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Grécia recua e deverá aceitar condições impostas pela UE

Em carta, primeiro-ministro Alexis Tsipras muda o tom e afirma que o país está disposto a acatar as condições impostas para a manutenção do pacote de ajuda financeira ao país

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Por Fernando Scheller
Atualização:

ATENAS - O primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, recuou em sua posição de ataque à União Europeia em carta enviada à Comissão Europeia, ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Central Europeu (BCE). Segundo a carta, a Grécia está disposta a aceitar as condições para receber ajuda econômica, incluindo a altamente impopular reforma do sistema de pensões, mudanças na legislação trabalhista e na política tributária.

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Essa posição mais benevolente do governo grego vem acompanhada de um pedido: € 29 bilhões em empréstimos para cobrir todo o pagamento de serviço da dívida grega pelos próximos dois anos. A reação inicial do Eurogrupo à carta, no entanto, foi de desconfiança. A Alemanha se diz disposta a negociar, apesar do calote da Grécia ao pagamento de € 1,6 bilhão ao FMI, cujo prazo venceu à meia-noite de terça-feira.

A carta representa um giro radical no discurso anterior de Tsipras, que antes descrevia as condições oferecias pela UE como "humilhantes" para a Grécia. Um acordo evitaria a necessidade de um plebiscito sobre aceitar ou não as novas medidas de austeridade dos credores internacionais, marcado para domingo.

A população grega está dividida em relação ao plebiscito. Na semana passada, pesquisas mostravam o "sim" (pela aceitação das condições impostas pela UE) na frente. Hoje, o quadro já mostra a reversão desta situação, com o "não" à frente nas pesquisas.

Na terça-feira, Grécia tornou-se o primeiro país desenvolvido do mundo a não reembolsar o Fundo Monetário Internacional (FMI) no prazo previsto, juntando-se à situação de nações como Sudão e Somália. A inadimplência de € 1,6 bilhão é considerada um "atraso" pela instituição, e ainda não um calote oficial - embora esteja sendo descrevida desta forma na prática.

Drama dos aposentados. Mil agências bancárias da Grécia reabriram nesta quarta-feira para atender exclusivamente aposentados. Em alguns bancos, haverá escalonamento do atendimento para evitar longas filas. No Alpha Bank, por exemplo, serão atendidos os clientes com sobrenomes iniciados com as letras A até I. Outros dois grupos serão atendidos nos próximos dias.

Não havia grandes filas ou aglomerações nas agências visitadas pelo Estado, embora algumas aglomerações tenham ocorrido no início da manhã. Alguns clientes "comuns" (que não são aposentados ou pensionistas) até conseguiram entrar nas agências, mas não foram atendidos. O limite para saque para os aposentados sem cartão de débito é de € 120. Para os que sabem usar o atendimento eletrônico, vale a mesma regra vigente para todos os correntistas: € 60 por dia.

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No centro de Atenas, nas proximidades das principais agências bancárias da capital, um pequeno e barulhento grupo de aposentados e funcionários demitidos do Ministério da Fazenda grego se reuniu em um protesto. Os ex-faxineiros dispensados há dois anos faziam um piquete ao lado de aposentados que reclamavam o direito de tirar todo o salário do mês, em vez de ter de viver "apertados" com € 120. 

Presente à manifestação dos aposentados, o jornalista grego Mantalovas Cyris, que pertence ao partido comunista do país, afirmou acreditar que o "não" deverá vencer a eleição no próximo domingo - na manifestação que reuniu os ex-faxineiros e os pensionistas, foram distribuídos panfletos que orientavam os passantes pelo "oxi" (não) à União Europeia.

Longa crise. Em oito anos de crise, a Grécia já recebeu dois planos de resgate patrocinados pela União Europeia e pelo FMI, um primeiro em maio de 2010, no valor de € 110 bilhões, e outro em fevereiro de 2012, de € 237 bilhões.Em troca, foram adotados oito planos de austeridade fiscal que somaram cerca de € 90 bilhões em cortes de despesas e aumento de impostos.

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Nesse ínterim, a economia grega sofreu uma depressão da ordem de 30% e a dívida não parou de subir, chegando a € 321 bilhões, ou cerca de 180% do PIB. Segundo comerciantes gregos ouvidos pelo Estado, a situação piorou nos últimos cinco anos. 

"Tudo estava indo bem até cinco anos atrás", afirma Maria Mougogianni, dona de uma loja de vestidos em uma área turística da cidade. "Agora, as vendas, que já estavam ruins, pioraram ainda mais." A loja da família de Maria foi aberta há 30 anos por sua mãe, Theodora, que ainda ajuda a tocar o negócio. "Eu não quero a volta do dracma (antiga moeda grega), mas também não quero fazer o que a Alemanha quer."

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