Diarista, viu a situação apertar quando passou a perder clientes. “Hoje em dia ninguém paga a minha passagem toda. Tem dias que eu pego o BRT, o trem e depois ando para economizar a outra passagem.”
Ela mora com o filho caçula, que está terminando o ensino médio e quer cursar Serviço Social. “Não tenho esperança que ele consiga bolsa no ProUni. Teve corte, né? É mais certo o desconto para negros que tem numa universidade. Vai ser mais uma conta para pagar.”
Mesmo com as dívidas, Jane ainda prefere o condomínio. Ex-moradora no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, na zona norte, enfrentava tiroteios quase diários. “Um dia corri com a polícia e caí: tinha enfartado.”
A diarista Nádia da Silva Constança, de 51 anos, também viu as faxinas encolherem e as dívidas saltarem. “Pobre é metido a ter cartão de crédito e se enrola todo, né? Esperei dez anos o sorteio deste apartamento. Quando veio, cortaram o Minha Casa Melhor. Fiz crediário, mesmo. Agora pulo daqui, pulo dali para conseguir pagar: vendo Avon, calcinha, roupa, faço faxina.” Nádia diz que está difícil achar quem pague a diária de R$ 150. Às vezes, me chamam: “Dá para arrumar só a cozinha?”.
A filha adolescente passa a semana na casa de um tio. Quer cursar o ensino médio em escola militar e faz preparatório. “Quando ela chega, quer assar um bolo. Eu deixo, né? Não vou reclamar que está gastando gás. O cursinho custa R$ 100. Às vezes, atraso uma conta para pagar outra. Mas sempre pago o curso dela.”