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Atenção redobrada ao estresse

Em época de crise, a atenção ao estresse dos profissionais precisa ser redobrada nas empresas. Estudos realizados pela Escola de Saúde Pública de Harvard mostram que o estresse provocará, nos próximos 20 anos, a perda adicional, no mundo, de US$ 16 trilhões, impactando negativamente na produtividade econômica das nações e na qualidade de vida das pessoas. No Brasil, estima-se que questões relativas à saúde mental dos profissionais provocam a perda de 3,5% do PIB, e pesquisas indicam que 70% dos trabalhadores estão estressados.

Por Sérgio Amad Costa
Atualização:

No caso do nosso país, esses dados apresentados se referem ao período normal da economia. Mas agora, com a crise econômica e política amaldiçoando a Nação, o grau de estresse no trabalho está aumentando ainda mais, tanto para os que ocupam cargos elevados na estrutura hierárquica das organizações quanto para os que desempenham funções operacionais.

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No que diz respeito aos executivos, em geral, o clima infausto que se instalou na nossa economia tem feito com que gastem, no trabalho, mais de 60 horas por semana. E o pior: horas dedicadas para lidar com situações, muitas vezes, destinadas ao fracasso. Ou seja, enfrentar o desafio de entregar resultados positivos para a empresa num contexto de economia profundamente recessiva.

Pois bem, a atenção das empresas para essa situação do seu corpo de executivos, nesta época de crise, deve ser acurada. O estresse gerado nesses profissionais trabalhando exageradamente, dormindo pouco e muito preocupados com a situação do País traz a possibilidade de uma queda significativa em termos de produtividade, além da deterioração na qualidade de vida. Em vez de tomarem as melhores decisões para a companhia, a tendência desses executivos nesse estado de estresse é adotarem medidas organizacionais equivocadas.

Vale citar o Fórum Econômico de Davos, ocorrido em janeiro deste ano, em que palestrantes especializados em questões de saúde mental no trabalho advertiram que estimular entre os executivos a cultura de excesso de trabalho, valorizada em época de crise, é contraproducente. Trabalhar de forma exagerada equivale a ir bêbado para o escritório. Recomendam dormir, cumprindo o sono necessário, pois apenas 1% da população tem a disposição genética que lhe permite menos de sete horas de sono.

Quanto aos empregados em cargos operacionais, na maioria dos casos, a jornada de trabalho continua sendo a mesma da de épocas em que o Brasil estava melhor economicamente. Mas o ambiente de trabalho, para muitos desses profissionais, piora a cada dia. As equipes são menores, eles temem a perda do emprego e estão cientes de que o País está andando para trás. Acrescentam-se ao cotidiano deles várias outras amarguras oriundas da crise. O resultado dessa danação generalizada é a elevação do grau de estresse desses trabalhadores.

Reduzir o nível de estresse dos colaboradores no meio desta crise é tarefa extremamente difícil para a empresa. Mas ela precisa ser encarada, visando à produtividade e também à qualidade de vida de seus empregados. Para isso, vale rever processos que estão inadequados; comunicar aos empregados os rumos que a companhia está tomando para enfrentar a situação do País; verificar as sobrecargas de trabalho; ampliar o grau de participação dos profissionais, permitindo sugestões de melhorias; ampliar a autonomia, para busca de resultados; eliminar as ambiguidades nas orientações da chefia; e rever as atribuições de responsabilidades, levando em conta as competências de cada um.

Essas são medidas que podem ser adotadas para minimizar o estresse no trabalho, que se aguça em tempos de crise. Redobrar os esforços para combater essa doença não resolverá todos os problemas da empresa, pois eles são gerados hoje por fatores preponderantemente externos à companhia. Mas é uma forma de elevar a produtividade e não deixar deteriorar a qualidade de vida de seus profissionais. Já é grande coisa para os dias funestos de hoje.

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* Professor de recursos humanose relações trabalhistas da FGV-SP

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