BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, comemorou o fim da recessão, mas não descarta a possibilidade de que a economia volte a mostrar alguma fraqueza no segundo trimestre. Meirelles reafirmou a previsão de que a economia brasileira crescerá 0,5% no ano de 2017 e terminará o quarto trimestre com ritmo de expansão de 2,7% na comparação ante igual período de 2016.
O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 1,0% no primeiro trimestre deste ano em relação ao quarto trimestre de 2016 e interrompe um ciclo de oito quedas trimestrais consecutivas, segundo o IBGE.
"Sim, a recessão acabou. Não há duvida", disse. O ministro da Fazenda notou, porém, que quando um país "retoma o crescimento não é uma linha reta". Meirelles explicou que em momentos de volta ao crescimento ou início de recessão é comum que trimestres seguidos mostrem comportamento não linear. Ou seja, há comportamento com uma tendência em um trimestre e outro movimento no período seguinte. "Ele (o PIB) sobe muito, depois dá uma ajustada, uma acomodada para depois voltar a subir".
ENTENDA: O que é o PIB e como ele é calculado?
Para o economista-chefe e estrategista da Azimut Brasil Wealth Management, Paulo Gomes, a alta do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre é um resultado positivo, pois tira o País da recessão técnica, mas ainda não dá para ser comemorado, já que o crescimento não é disseminado pelos setores econômicos, além de o avanço acontecer sobre uma base muito baixa, após oito trimestres de retração.
"Não dá para comemorar, até porque ainda temos 14 milhões de desempregados e o PIB ainda caiu 0,4% ante o mesmo período do ano passado. Mas dá algum alívio. Com a queda dos juros, o País deve crescer, mas vamos levar muito tempo para recuperar o nível anterior à crise. Ainda estamos no buraco, embora tenhamos deixado de cair", diz Gomes.
Segundo ele, o alívio com a alta do PIB na margem pode, contudo, não durar muito tempo, principalmente devido às incertezas políticas atuais. No segundo trimestre, um recuo frente ao período de janeiro a março tem 60% de probabilidade de acontecer, conforme Gomes, em função do menor efeito do PIB agropecuário, que foi o grande destaque desta leitura, com crescimento de 13,4%. "Mas acho que é cedo para dizer que vamos voltar à recessão no segundo semestre [trimestres seguidos de recuo no PIB], vai depender muito dos fatores políticos. A tendência é que a própria alta observada agora dê mais confiança que evite a retração no 3º trimestre", explica.
Para o economista da Canepa Asset Management, Carlos Macedo, o segundo trimestre, apesar de não ter ainda tido tempo de refazer o os cálculos para ter um número exato, também espera um dado fraco. A explicação, de acordo com Macedo é o maior grau de incerteza política que se instalou no País em decorrência da gravação feita delação da JBS. Para ele, o PIB do segundo trimestre vai refletir a crise que levou ao arrefecimento ainda maior da economia no mês de maio.
O economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, avalia que os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre vieram, no geral, bons, mas a crise política pode atrapalhar o cenário de recuperação da economia. Se o imbróglio em Brasília se prolongar, a expansão do PIB pode ficar perto de zero em 2017.
Schwartsman ressalta que sem a enorme contribuição do agronegócio, o crescimento não teria sido o divulgado hoje, de 1% na comparação com o quarto trimestre de 2016. "No geral, o PIB veio bom", disse a jornalistas, destacando que ainda faltam sinais de recuperação na demanda doméstica. Uma recuperação mais persistente vai depender da capacidade de reação desta demanda, ressaltou ele.
Meirelles reafirmou, porém, que a expectativa é de crescimento para o conjunto do ano. "O que nós esperamos é que, durante o decorrer do ano, continue a crescer e chegaremos ao final do ano com ritmo de crescimento sólido de cerca de 3% ao ano", disse.
Durante a entrevista antes de almoço da Associação Nacional de Jornais (ANJ), o ministro reafirmou a previsão de crescimento de 0,5% no ano e expansão 2,7% no último trimestre do ano na comparação ante igual período de 2016.