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Argentina importa pesos do Brasil

Com a inflação em alta, faltam notas de 100 pesos e o governo argentino encomenda a produção do dinheiro para a Casa da Moeda brasileira 

Por Ariel Palacios e correspondente de O Estado de S.Paulo
Atualização:

BUENOS AIRES - Os argentinos terão nas mãos nas próximas semanas pesos argentinos, embora "made in Brazil". Isso ocorrerá com as notas de 100 pesos, a cédula de maior valor em circulação no país. O motivo da medida inédita é a falta dessas notas. O Banco Central argentino está sofrendo os efeitos práticos da alta da inflação. A saída para evitar problemas na temporada de fim de ano - quando essas cédulas são mais requeridas - foi encomendar as notas para o Brasil. Foi criada uma União Transitória de Empresas (UTE) com a Casa da Moeda do Brasil para garantir a entrega de remessas de notas de 100 pesos, que serão impressas no Rio de Janeiro com fiscalização de técnicos de Buenos Aires. As notas de 100 pesos, coincidentemente, ostentam a efígie do presidente Julio A. Roca, o primeiro presidente argentino que visitou o Brasil, em 1899. A Casa da Moeda da Argentina não quis divulgar o volume de notas que serão impressas no Brasil. Mas tentou colocar panos quentes na medida afirmando que trata-se de "um volume marginal". Com equipamento antiquado, dos anos 90, não consegue atender à demanda existente pela cédula. O Banco Central da Argentina, para tentar driblar a situação, está recolhendo notas velhas com menor velocidade. O economista Ricardo Delgado, da consultoria Analytica, afirmou ao Estado que ao longo desta última meia década as notas de 100 pesos sofreram uma desvalorização superior a 50%. "Por esse motivo existe necessidade de notas com números mais elevados", explica. O senador Pablo Verani, da União Cívica Radical (UCR), de oposição, fez um apelo para que o governo emita notas de 200 pesos. Outros integrantes da oposição também pedem notas de 500. No entanto, o governo da presidente Cristina Kirchner - que nega a existência de uma escalada inflacionária - rejeita a ideia de emitir cédulas de 200 ou 500 pesos. Em 2005 - antes do início da escalada inflacionária -, as notas de 100 pesos constituíam 35% do total de notas em circulação na Argentina. Ontem, o ministro da Economia, Amado Boudou, relativizou a preocupação sobre a inflação. "Não é um assunto", disse. Depois, emendou: "Talvez afete uns setores das classes média e alta, mas não os pobres". O governo é acusado de manipular os índices de inflação desde janeiro de 2007 por intermédio do Instituto de Estatísticas e Censos (Indec). Em setembro, o organismo anunciou que o índice de inflação foi de 0,7%. Mas economistas independentes e organizações de defesa dos consumidores afirmam que o índice "real" desse mês oscilou entre 1,6% e 1,8%. Segundo o governo, a inflação acumulada desde janeiro foi de 8,3%. Para a consultoria Ecolatina, porém, a inflação nos nove meses chegaria a 19,6%. Economistas afirmam que 2010 será encerrado com uma inflação que oscilará entre 25% e 30%. Mas, o governo sustenta que não passará de 9,9%. Uma pesquisa feita pela Universidade Di Tella indica que a população argentina acredita que a inflação acumulada dos próximos doze meses será superior a 30%.

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