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Azevêdo: 'É mais simples culpar produto importado pelo desaparecimento do emprego'

Para diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo, nova revolução tecnológica tem transformado a produção e pode estar por trás do descontentamento de líderes mundiais

Foto do author Célia Froufe
Por Célia Froufe (Broadcast)
Atualização:

LISBOA- O diagnóstico de que os impactos negativos sobre economia são gerados fora dos países está errado e, por isso, os "remédios" também têm se mostrado equivocados, na avaliação do Diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo. Para ele, é a nova revolução tecnológica que tem transformado a atividade e a produção em todo o mundo é que pode estar por trás do descontentamento de alguns líderes políticos, que ainda não se deram conta dessa questão.

RobertoAzevêdo afirmou queé preciso adaptar as políticas nacionais ao século 21 Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino

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"É mais simples culpar o imigrante ou o produto importado pelo desaparecimento do emprego", afirmou nesta terça-feira, 3, durante o VI Fórum Jurídico de Lisboa - Reforma do Estado Social no Contexto da Globalização, realizado pelo Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP) e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) na capital portuguesa. A avaliação que se vê hoje é perversa, conforme o diplomata, porque leva ao nascimento de sentimentos nacionalistas e até da xenofobia. "Isso não é em um país, isso está acontecendo no mundo inteiro. Tenho certeza que vocês estão pensando: 'é aquele país", mas não, isso é no mundo inteiro", disse, numa alusão aos Estados Unidos e às ações protecionistas tomadas recentemente pelo presidente norte-americano Donald Trump, sem citar sequer uma vez o país e o nome do republicano. "O diagnóstico está errado, então o remédio está errado. Não é de fora que vem o problema. O problema está dentro de casa e é preciso adaptar as políticas nacionais ao século 21", comentou.+ Brasil pode ir à OMC contra União Europeia por barreira ao frango Para o diretor da OMC, o mundo vive hoje um momento delicado, com tensões comerciais entre grandes economias. Mais uma vez, ele não fez referências diretas, mas a decisão do presidente da maior economia do globo, de sobretaxar importações de aço (em 25%) e de alumínio (10%), tem como foco principal a China, que ocupa hoje a vice-liderança econômica do planeta. "A situação é preocupante porque, provavelmente, estamos vendo apenas começo desses atritos", disse. Durante a palestra, ele considerou que a escalada desses atritos terá consequências grandes para o mundo e que, por isso, é preciso evitá-la. "Talvez ainda tenhamos tempo para evitar essa escalada, mas, para isso, é preciso que as linhas de comunicação estejam abertas, que haja vontade fidedigna", defendeu. Uma atuação deve ocorrer, de acordo com o diretor, antes que seja desencadeado um "efeito dominó" de difícil reversão em todo o mundo.+ Para Azevêdo, avanço do protecionismo é uma preocupação real Azevêdo salientou que o sistema mais global de comércio e a OMC foram criados depois da Segunda Guerra com a lógica de promover a economia internacional e a estabilidade política. "Essa lógica contou com sete décadas de cooperação e está sendo questionada hoje, de forma consciente ou não", observou. Por isso, de acordo com ele, é importante responder a ameaças imediatas, mas entender o motivo que tem gerado essas tensões. Para o diplomata brasileiro, os avanços tecnológicos são inevitáveis e não são uma novidade. "Quando se criou a roda, carregadores perderam a utilidade", ilustrou. A diferença hoje, de acordo com ele, é a velocidade com que as mudanças ocorrem. Azevêdo previu, porém, que a tendência é de maior aceleração. "Não temos que desacelerar ou impedir as mudanças. Elas vão existir. Ser a favor ou contra a globalização é irrelevante. É como ser contra a respirar", comentou.

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O tema também é tratado dentro da OMC, conforme seu principal dirigente. O executivo lembrou que apenas recentemente a instituição passou a tratar, por exemplo, o comércio eletrônico como um de seus temas. A demora em muitos casos, de acordo com ele, é porque as decisões na Organização têm de ser tomadas por consenso. "Na OMC, estamos tentando fortalecer o sistema. Nunca recebemos tanto apoio quanto nos últimos tempos", disse, acrescentando que a instituição não está parada, como dizem alguns críticos.

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