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Atrasos afetam 36% da energia prevista

Volume de energia que o governo esperava adicionar ao parque elétrico do País entre janeiro e julho não se efetivou por causa de atrasos no cronograma de obras de hidrelétricas

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Por André Borges
Atualização:

BRASÍLIA - A frustração da entrega de energia prevista para este ano tem ajudado a complicar ainda mais a situação do setor elétrico, que tem se apoiado no acionamento pleno das usinas térmicas para garantir o abastecimento. Ao todo, 36% do volume total de energia que o governo esperava adicionar ao parque elétrico entre janeiro e julho de 2014 não se confirmou. De janeiro a julho deste ano, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) previa que 3.820 megawatts (MW) de geração firme (carga efetivamente entregue pelas usinas) fossem adicionados ao sistema nacional. A realidade, porém, é que 2.417 MW foram efetivamente entregues no período, conforme acompanhamento mensal feito pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Os dados compilados pela consultoria PSR, especializada no setor elétrico, evidenciam a dificuldade do governo para cumprir metas de geração estipuladas no curto prazo, já que não entram nessa conta empreendimentos que já acumulam grandes atrasos, mas somente usinas que, até janeiro deste ano, prometeram à Aneel entregar determinado volume de energia nos meses seguintes. Os atrasos têm obrigado o ONS a ser mais realista quanto ao início efetivo de operação das usinas, em vez de seguir os prazos apresentados pela Aneel. A distância entre as projeções dos dois órgãos federais pode ser verificado em quatro hidrelétricas em fase de construção que ainda não acionaram nenhuma turbina. É o caso de Belo Monte (PA), Teles Pires (MT/PA), São Roque (SC) e Baixo Iguaçu (PR). Um ano depois. Apesar de o atraso de Belo Monte ainda ser tema de discussão entre a Aneel e o consórcio Norte Energia, dono da hidrelétrica, o ONS já considera que o início de operação da casa de força complementar da usina, previsto para março 2015, ocorrerá com um ano de atraso. A usina de Teles Pires, prevista para operar em abril do ano que vem, já foi reprogramada pelo ONS para julho de 2015. Para a consultoria PSR, é grande o risco de os prazos se dilatarem mais. "Nossa avaliação leva em conta não apenas o empreendimento em si, mas o histórico do setor, das linhas de transmissão, entre outros fatores", diz Bernardo Bezerra, gerente de projetos da consultoria. De 36,4 mil megawatts de nova capacidade prevista para entrar em operação até 2018, os riscos de atraso apontados pela Aneel já contaminam 9 mil MW, suficiente para abastecer 80% do consumo residencial do País. Os estragos financeiros causados pelos atrasos foram contabilizados pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Um processo julgado ontem estimou um prejuízo de R$ 8,3 bilhões ao País entre 2009 e 2013, pelos atrasos crônicos em projetos de geração e transmissão. Para pagar parte da conta, lembrou o TCU, o governo tem recorrido sistematicamente a aportes do Tesouro Nacional. Os dados apontam que 79% das hidrelétricas leiloadas entre 2005 e 2012 não cumpriram o cronograma, com atraso médio de oito meses. Nas eólicas, o índice de atraso chega a 88%, com média de dez meses. Nas térmicas, 75% atrasaram, em média, 11 meses. Nas pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) - usinas de até 30 MW - o porcentual foi de 62% de descumprimento de prazo.

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