialidade aparente, nos bastidores ainda resta certa animosidade. "Não sei como a Cremonini se virou para encontrar dinheiro nos bancos", disse à reportagem uma fonte próxima ao negócio

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